Crise do coronavírus

CANOAS | Pandemia: estamos no pico, platô ou ’o pior já passou’; seis dias com UTIs abaixo de 100 por cento

Criação de novos leitos, mesmo durante o período mais crítico da pandemia, ajuda Canoas a atravessar a crise da explosão de demanda por internações. Foto: Rodrigo Becker

Situação melhorou, mas ainda está longe de ser confortável: ocupação estabiliza por cima após 'tsunami' do início de março e efeitos positivos da bandeira preta já se impõe

Ainda não dá para dizer que 'o pior já passou'. Se algo aprendemos neste ano incomim é que a Covid-19 move-se em ondas e o 'tsunami' pode estar mais à frente. Em Canoas, o comportamento da pandemia pode ser medido pela ocupação hospitalar e, neste quesito, um alento surge em meio à escuridão dos nossos dias. Com os novos leitos abertos, as UTIs/Covid ficaram abaixo de 100% de ocupação pelo sexto dia consecutivo nesta sexta-feira, 26. É a primeira vez que isso acontece no mês de março, disparado o pior momento da pandemia deste lado de cá da foz do Rio Gravataí desde o ano passado.

 

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Em média, mantivemos o número de internações, que segue elevado. "Estamos em um platô", avalia o secretário de Saúde, Maicon Lemos. Platô é o termo estatístico que usa para indicar uma'estabilização por cima'. Exatamente o que vemos nas internações em UTI no mês de março em Canoas, sempre entre 135 e 137, nunca inferiores a 130. "Nosso pior momento em março foram os dias entre 8 e 17", comenta Lemos.

De fato. No dia 7 de março, a cidade contava com 108 leitos de UTI para pacientes com o novo coronavírus e todos estavam ocupados. Em enfermaria, tínhamos 172, com uma ocupação de 94,77%. Dois dias depois, a Covid explodiu: chegamos a 126 internados em UTI, a maior demanda em praticamente um ano de enfrentamento à pandemia. A No dia anterior, 8, o prefeito Jairo Jorge (PSD) havia anunciado a criação de mais 10 leitos intensivos, o que segurou o percentual de ocupação em 106,77%. 42 pessoas aguardavam por UTI em Canoas e outros tantos formavam uma dura e cruel fila na regulação estadual também em busca de atendimento intensivo. 

Só para lembrar: 8 de março marcou o 20º dia após o feriadão de carnaval.

O Governo do Estado havia anteciado para 27 de fevereiro a suspensão da cogestão e pôs o Rio Grande do Sul inteiro sob os protocolos da bandeira preta. A redução de circulação era vista como determinante para frear o avanço do contágio. Uma semana depois, em 8 de março, as liberdades de fevereiro estavam cobrando seu preço; a tensão e a angústia nos serviços de saúde pública espalharam a realidade sobre os olhos de todos. Os índices de mortalidade no Estado chegaram a 60% entre os internados em UTI – e 25% dos que conseguiram livrar-se do vírus, estavam morrendo das sequelas deixadas por ele. E as timelines de todos se transformaram em grandes obituários digitais, dia após dia.

Desde o início do ano, as UPAs já vinham funcionando como uma espécie de 'antesalas de internação', mas a partir de 8 de março, a situação se agravou. A providência do governo em garantir estoques de oxigênio durante os meses de janeiro e fevereiro permitiu que as UPAs Boqueirão e Rio Branco se dedicassem exclusivamente ao tratamento de pacientes com Covid que não tiveram a sorte de um leito no Graças ou no HU. No dia 19 de março, mais quatro leitos de UTI foram habilitados, elevando para 122 a capacidade de atendimento intesivo no município, mas ainda abaixo da necessidade real: naquele dia, 127 pacientes estavam internados em UTI, uma ocupação de 104,10%

Com o sistema no limite da saturação, os óbitos também avançaram. Neste mesmo dia 19, 36 pessoas perderam a vida para a Covid-19.

Outros 15 leitos de UTI foram acrescidos ao sistema em 22 de março, chegando a 137, com 135 ocupados – ou 98,54%. A pressão sobre o sistema, no entanto, ainda cobrava sua conta cruel: neste dia, Canoas bateu o recorde de mortes confirmadas por Covid-19 em toda a pandemia: 52, no total, contando casos anteriores que só foram confirmados no dia 22. 52 vidas a menos; mais de dois a cada hora.

Como a confirmar o dito árabe de que a hora mais escura é a que antecede o amanhecer, o dia 22 precedeu a confirmação de que Canoas havia chegado à estabilização do número de novos casos e internações. Em todos os dias seguintes, inclusive ontem, 25, a ocupação ficou abaixo de 100% nas UTIs; o número de óbitos vem caindo – foram 25 em 23 de março e somente dois ontem, mas é preciso atentar que parte das mortes segue em investigação e só entra no sistema dias depois. 

Os 20 dias de bandeira preta nos permitiram conter o colapso.

"A redução de circulação deu ao vírus menor velocidade de contágio e a ampliação das estruturas nesse período, mesmo que ele seja o mais crítico até aqui, permitiu o atendimento dos casos mais graves", comenta o secretário Maicon Lemos. "Não que a gente esteja em uma situação confortável, mas o números estão melhorando".

Durante a 'quinzena do tsunami', de 8 a 19 de março, Canoas chegou a ter 60 pacientes a espera de uma UTI; ontem, 25, tínhamos 14. Com as pessoas circulando menos, o vírus circula menos também. E se alguém ainda duvidar dos efeitos positivos da bandeira preta para o arrefecimento da pandemia, outro dado justifica. "Entre 8 e 17 de março, o percentual de casos positivos entre os exame realizados chegou a 25%. Vem caindo a medida que os dias passam. Hoje [25], foram 5%", revela o secretário.

Índices pré-hospitalares favoráveis costumam se refletir em queda na ocupação das enfermarias e UTIs, em média, de 15 a 20 dias depois de registrados – o que sugere que podemos ter um pós-Páscoa melhor do que pensávemos. O mantra do uso de máscara, álcool-gel e distanciamento segue sendo uma necessidade. "Não é hora de comemorar nem de perder o foco. Lembrando que o vírus e suas variantes se comportam por ondas, não estamos livre de um novo momento crítico", finaliza o secretário.

Enfim, estamos em um platô de estabilidade, torcendo para que o pior já tenha passado.

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