Decisão sobre mandato do vice amarra o calendário, mas é óbvio que já tem gente se mexendo por ‘espaço de tela’ em 2024
Se Nedy de Vargas Marques for cassado, o quadro para a eleição de 2024 ganhará contornos de previsibilidade.
Se não for, também.
O julgamento sobre o mandato do vice é o elemento da realidade política que segura o avanço do calendário eleitoral na prática. Não quer dizer que partidos e personagens das urnas já não estejam se movimentando – porque estão, e muito. Especialmente quem está de fora do que venho chamando de ‘grupo hegemônico’, este que hoje reúne lado a lado Jairo Jorge e Luiz Carlos Busato.
Muito natural, aliás.
São os partidos com menor densidade que buscam a sua fatia do eleitorado com mais antecedência. PL e PTB, por exemplo, erguem o braço quando se fala em um candidato para representar o bolsonarismo que deu ao ex-presidente 6 em cada 10 votos em 2022 e não sabemos ainda como esse contingente de pessoas se comportará em 2024. Parece certo que o debate se dará em dará em torno dos assuntos locais, notadamente a Saúde, o transporte público, a zeladoria da cidade e a alavancagem da economia. Mas há reflexos do política regional e nacional que Canoas, de resto, não é uma ilha.
Objetivamente, imagino que o ‘grupo hegemônico’ terá uma candidatura única em 2024 – e digo de certeza que os nomes não estão absolutamente definidos. Dadas as condições atuais, JJ é candidato à reeleição; especula-se que com um vice indicado entre as hostes de Busato. O filho, Rodrigo? Se fosse apostar, diria que não. Rodrigo Busato é mais apaixonado aos bastidores do que aos holofotes em se tratando de urnas e, até que se tenha um indicativo do contrário, me reservo o direito de acreditar que ele não será vice, nem cabeça de chapa.
Há outras opções. Dario Silveira, que concorreu a vice de Busato em 2020, está no páreo; Germano Della Valentina, ex-presidente do PTB, não entra nessa. Seu papel é a coxia, não o palco; frequenta mais o deboche dos que sabem das querelas que ele e JJ tiveram e dos vídeos que volta e meia estão de novo nos grupos de zap aqui e ali do que uma alternativa concreta para eleição – mas quem duvida é louco.
PT/PV, que concorreram com federação em 2022, vão de JJ. O Republicanos, embora ensaie uma investida com candidatura própria, também. PDT e MDB estão na mesma barca, embora Airton Souza já tenha manifestado o interesse de disputar a prefeitura no ano que vem. O PP, que está na base de JJ, sempre guarda a decisão para depois de uma conversa com Simone Leite, líder empresariam gaúcha que já disputou até vaga no Senado, mas que na hora ‘H’ não se envolve na disputa local. Jonas Dalagna, em queda-de-braço com o Novo e com conversas bem adiantadas com o PP, é alternativa.
E o Nedy?
Se o vice-prefieto não for cassado pela Câmara e há chance de isso acontecer, acabará tendo que disputar a eleição em 2024 – queira ou não. O ano em que passou à frente do governo vem sendo apontado pelo líderes do ‘grupo hegemônico’ como o responsável por tudo que não deu certo na cidade no pós-pandemia; se quiser disputar os feitos que fez, terá de ir às urnas e defender o próprio legado – já que ninguém o fará por ele.
Para isso, Nedy precisa de um partido.
Envolvido no processo de cassação, o vice deixou essa discussão para depois. Estava muito inclinado a filia-se ao PSDB de Eduardo Leite que via com ótimos olhos a chegada do então prefeito em exercício da terceira economia do Estado ao tucanato e a possibilidade de ver a sigla espraiar-se como uma alternativa metropolitana. A volta de Jairo ao paço municipal embaralhou um pouco essas cartas, mas é seguro dizer que se conseguir afastar o impeachment, o calendário eleitoral que se imporá à cidade também cairá sobre o colo de Nedy como uma urgência.
Só que no Avante ele não fica.
Tem mais: Márcio Freitas
Mais votado na eleição de 2020, o vereador Márcio Freitas herdou a presidência do Avante depois da quebra de confiança entre Nedy e a direção nacional do partido. Se quiser, concorre a prefeito. No entanto, imagino que Márcio calcule o momento apropriado para isso – agora, por conta, ou projetando uma aliança mais resistente para 2028. Num quadro de ‘grupo hegemônico’, há menos espaço para vias alternativas e Márcio sabe disso.
O vereador é, no entanto, um ativo político para 2026. E pode jogar com isso para estar em uma chapa majoritária no ano que vem ou, de fora dela, apoiar alguém.