Recesso no parlamento é o tempo para conformação de novas maiorias na política canoense, mas dessa vez, sem a ideia de imutabilidade
Desde a negativa ao impeachment do vice-prefeito, Nedy de Vargas Marques, no início de julho, há uma expectativa sobre o que será a base do governo Jairo Jorge na Câmara, sobre a performance da oposição que se conforma e se teremos uma bancada ‘independente’, que ora vota com o paço, ora se opõe a ele.
Arrisco a dizer que a coisa está mais complexa do que isso, desta vez.
Quem olha de fora, não verá blocos tão estanques, imutáveis. A política no próximo período desse assumir um caráter de ‘mobilidade’ entre os grupos conforme o avanço da pauta e a proximidade das definições que envolvem 2024. O trânsito entre nomes ligados ao governo e aos assumidamente de oposição será mais frequente. Vereadores dão claros sinais de que não querem amarras; e isso tem a ver com o ‘risco Copa Livre’, mas especialmente com as eleições e a segurança que cada um procura para ir às urnas em outubro do ano que vem.
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Sobre a Copa Livre, primeiro. Processos foram federalizados e estão nas mãos do juiz federal Danilo Pereira Júnior, substituto da desembargadora federal Salise Monteiro Sanchotene, que está cedida ao Conselho Nacional de Justiça até o final de dezembro deste ano. O juiz Danilo Pereira é o mesmo que absolveu recentemente JJ em caso envolvendo o Pronto Socorro de Canoas, o HPSC. Ele completa a 7ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, o TRF4, e será responsável pela decisão sobre o pedido de afastamento do prefeito reiterado pelo Ministério Público Federal na quarta-feira da semana passada, dia 19. Não há prazo para esta decisão.
A expectativa sobre isso, no entanto, é imediata.
Vereadores que hoje se associam ao governo mantém abertas portas de diálogo com a oposição, hoje representada pela figura do vice, Nedy – que, obviamente, sustenta a narrativa de que voltará ao comando do governo em breve. Parlamentares da base querem embarcar nesse novo governo Nedy, caso aconteça, sem tirar os pés da canoa de JJ, que é a realidade do momento. O ‘vamos com a maioria’, que se ouviu durante a sessão do impeachment naufragado, é repetido agora pelos corredores do parlamento – mas, por maioria, entenda ‘governo’; seja ele o governo de quem for.
Nesse quadro, o bloco pró-governo deve contar com algo entre 11 e 12 vereadores em sua base de apoio – formado a partir de divisões no PSD, PT, MDB e até o PTB; e o PP, o único que chega inteiro nessa conversa. A Oposição seguirá com três: esta sim, bem definida, entre os vereadores Juares Hoy (PTB), Cézar Mossini (MDB) e Abmael (Solidariedade). Há ainda um bloco intermediário, formado pelos vereadores Márcio Freitas (Avante), Leandrinho (PSD) e Adriano Agitasamba (PL). Restam dois para completar os 21 – e são os que ‘vão pela maioria’ – notadamente, Gilson Oliveira (Avante) e Maria Eunice (PT).
Eunice, importante que se diga, não está nessa por ‘murismo’. Sua posição sequer é contrária a JJ. Para ela, no entanto, o PT precisa ‘namorar’ mais a ideia de uma candidatura própria no ano que vem – o que na visão do grupo que ela representa internamente no partido, é incompatível com a adesão incondicional representada por seu companheiro de sigla, Emílio Neto, líder do governo na Câmara, e Cris Moraes (PV), ligado aos petistas pela federação que elegeu Lula em 2022.
CPI, novo impeachment, crise institucional: o que vem por aí?
Enquanto a oposição não contar oficialmente com pelo menos sete vereadores, os riscos de formação de uma CPI ou uma nova processante são bem remotos. A Copa Livre no TRT4 ou um novo terremoto político podem determinar mudanças, é claro, na disposição da Câmara para uma nova ‘caça às bruxas’ – desta vez, contra JJ.
Os vereadores, no entanto, não confirmam a hipótese.
Se algo restou nas mãos do parlamento com a derrubada do impeachment do vice foi o empoderamento desses novos ‘blocos móveis’ e eles só tomarão forma definitiva diante de um caso concreto que exija decisão imediata.
Em outras palavras, a política em Canoas voltou a ser a nuvem que Ulysses Guimarães bem definou no final dos anos 80: quando se olha de novo, ela já está diferente.
2024 é logo ali
Com a proximidade do ano da eleição e uma já bem alinhada parceria entre Jairo Jorge e Luiz Carlos Busato (União Brasil) que devem indicar uma chapa conjunta para a sucessão, partidos e lideranças políticas se concentram na eleição para Câmara, majoritariamente. Há os que querem romper a barreira, por óbvio – Márcio Freitas, por exemplo. E é preciso considerar a candidatura de Nedy, cada vez mais impelido às urnas.
A maioria dos demais vereadores deve concorrer à reeleição.
E isso os faz parte interessada nas composições de governo e oposição para escolha que farão, necessariamente, até a janela de março do ano que vem. É lá que as chapas serão formadas para disputa das cadeiras no parlamento e há partidos com bancada hoje que podem perder esse status – como o Avante, por exemplo – e outros que devem inchar – como o MDB. Tendência é que o governo centralize a maior adesão até março – repetindo, seja ele o governo de quem for.
A palavra da hora, agora, é movimentação.