Governo gaúcho tenta demover prefeitos da cogestão apresentando o 'relatório do caos' à Famurs
Fernando Torelly, Januario Montone, João Gabbardo dos Reis e Lucia Campos Pellanda, integrantes do Conselho de Especialistas de apoio ao Governo do Estado para enfrentamento da Pandemia, emitiram ontem um verdadeiro 'relatório do caos'. O documento tem conteúdo fortemente político – mas se engana quem acha que de um único ingrediente o dito é feito.
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O relatório do conselho, que pode ser consultado clicando aqui, traz gráficos que não deixam dúvidas sobre a curva acentuada de contágio que o Rio Grande do Sul vive. E dá um número assustador, que compartilho não para provocar o pânico, mas para cobrar a responsabilidade de todos. Segundo os técnicos do Estado, a expectativa é de que uma a cada três pacientes hoje internados em UTI perca a luta a contra a Covid com a saturação do sistema hospitalar nas próximas duas ou três semanas. Um em cada três por dia! Trocando em miúdos, podemos ter dias com 30 mortes diárias em Canoas – quase mil em um mês, praticamente duas vezes mais do que vimos até aqui em quase um ano de pandemia.
Hoje, quinta-feira, 25, 27 pacientes aguardam por uma UTI fora, inclusive, de leitos de enfermaria. O governo anunciou no final da manhã que está abrindo 20 leitos clínicos no Hospital Universitário, chegando a 119 dedicados à pacientes com a Covid-19. Os 45 prometidos para o Nossa Senhora das Graças devem abrir no início da semana que vem – aí serão 164. Em termos de UTI, ainda há um lastro de 15 novos leitos, totalizando 109 até o início da semana que vem – mas chegamos ao limite. "Esse é o último movimento possível", confirmou ontem o secretário de Saúde de Canoas, Maicon Lemos, em entrevista ao blog. Nossa capacidade de criação de leitos esbarra na falta de profissionais de saúde para trabalhar – e todos que trabalham já estão esgotados, sabemos.
A conversa com o governador e os prefeitos, que acontece agora à tarde, é uma tentativa política de encontrar um caminho unificado para a enfrentar o colapso hospitalar. Prefeitos querem manter a flexibilização possível mas concordam no óbvio: não há mais muita margem para manobras individuais. Sem uma ação regional, passaremos as próximas semanas chorando e empilhando corpos, nos hospitais e fora deles. Em Canoas, Jairo Jorge (PSD), que participou da reunião da Granpal pela manhã discutindo o tema e volta a reunir-se com os prefeitos no final da tarde, sugeriu um 'lockdown intermediário', das 18h às 6h do dia seguinte, em toda a região. Nos demais horários, protocolos rígidos de bandeira vermelha e preta. A ideia, no entanto, só vinga se for consensual: de nada adianta uma cidade fechar e a outra manter-se aberta. Com a conformação urbana que temos, as pessoas continuariam circulando, gerando aglomeração e abastecendo o caos hospitalar.
Eduardo Leite, que corretamente mantém a posição de não tomar medidas de forma isolada, tem em mãos um plano que sugere um lockdown em todo o Estado durante o final de semana. É uma das alternativas que deve por sobre a mesa dos prefeitos hoje caso as negociações para suspensão da cogestão naufraguem. O alívio, no entanto, é paliativo e provisório – só daria algum arrefecimento à crise em uma ou duas semanas.
De qualquer forma, só a queda do contágio pode mudar o quadro em que estamos. E isso, honestamente, não depende do Eduardo Leite nem do Jairo Jorge – nem da ideologia que o caro leitor comunga. Todos podemos fazer algo a mais e a hora é essa: máscara, higiene e longe de qualquer aglomeração.
Um lockdown voltuntário não teria melhor oportunidade.