Com Sabin no comando, PTB namora Nedy e a candidatura do ‘vice de oposição’ que ele deve sustentar em 2024. Pode haver surpresa na bancada da sigla na Câmara de Canoas
Exatos três dias depois do 24 de agosto em que o tiro que depôs Getúlio Vargas da presidência da República e lhe garantiu um lugar na História completou 69 anos, o PTB de Canoas teve também o seu momento de purgação política. Simone Sabin, ex-secretária de Desenvolvimento Econômico, é a nova presidente do partido na cidade, com o amém do deputado Elizandro Sabino, o novo caudilho petebista que de Getúlio tem a estatura, a profissão de advogado e gosto pelo chimarrão com água ‘chiada’ na chaleira. Sabin quis o PTB para chamar de seu e tem em mãos a chance de queimar a língua dos que o decretaram antecipadamente moribundo depois do ‘tchau, querida’ dado por Luiz Carlos Busato em 2021 e a crise Roberto Jefferson vs. Ranolfo Vieira Jr. que criou um Itaimbezinho de distância entre o partido do mundo real e o da mente distópica do seu ex-presidente nacional.
Agora, não se engane: a missão de Simone Sabin é tornar o PTB de Canoas viável para 2024.
Disposição e experiência, Sabin tem. Talvez lhe faltem peças no tabuleiro. Dos três vereadores que o partido elegeu em 2020, um já saiu – Laércio Fernandes está no Podemos – e outros dois estão em vias de fazer o mesmo. Eric Douglas garantiu lugar na barca da base do governo Jairo Jorge e deve optar em março por um partido da coalisão. Juares Hoy tem convite do União Brasil, mas sonha com o PL de Bolsonaro. A relação de Hoy com Sabin, aliás, é nula: nem se cumprimentam. Semana passada, ele até publicou em suas redes sociais provocações em relação à votação que ela fez em 2022 ao concorrer a deputada, não foi à posse da nova direção e consta que teria inclusive encorajado partidários a fazer o mesmo. Ela, por sua vez, não faz a menor questão de tê-lo em suas trincheiras. E embora tenha sido aliada de Bolsonaro deste a primeira hora, não pretende morrer abraçada ao capitão como Juares vem demonstrado vontade de fazer.
LEIA TAMBÉM
CANOAS | OP será retomado em setembro: confira datas e locais das 15 plenárias microrregionais
Na prática, Sabin sabe que só pode contar com o partido que for capaz de montar por suas próprias mãos. Vem trabalhando na composição de uma nominada à Câmara para o ano que vem e quer aproveitar as relações construídas para lá da 116 para dar prestígio ao PTB reconstruído. Já entabulou uma conversa com o PSDB e o recém filiado prefeito de Gravataí, Luiz Zaffalon, além do vice de Canoas, Nedy de Vargas Marques. Com Nedy, aliás, alimenta o plano de indicar um candidato a vice no que deve ser a chapa de oposição à JJ e sua aliança recente Busato.
A mera hipótese de fazer o PTB parceiro de uma chapa majoritária pode ser o atrativo que falta para que o partido compense a debandada da atual bancada com a chegada de novos parlamentares. O alvo da vez parece, inclusive, já ter um nome: Márcio Freitas, que hoje está no Avante. Márcio é cotado para vice de Nedy desde que saiu bem votado nas urnas locais em 2022 e poderia disputar um voto popular que hoje é base de JJ. Além disso, no PTB, Márcio não dependeria apenas de 2024: em dois anos, nas eleições regionais, poderia disputar uma vaga na Assembleia com chances de eleição se fizer algo entre 22 mil e 25 mil votos. O parlamentar não confirma a especulação do blog, mas é inteligente o suficiente para já ter feito a mesma matemática.
Simone Sabin já marca a história do PTB de Canoas como um signo de empoderamento. Mulher, advogada, economista e professora, não dará espaço à misoginia congênita em quem acha que política ‘é coisa de macho’. Ideologicamente, será de direita, liberal e desenvolvimentista – mas não espere dela tiros e bombas contra Jairo Jorge, de quem inclusive foi colaboradora e secretária. Em seu discurso no domingo, mais de uma vez falou o que espera do partido a partir de agora. “Nem oposição, nem situação. O PTB é de construção”, disse, numa claríssima referência aos vereadores que estão acordados com a base do governo, mas que podem abrir um diálogo para 2024 por outras mãos.
Por fim, vale dizer que PTB de Sabin não é o mesmo de Getúlio, embora sustente o mesmo nome; é mais conservador hoje do que trabalhista e arrisco a dizer que ‘o velho’ teria dado um tiro a mais no próprio peito, só por garantia, se soubesse que o partido que herdaria seu legado político um dia ousasse se misturar ao neo-fascismo tupiniquim disfarçado de bolsonarismo.
Se conseguir cortar o cordão umbilical do atual PTB com o atraso que Bolsonaro representa, Sabin já terá dado um passo à frente.