Em comunicado aos colaboradores, mantenedora da Ulbra anuncia nova gestão que será feita por grupo paulista de ensino. Dívidas somam R$ 9 bi e podem ser negociadas pelos novos donos
Depois de tentativas de aprovação de um plano de recuperação judicial frustrados pelo voto dos credores e indas e vindas na Justiça, a Associação Luterana do Brasil, Aelbra – entidade mantenedora da Ulbra – anunciou nesta quinta-feira, 10, em comunicado aos seus colaboradores, que o Grupo Evolua Educação assume o controle da instituição gaúcha. Os valores e os termos da negociação ainda não foram divulgados.
Atolada em uma dívida que soma cerca de R$ 9 bilhões, a venda da Ulbra deve ser o 'começo do fim' de uma longa crise que já beira os 15 anos.
O Grupo Evolua Educação tem sede na cidade de Cravinhos, em São Paulo, e comanda três escolas em cidades do interior do Estado. A especialidade do grupo, no entanto, é o desenvolvimento de conteúdos e soluções para a área educacional – plataforma, aplicativos, cursos e consultoria, entre outras. Em seu site oficial, informa que o método de ensino criado pela Evolua é aplicado hoje em 1,7 mil escolas espalhadas pelo Brasil, da educação infantil ao nível superior.
O presidente do Grupo, formando em 2020 durante a pandemia, é o advogado Carlos Augusto Melke Filho. Era é apontado como novo presidente da Aelbra e anunciou o também advogado Antônio Carlos Romanoski como seu vice, encarregado das negociações para equacionar o buraco financeiro em que a Ulbra se encontra. Romanoski tem larga experiência em recuperação de empresas em crise, além de ser professor de Direito na Universidade de Curitiba. Melke Filho atua há pouco mais de dez anos na gestão de grandes grupos educacionais e foi sócio da Lide MS – Grupo de Líderes Empresariais de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, e da Universidade Brasil.
De acordo com apuração do repórter Gilson Camargo, do jornal Extra Classe, em 2020 Melke Filho foi alvo da Operação Vegatomia, feita pela Polícia Federal para investigar a venda de vagas em cursos de Medicina e a uma fraude milionária no Fundo de Financiamento Estudantil, o FIES. O caso ainda tramita na Justiça Federal de São Paulo, mas Melke Filho pediu a suspensão do processo. Segundo sua defesa, Melke Filho era advogado da instituição que enfrentou os questionamentos e não teria tido envolvimento com as supostas fraudes.
O futuro da Ulbra
Prestes a completar 50 anos em 2022, ainda não está claro o que será feito da Ulbra a partir da nova gestão. No comunicado, a Aelbra informa que a Evolua adotará "um projeto educacional que preserva o DNA da Ulbra e mantém o propósito de promover a excelência acadêmica", o que foi corroborado com a nota do Grupo Evolua sobre o mesmo tema.
A expectativa é de que a Evolua Educação atraia investidores para recuperar a capacidade da Ulbra de se reposicionar no mercado. A estrutura encontrada em Canoas, onde fica a sede da universidade, pode centralizar a produção de conteúdo do grupo especialmente para os cursos de graduação à distância – segmento de formação superior que mais cresce no país, a taxas superiores a 20% ao ano.
Ainda de acordo com o jornal Extra Calsse, o Plano de Recuperação Judicial da Aelbra indica um passivo com fornecedores de cerca de R$ 3,6 bilhões. São R$ 2,7 bilhões de dívidas com bancos e instituições financeiras, R$ 770 milhões em débitos trabalhistas, R$ 51,6 milhões em garantias reais e R$ 71,5 milhões em débitos com fornecedores de pequeno e médio porte. Considerando o passivo que a instituição mantém com a União e que gerou a suspensão da Recuperação Judicial, as dívidas chegam a aproximadamente R$ 9 bilhões.