Presidente do DEM não bebe da mesma água servida à fusão de Democratas e PSL, sacramentada nesta quarta – e tem seus motivos
Rodrigo Mota, músico e jornalista que é a cara do DEM em Canoas, não gostou nada da decisão da cúpula nacional do partido tomada nesta quarta-feira, 6, que anunciou a fusão com o PSL. Braços dados com Onyx Lorenzoni e sua candidatura ao Piratini, Mota e a maioria do DEM local aguardam o rumo que Jair Bolsonaro dará à vida partidária e, então, seguirão pelo mesmo caminho. "Estamos com Bolsonaro", diz.
A frase é mais simbólica do que parece.
Vale lembrar que o PSL foi o berço da chegada do bolsonarismo ao poder, em 2018. Paradoxalmente, foi a partir da chegada ao governo que as relações internas implodiram na sigla. Bolsonaro, que é de levar desaforo para casa, saiu do partido assim que deixou de ouvir o 'sim, senhor' de Luciano Bivar, todo-poderoso presidente do PSL e deputado federal. O partido com uma das maiores bancadas do Congresso é visto como um 'saco de gatos' ideológico, amarrados, até 2018, pela bombástica candidatura do capitão e, de 2018 para cá, por arranjos locais e acordos de cúpula que explicam mais a sobrevivência política de seus dirigentes do que um rumo ideológico claro.
O DEM, reputo, é diferente. Ideologicamente, é o berço da 'direita que pensa o país', embora sua história seja marcada por escolhas pragmáticas, muitas vezes – ou difíceis de explicar, por outras. Nasceu do antigo PFL, que era parte a parte progressista da Arena, partido que deu sustentação política ao regime militar de 64 a 85. Como disse antes, ao contrário do PSL, o DEM em ideologia e sabe o valor do que pensa.
Para PSL e DEM, a fusão tende a ser boa. O PSL emprestará o tamanho que o DEM nunca teve e o DEM dará pensamento político que, vez ou outra, enrolou as pernas do PSL. Mas o que parece bastante para cúpula nacional, é pouco para o DEM de Canoas – e do RS, como um todo.
"Fomos o único Estado que votou contra essa decisão", conta Mota.
Primeiro porque tanto DEM como o PSL romperam com Bolsonaro. A fusão entre eles deve bancar a candidatura do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta à presidência da República no ano que vem. Segundo, porque é em Onyx que o DEM gaúcho se balisa: e o ministro, faça o que fizer, não largará a mão do capitão.
É por isso que, hoje, Rodrigo Mota, o DEM de Canoas e do Rio Grande do Sul dependem da decisão que Bolsonaro vai tomar para saberem o que os espera nesse horizonte sempre revolto que é a política brasileira.