Prefeito pede que Ministério da Saúde revise critérios para distribuição das primeiras doses de vacina contra a dengue a serem enviadas ao Rio Grande do Sul na próxima semana
Antes que opinião a seguir abra uma hecatombe vacinal entre Canoas, a filha, e Gravataí, a mãe, importa dizer que não há qualquer desamor mútuo nessa relação — da minha parte, pelo menos, mas acredito que na do prefeito Jairo Jorge também não.
Na sexta, 26, ele enviou ofício ao Ministério da Saúde pedido uma revisão nos critérios para distribuição das primeiras doses da vacina contra a dengues que chegarão ao Rio Grande do Sul no início da próxima semana. O governo federal informou que a região 10, de Gravataí, será a contemplada. Canoas, que fica na Região 8, fica de fora.
“Exigimos uma resposta do Ministério da Saúde uma explicação sobre os critérios escolhidos. Como Canoas, que está em situação muito mais grave que a da região contemplada com as vacinas, não recebeu as doses? A prioridade para definição dos municípios que recebem as vacinas deve ser o número de casos confirmados e os óbitos”, disse Jairo Jorge.
Tem razão o prefeito.
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No restante do Brasil, o critério número 1 foi contágio e óbitos. Onde a doença estava se espalhando mais, a vacina chegou primeiro. Isso explica porque o Rio Grande do Sul só vai receber uma remessa de vacinas agora enquanto Minas Gerais e o Rio de Janeiro já estão imunizando a população desde meados de fevereiro, pelo menos — lembrando que toda a produção da vacina foi comprada pelo governo e não há como garantir mais quantidade para distribuir igualmente para todas as regiões do país.
O critério do Ministério da Saúde é ‘mecânico’, por assim dizer. A região 10 de Saúde no RS é que está inserida Porto Alegre, a mais populosa cidade gaúcha. Os dados epidemiológicos indicam que a região é a mais suscetível ao surto de dengue e, portanto, a vacina cabe bem ali, certo? Errado. Na prática, a dengue se espalhou pelo Estado de forma diversa do ano passado. E os dados inseridos no sistema do Ministério da Saúde sobre contágio e óbitos não são os mais atualizados.
Diariamente, ouvidos explicações sobre isso: Porto Alegre, por exemplo, tem um sistema próprio de notificação. Outros municípios fazem isso a partir de dados compilados de fichas manuais, digitados no sistema ao final de um dia de trabalho — sujeitos a atrasos, erros e subnotificação, por exemplo.
Nesse quadro, provavelmente não seria Porto Alegre e a região 10 a prioridade no recebimento das primeiras doses da vacina. Canoas vem se empenhando em adiantar o atendimento dos casos com a montagem do hospital de campanha — que, aliás, começou a funcionar neste sábado, 27, pela manhã —, horário estendido nos postos onde os casos são mais frequentes e aumento da testagem, entre outras medidas. Mas a vacina, por óbvio, pode encurralar o avanço do vírus.
Ela, por si só, não é a garantir de que a dengue será estripada da nossa realidade nem o salvo-conduto para que deixemos a limpeza dos pátios, a eliminação dos focos e o cuidado com a frequência do mosquito de lado. Mas é a chance de salvamos vidas daqueles que não terão a chance de tomar todos esses cuidados daqui por diante.
Diferente da Covid-19, a dengue é uma doença em que a nossa vigilância individual faz uma enorme diferença. Se na pandemia um espirro dentro de um ônibus era suficiente para o contágio, agora é o mosquito que importa. Eliminar os focos, usar repelente — especialmente em crianças e idosos — e inseticida dentro de casa funciona. Sem mosquito, não tem dengue.
Cuide-se.
E goste dele ou não, torça para que JJ consiga antecipar a vinda da vacina. Qualquer um de nós pode precisar.