Vice do Sindicato Médico sugere, em artigo, fim da gestão plena em Canoas: de todas as soluções, essa é a pior
Primeiro, preciso dizer que tenho um profundo respeito pelo Sindicato Médico – e, exatamente por isso, me sinto na obrigação de discordar da posição da entidade, externada em artigo publicado pelo colega Marco Leite, em seu inabalável Notícias da Aldeia. No texto, o Dr. Marcelo Matias defende que a crise na Saúde Pública de Canoas teria chegado a um ponto tal que só a revogação da gestão plena poderia mudar a situação. Discordo profundamente: Doutor! o fim da gestão plena em Canoas é, de todas, a pior solução para a Saúde dos canoenses.
Explico.
A Gestão Plena é uma pactuação entre o município, o Estado e a União para repasse e gestão dos recursos da Saúde. Significa dizer que a prefeitura tem autonomia para aplicação do dinheiro que recebe para o setor, desde que em conformidade com os planos nacional e estadual de Saúde; é por isso, aliás, que Canoas é referência para 156 cidades gaúchas: em algum momento, era interessante para o Estado e a União ter um hospital como HU na retaguarda de tantos municípios, mais fácil do que construir e manter pequenas estruturas espalhadas por aí.
Perder a gestão plena significa que Canoas perderá a automonia para aplicação desses recursos.
E se quisermos fazer um mutirão para por em dia as cirurgias de coração, por exemplo, que tem longa fila nos registro do HU e do Gracinha? Nada feito: sem o ‘amém’ do Estado ou do eventual interventor, fica a fila. Se preferirmos, em vez disso, ampliar o atendimento de Saúde da Família, notadamente o programa que mais funciona na prevenção de problemas de saúde e atenção com crianças e idosos que se conhece? Sem o ‘ok’ do interventor, deixa pra lá.
O fim da gestão plena, com a vênia do Dr. Matias, está mais para o fim do SUS do que para uma solução para a crise. O Estado, que tem a missão de coordenar as estratégias macrorregionais de Saúde, não necessariamente vai olhar para Canoas como um elemento nesse contexto; as necessidades locais tendem a ficar em segundo plano. E como os recursos pactuados podem mudar – para menos, inclusive -, sequer há alguma garantia de que os pagamentos que hoje são legitimamente reclamandos pelos médicos sejam cumpridos.
Sem a gestão, podemos estar trocando não um ‘6’ por ‘meia-dúzia’, mas um ‘5’ por ‘0’. Um recuo que pode provocar danos irreparáveis à Saúde Pública agora e no médio e longo prazo. Trocando em miúdos, um retrocesso.
Ao defender o fim da gestão plena, o Sindicato Médico, me parece, ocupar um quadrado que não é seu; se a luta que defendem por melhores condições de trabalho para a categoria tem o abraço de todos porque, enfim, é também uma luta pela Saúde Pública, dizer o que fazer administrativamente com a condução da Saúde não pode ser certo. As decisões erradas que eventualmente seja tomadas na condução da Saúde aqui no município devem ser mediadas pela nossa discussão política; pelos usuários do SUS; pelos médicos que o compõe; e, em última instância, pelos eleitores nas urnas. Qualquer coisa fora dissom reputo, fora de propósito.
Como um passageiro que se arrepende da viagem e prefere que o avião caia.
Respostas de 2
O jornalista prefere que seja mantida a gestão plena ineficiente, premiando um gestor irresponsável, que não resolve o problema? É isso? Por que de onde estou olhando, só piora. Parece uma opinião tendenciosa, governista, chapa branca.
Opa, Dr. Duarte! Tudo bem? De primeira, desculpa pela demora em responder. Fizemos atualizações no site e ainda estou me adaptando. Sobre ser tendencioso… é opinião, por óbvio defende um rumo, uma posição – ou tendência. Digo as coisas não com a intenção de convencer ninguém, mas de jogar outros elementos à discussão. E, sim, acredito na gestão plena sob controle do município. Sempre vai ter alguém que discorda do ponto de vista que expressamos nos acusando de ‘chapa branca’ ou ‘governista’. Quem só critica também não é isento. Prefiro manter minha posição e sempre dizer o que penso, mesmo que alguns não gostem e outros não concordem. A gente vai cevando o mate e a compreensão das pessoas com a franqueza, doutor! Obrigado por acompanhar o blog. Abraço!