Votação de Bolsonaro em 2022 encheu de expectativas o incipiente PL canoense que se transformou em noiva de luxo da política, mas se vê se às voltas com interrogações e insinuações de mudança de rumo
Entre as dadas candidaturas de Jairo Jorge (PSD) e Nedy de Vargas Marques (PP) à Prefeitura de Canoas, o PL quer o seu espaço de protagonismo nas urnas. Pelo menos reivindica um. Embalado pela votação de Jair Bolsonaro em 2022, o partido namorou vereadores, empresários e lideranças políticas do campo da direita conservadora para encabeçar uma chapa à eleição.
Até Nedy recebeu o ‘beijo na boca’ do presidente estadual do PL, Giovani Cherini, o renomado deputado federal que já liderou a bancada gaúcha em Brasília por mais de uma vez e chama o presidente nacional do partido, Valdermar da Costa Neto, de ‘irmão’. Os vereadores Airton Souza (MDB) e Juares Hoy (PTB) também — estes, muito mais do que Nedy, bolsonaristas de carteirinha e camiseta amarela.
Mas quem se filiou, no fim, foi Felipe Martini.
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O ex-secretário está rompendo com JJ — mas há na política quem diga que isso é ‘combinado’. Num mundo em que se desconfia da lealdade e se socializa a traição, se entende. Mas há pelo menos dois claros sinais de que Martini e de JJ, de fato, estão em faixas distintas.
O primeiro é o vídeo publicado por Martini ainda em dezembro, anunciando sua saída do governo. Mencionando seu trabalho e os avanços que via durante sua gestão na Saúde, não mencionou o nome do prefeito uma única vez. O ‘todo procolocar’ Jairo Jorge entendeu o recado.
O segundo e mais contundente foi o encontro da semana passada com Nedy. Se com Martini JJ está rompido, com Nedy a coisa evolui para uma guerra declarada. O safenado prefeito em exercício que tinha uma baita desculpa em sua condição de saúde para encerrar a carreira política em 2024 sequer cogita uma aposentadoria sem enfrentar Jairo nas urnas; quer a chance de enfrentá-lo nas ruas, em um debate, empoleirado em um caminhão de vila em vila como um ‘marcador’ inabalável.
Martini jamais sentaria ao lado de Nedy se estivesse com Jairo.
Curiosamente, estar longe do prefeito é o predicado que mais agrada ao PL. Martini não pode ser considerado um bolsonarista de primeira hora; mas também não é um esquerdista de convicção. É provável que o aceitem mais pelo que explica o ditado do ‘se é inimigo dele estou contigo’. E como não é dá política procurar razões no que acertado está, segue Martini como — até agora — único pré-candidato viável do PL à Prefeitura de Canoas.
E quem mais tem?
Único até agora porque o prazo para que a decisão seja tomada é entre o final de julho e o início de agosto, quando acontecem as convenções municipais. Até lá, muita água passa no Paquetá, mas os indícios de onde ela vem teremos até 5 de abril, quando encerra a janela de troca-troca na Câmara.
A especulação desenhada desde o final do ano passado coloca Airton Souza no PL disputando essa indicação com Martini. Airton é mais identificado com o público bolsonarista, mas se recente de não haver uma unidade no campo conservador para indicar uma única e importante candidatura. Em recente conversa com o blog, admitiu que poderia disputar a reeleição à Câmara sem problemas, mas que o desejo de um voo mais alto ainda o mantinha acesso.
Coisa parecida acontece com Juares Hoy.
O cara que foi de líder da oposição a líder do governo com a canetada do Tribunal Regional Federal que afastou Jairo Jorge do governo é candidato a reeleição, mas provoquem o homem e ele encara a disputa à Prefeitura. Hoje, o que o impede é o compromisso com Nedy — mas na terça as coisas estremeceram quando Juares foi pego de surpresa com a filiação de Abmael Oliveira ao PP; aquele espaço na foto com Nedy e Jonas Dalagna estava reservado exatamente para Juares que, agora, ficou sem um partido para chamar de seu. O caso rendeu até um ‘pescoção’ do filho de Juares no secretário de Relações Institucionais, Marcos Daniel, que teria prometido a Juares a legenda do PP e voltou atrás.
Se o PL o quiser, Juares vai.
Nilce Bregalda e o Coronel Pacheco, que se lançaram candidatos ainda em 2023, tem contra si o fato de não decolarem em popularidade para enfrentar as urnas contra os peso-pesados da política canoense. Não são carta fora do baralho, mas o ‘apito amigo’ conspira pelo adversário no jogo deles.
Também não é carta fora do baralho o ex-secretário de Cultura Pinheiro Neto. De todos, é o único que jamais impôs o nome à disputa, mas cresceu na relação com o deputado federal Coronel Zucco. Ventos da capital indicam que Pinheiro Neto pode ser o nome moderado para colocar o PL em diálogo com outros partidos em busca de uma aliança que não isole o bolsonarismo em uma disputa em que o tema central da campanha não será a política do ex-presidente capitão, mas as mazelas e a a zeladoria local.
Por fim, vale dizer que o PL tem sido marcado pelas incertezas e as viradas de mesa — então cenário algum pode, de fato, ser descartado. Bibo Nunes, o controverso deputado federal do partido, é um que diz aos quatro ventos que só espera a filiação de Airton para entregar a ele a chave do partido, da campanha e da condição de candidato.
Ali, só o tempo dirá que leva.
