Grupo que assumiu a gestão do hospital ainda está às voltas com a contratação de pediatras que ‘sumiram’ do mercado há anos
Consolidada a Intervenção no Hospital Universitário, a comissão que assumiu a gestão do HU ainda não conseguiu compor completamente os plantões pediátricos na emergência da instituição. De 27 de maio para cá, é bem verdade, apenas um turno ficou sem médico especialista por lá – na noite de segunda, 6, para terça, 7 – e os pacientes foram orientados à buscar atendimento nas UPAs Boqueirão e Rio Branco.
No setores de internação, não houve falta de pediatras. O problema está concentrado, portanto, no plantão da emergência à noite, especificamente.
Mas por que isso acontece?
A explicação não é simples. Começa pelo fato de que pediatras são ‘artigos raros’ no mercado médico, hoje em dia. Enquanto o SUS repassa para as prefeituras algo em torno de R$ 11 por consulta, um médico com essa especialidade ganha facilmente R$ 200 no setor privado – e, não raro, bem mais do que isso. Mesmo que governos estaduais e municipais complementem o valor pago aos profissionais – e todos complementam -, ainda há uma enorme disparidade de rendimento para quem atende o público pelo público e quem trilha o seu caminho no setor privado.
Não fosse só isso, temos uma situação de crise no HU que se arrasta por anos a fio: Gamp, contratos emergenciais, empresas que entram e saem e acabam, inevitavelmente, deixando um passivo como legado. Semana passada, um representante do Sindicato Médico confirmou em uma entrevista à Real News que há um comentário corrente entre médicos que enxergam com desconfiança a relação que se estabelece em Canoas; eles tem medo de trabalhar e não receber – e isso estaria afastando os profissionais do HU a ponto de, na noite de segunda para terça, não ter pediatra nenhum no plantão.
A grande missão política da Comissão de Intervenção, me parece, é inverter essa lógica. Quais garantias o governo pode dar para que os médicos não temam moratórias com o próprio salário? E aos médicos, o que é preciso para uma nova relação, baseada na transparência e confiança, possa emergir disso tudo?
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