Vice segue tratamento com antibióticos para infecção que o acomete desde a cirurgia de outubro, mas em conversa com o blog, garante que nada disso o impede de voltar à Prefeitura – e até vídeo ele já gravou
Enquanto aguarda a notificação da Justiça Federal informando o afastamento de Jairo Jorge, o vice Nedy de Vargas Marques segue seu tratamento à uma infecção bacteriana e já prepara os primeiros atos para o momento em que assumirá a condição de prefeito interino de Canoas. “Tô pronto para voltar”, resume. E antecipa pelo menos um nome que deve formar sua equipe de gestão, em breve: Pollyana Perinazzo.
Ele estava na função de Chefe de Gabinete do prefeito em março deste ano quando Jairo Jorge voltou ao paço e saiu junto com Nedy. Deve ficar com ela a função de ‘gerente’ do governo e talvez acumule, nos primeiros dias, outras atribuições sobre as quais Nedy exige lealdade.
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Aline Pagot, que assessora Nedy no atual e enxuto gabinete do vice, também terá espaço no primeiro escalão – mas a função ainda não está definida. Já Rodrigo Schmitt, advogado e fiel escudeiro do vice, certamente terá papel de conselheiro, mas não deve formar o governo, inicialmente. Schmitt tem como atividade profissional a advocacia e, em outros momentos, declinou de convites do gênero para manter sua dedicação à iniciativa privada.
Com esse núcleo político, Nedy retoma as ideias que vinha colocando em prática no início do ano, quando imaginou que a gestão ficaria sob sua responsabilidade até o final do mandato. “Vamos receber a notificação e os canoenses tenham a certeza de que não vou fugir ao meu compromisso”, diz. “Precisamos tomar pé das coisas, mas eu continuo sendo a mesma pessoa, esposo da Sádia e pai de quatro filhos. Será um governo de responsabilidade e honestidade. Para trabalhar comigo, tem que ter seriedade”.
Embora Nedy não tenha dito nada a respeito das relações políticas com a Câmara ao blog, já se especula que uma eventual base aliada conte com pelo menos 12 vereadores – parte deles, inclusive, já teriam trocado ideias com Nedy sobre eventual participação no governo. Se esse número estiver correto, parece certo que haverá uma mudança no acordo político para eleição da mesa da Câmara: Gilson Oliveira (Avante), que estava escalado para presidir o parlamento no ano da eleição, pode ser preterido por um nome mais próximo de Nedy. E a especulação já aponta Márcio Freitas (Avante) como o ‘ficha 1’ para a missão.
Secretários orientados a manter o trabalho
Enquanto Nedy não tomar posse na função, no entanto, a gestão Jairo Jorge segue. Daí o papo de ‘avião sem piloto’ que intitula este post. Governo, há; mas não há um prefeito – pelo menos não formalmente. Essa brecha só será preenchida com a publicação do acórdão da decisão tomada nesta quinta, 23, pela 4ª Seção do Tribunal Regional Federal sobre o afastamento de Jairo Jorge e a sucessiva notificação ao vice.
Secretários foram orientados a seguir o trabalho normalmente nesta sexta, 24. Todos os projetos em andamento devem ser continuados e as informações passam a ser centralizadas tanto na Chefia de Gabinete, com Celso Pitol e Daniel Cardozo, quando na Secretaria de Relações Institucionais, com Mário Cardoso, que está cuidando do contato político no momento.
Embora evite a imprensa, Jairo Jorge já informou aliados de que aguarda somente a publicação do acórdão da decisão para recorrer sobre seu afastamento. Como há votos divergentes, ou seja, com teses que o beneficiam, embora o voto vencido, há uma margem razoável para sustentar um recurso à uma instância superior – o Superior Tribunal de Justiça, STJ, no caso.
Provavelmente, um habeas corpus.
O plano parece ser sustentar o pedido na tese de que a investigação já está encerrada e não haveria fato novo relevante que justificasse a ausência do prefeito no paço.
O rebuliço que ainda pode vir
Parte dos aliados de Jairo canalizam a esperança de um retorno do prefeito para justificar um movimento em direção ao atual presidente da Câmara, Cris Moraes (PV). Ele é o seguinte na linha sucessória e vem sendo estimulado a entrar nessa seara em razão das condições de saúde de Nedy. Por essa visão, se Nedy não tiver condições de assumir, Cris poderia fazê-lo e manter o governo ‘semi-estável’ ou pelo menos sem rupturas até uma decisão de instância superior a respeito.
A afirmação de Nedy, gravada até em vídeo, de que tem condições para assumir o governo não deixa de ser uma espécie de ‘vacina’ aos planos de impedí-lo de subir as escadas do paço. Oficialmente, nem de atestado o vice está; a equipe médica que o atende apenas monitora a evolução do tratamento à infecção e está disposta a liberá-lo imediatamente caso a notificação judicial chegue à Prefeitura.
A tensão desta sexta-feira se parece muito com uma desavisada lata de nitroglicerina posta ao sol de uma tarde de verão: parece inofensiva até que incendeie.
A política é feita de faíscas.
