Petrobrás divulgou nota sobre o interesse de compra do Grupo Ultra. Valor do negócio pode chegar a US$ 1,4 bilhão
A Ultrapar Participações SA entregou na terça-feira à Petrobrás uma proposta vinculante que, na prática, confirma o interesse da empresa na compra da Refinaria Alberto Pasqualini, a Refap. A Ultrapar é uma das subsidiárias do Grupo Ultra, holding que atua no mercado de gás de cozinha há mais de 80 anos no Brasil e desde a década de 70, vem abrindo mercado nas áreas de distribuição, logística, transporte e armazenagem de cargas químicas líquidas. O Grupo Ultra também adquiriu em 1997 o Grupo Ipiranga, marca de postos de combustíveis com maior participação em vendas no mercado da região metropolitana de Porto Alegre.
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A proposta de compra chega a US$ 1,4 bilhão – aproximadamente R$ 7,5 bilhões de reais, segundo informação do jornal Valor Econômico. O valor é cinco vezes maior do que a arrecadação da Prefeitura de Canoas em um ano, para se ter uma ideia.
A Ultra surgiu em 1937 idealizada pelo imigrante austríaco Ernesto Igel. Ex-combatente da 1º Guerra, Igel chegou ao Brasil aos 26 anos na década de 20 para vender aquecedores e louças sanitárias. Em uma viagem à Europa, conheceu a nova tecnologia que envase de gás para uso doméstico e abriu, então, a 'Empreza Brasileira de Gaz a Domicilio Ltda', rebatizada em 1938 como Companhia Ultragaz Sociedade Anônima.
Nas décadas seguintes, a empresa se expandiu pelo país e se tornou a maior distribuidora de gás brasileira – posto que ocupa até hoje, com praticamente 80% do mercado.
Nos início dos anos 70, no auge da Ditadura Militar, um dos seus executivos foi perseguido e assassinado em São Paulo acusado de participar e financiar a tortura praticada nos porões do regime pela Operação Bandeirante. Albert Henning Boilesen, nascido na Dinamarca e naturalizado brasileiro ao se estalebecer no país, era diretor do Grupo Ultra quando em 15 de abril de 1971 foi emboscado perto de casa por militantes anti-governo. Ele era apontado por grupos políticos de esquerda de fazer aportes financeiros à prática da repressão por motivos políticos, articular a participação de novos doadores e inclusive participar de sessões de tortura. Era amigo do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o militar gaúcho mais célebre torturador daqueles tempos.
Nos anos seguintes, o Grupo Ultra abriu o capital de suas empresas e seguiu seu processo de expansão – inclusive para fora do país. Um dos ramos mais importantes de atuação do negócio é no setor de transporte de químicos líquidos, uma especialidade em que aproveitou a expertise em logística adquirida na distriibuição de gás. O grupo ainda é proprietário da Oxiteno, uma empresa química global, líder na produção de tensoativos e especialidades químicas na América Latina.
Em 2007, o Grupo Ultra comprou os ativos da Ipiranga e se tornou líder também na distribuição e comércio de combustíveis no país. A marca é a mais lembrada no segmento entre os brasileiros e, principalmente, entre os gaúchos.
A próxima etapa da expansão do Grupo Ultra a partir da compra da Refap será o incremendo da expansão distribuição e tancagem de combustíveis na América Latina, notadamente os mercados uruguaio e argentino. Conforme uma reportagem publicada pelo jornal Valor Econômico esta semana, o Grupo Ultra também apresentou uma proposta de compra da Refinaria Getúlio Vargas, a Repar, no Paraná.
“Hoje, a rota de exportação da Refap conta com uma estrutura logística ineficiente e cara que faz com que o combustível chegue aos mercados a preços pouco competitivos. Hoje, o combustível é exportado pelo porto da Lagoa dos Patos (em navios de pequeno porte), ou pelo terminal de Rio Grande, chegando lá de caminhão. A construção de um oleoduto até o terminal de Rio Grande, juntamente com alguma capacidade de tancagem, seria necessária para aumentar a utilização da capacidade da refinaria”, disseram os analistas Vicente Falanga e Ricardo França, a Ágora Investimentos, em reportagem do Money Times.
A venda da Refap
A venda da Refinaria Alberto Pasqualini foi confirmada pela Petrobrás em dezembro de 2019 e de lá para cá, a operação na Refap vem sendo aberta aos interessados. O processo, sigiloso, é concluído a partir da proposta vinculante – que ainda precisa ser aceita pelo conselho da estatal. A partir daí, Ulbra e Petrobrás definem um plano para troca de comando.
O Grupo Ultra deve fazer um comunicado ao mercado sobre a aquisição e, adiante, informar sobre planos de investimento para o parque em Canoas, Osório e Tramandaí, onde ficam as unidades fabris e de tancagem ligadas à refinaria.