Política

CANOAS | Onde fica Busato na crise do PTB: olha a lambança que Roberto Jefferson faz quando mexem no queijo dele

Ex-prefeito ainda não comentou sua posição diante da crise no PTB gaúcho, mas já falou com o governador Eduardo Leite. Foto: Arquivo/Seguinte:

Se fosse tudo resolvido hoje, Luiz Carlos Busato, por exemplo, estaria mais perto do ninho tucano do que dos pelegos trabalhistas

As últimas 24 horas viraram o mundo do PTB de cabeça para baixo aqui no Estado, com reflexos para os personagens petebistas em Canoas. E como em política uma crise instalada é sempre uma porta de saída, ninguém duvide de uma debandada geral no partido que um dia abrigou nomes como Leonel Brizola, João Goulart e o ex-presidente Getúlio Vargas.

 

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O cheiro do fogo no parquinho subiu na sexta, 12, quando o presidente nacional do partido, Roberto Jefferson, deu uma entrevista ao jornalista Milton Cardoso, da Band, salgando o charque da relação entre o PTB gaúcho e o governador Eduardo Leite (PSDB). Jefferson, aquele que dispensa apresentações. Com discurso preconceituoso, negacionista e homofóbico, pôs uma flecha sobre a cabeça do vice-governador, Ranolfo Vieira Jr., ex-secretário de Segurança de Canoas: mantendo-se no partido, avalizaria a fala de Jefferson; para ficar ao lado de Leite, deveria deixar o PTB inequivocamente.

Ranolfo foi indicado vice na chapa de Leite em 2018 em uma articulação liderada pelo então prefeito de Canoas, Luiz Carlos Busato, na época presidente do PTB gaúcho. Levou seu homem de confiança na Segurança Pública para ser o homem de confiança de Leite na área. E, claro, com o aval de Roberto Jefferson, com quem Busato sempre teve uma relação cordial, apesar de não muito próxima.

Conto isso para lembrar como a política dá voltas, mas também para dizer que a fala de Roberto Jefferson, na sexta, nada tem de expontânea. Ao contrário, foi de caso pensado que desferiu os impropérios que disse sobre o governador. O presidente do PTB é o mais notório integrante da tropa de choque do presidente Jair Bolsonaro – inclusive o convidou para engrossar fileiras e concorrer a reeleição pelo partido em 2022. Visto que Eduardo Leite já treina o cavalo para o páreo presidencial no ano que vem, Jefferson prontificou-se para o serviço de desgastá-lo criando uma crise inédita dentro da calmaria que PTB vive nos pampas meridionais.

Ranolfo pagou para ver. Sete da manhã desta segunda-feira, 15, o ex-delegado gravou do pátio de casa, em São Leopoldo, um vídeo em que se afasta de Jefferson e admite, pela primeira vez, deixar o partido. Era o 'bode na sala' para o PTB gaúcho decidir se ficava com Jefferson em sua aventura bolsonarista ou ao lado de Ranolfo e dentro do governo Eduardo Leite.

É aí que Busato volta à articulação. Com o crachá de ex-presidente do PTB, conversou com a bancada sobre uma nota, emitida em conjunto mais tarde, assinada por todos os deputados estaduais e federais e pelo presidente regional, Luiz Augusto Lara, desautorizando Roberto Jefferson. A essa altura, ele já havia 'expulsado' Ranolfo do PTB em uma declaração pelo Twitter e se esperava que todos apoiassem o vice-governador, não se fez de rogado. Pouco depois das 17h, anunciou a cassação do diretório e da executiva do partido no Rio Grande do Sul e nomeou outro ex-presidente do PTB como novo comandante de suas forças em solo gaúcho: Edir Oliveira, ex-deputado federal e ex-prefeito de Gravataí.

Diante do novo cenário, o PTB inteiro efervesceu. Conversas prometem varar a noite conjecturando alternativas à crise instalada. Há quem defenda uma imediata retirada com destino ao PSDB. O mais provável, no entanto, seria uma retirada em bloco para que cada um seguisse um caminho mais conveniente, inclusive sobre a a eleição do ano que vem. O gesto garantiria o apoio a Ranolfo e a Eduardo Leite, mantendo intactos os espaços do então PTB no governo, indepentende dos partidos para os quais os parlamentares da sigla forem na sequência. Entre elas, a já anunciada nomeação de Luiz Carlos Busato para a Secretaria de Articulação com os Municípios.

Busato conversou ao longo do dia com Eduardo Leite, que agradeceu o apoio – ficando no PTB ou saindo, o ex-prefeito mantém o prestígio que conquistou com o governador e seguirá no governo com ele. Se Ranolfo já está com um pé no PSDB, ainda não dá para dizer o mesmo de Busato. Procurado pelo blog, o ex-prefeito ainda não comentou sua posição diante da crise no PTB gaúcho.

Não dá para descartar, no entanto, uma disputa judicial pelo comando gaúcho do PTB. Não seria uma grande novidade. Em 1979, com a chegada da anistia e a abertura política, dois grupos foram ao Tribunal Superior Eleitoral reivindicar o domínio da sigla. Leonel Brizola perdeu aquela disputa para Ivete Vargas, que representava a família do ex-presidente Getúlio Vargas e queria seguir o projeto trabalhista iniciado pelo pai. Brizola, então, fundou o PDT, desistindo de uma briga que levaria anos e não levaria ninguém à vitória, demonstrando que, em política, uma crise sempre pode ser uma porta de saída.

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