Teste durante o feriado foi aprovado pelo presidente da empresa, Fernando Marroni, mas está longe do do cenário pré-enchente, quando trens levam mais de 110 mil passageiros por dia
O barulho do trem passando e a inequívoca vibração na janela do apartamento do terceiro andar do prédio que fica na esquina da Avenida Guilherme Schell com a Rua Caiçara, no Centro de Canoas, é sinal de normalidade na vida urbana. Desde sexta-feira, 3 de maio, que o silêncio por lá indica que a vida anda de cabeça para baixo nesta Canoas de uma enchente histórica. Sem trens, sem barulho, sem normalidade.
28 dias após serem estacionados sobre a via elevada, entre as estações São Leopoldo e Novo Hamburgo, nesta quinta-feira, 30, os trens voltaram a levar passageiros em um primeiro teste de operação para a retomada da mobilidade entre o Vale dos Sinos e a capital, ainda sob os efeitos das cheias intensas. A Trensurb propôs uma retomada gradual e parcial, dentro de um cenário possível de redução dos alagamentos nas cidades em que opera.
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Nestes primeiros dias, os trens vão circular entre 8h e 18h, com intervalos de até 35 minutos, somente entre as estações Mathias Velho, em Canoas, e Novo Hamburgo. As composições circulam em duas vias entre Canoas e São Leopoldo e, de lá, em via única até o final da linha. Isso acontece porque a via paralela está servindo de pátio para o estacionamento os trens enquanto não for possível voltar à sede da empresa no bairro Humaitá, em Porto Alegre. Por lá, a água ainda não baixou o suficiente para retomada do pátio, conserto dos estragos e recuperação das instalações.
Segundo a Trensub, no primeiro dia do que vem chamando de ‘Operação Humanitária’, 3,7 mil passageiros foram transportados entre as estações abertas. A atividade foi considerada um sucesso pelo presidente da empresa, Fernando Marroni, que informou que seguirá mantida a operação sem cobrança de tarifa pelas próximas semanas.
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Com esta retomada parcial, a Trensurb tem capacidade para transportar cerca de 30 mil passageiros por dia. O volume é menos de um terço dos 110 mil passageiros habituais do trem no período pré-enchente, mas o primeiro passo para a retomada definitiva da mobilidade está dado.
Ainda não será desta vez que o vidro do apartamento na Caiçara com a Guilherme Schell sinalizará a normalidade, mas já é um começo.
Avanço da operação
Por enquanto, a Trensurb evita previsões sobre quanto poderá avançar na linha em direção a Porto Alegre. A estimativa é de que somente em 2025 seja possível operar novamente na estação Mercado, no Centro da capital. Por lá, além do alagamento total da estação subterrânea, a equipe de engenharia da empresa prevê que seja necessária a substituição de trilhos para que haja segurança na condução dos veículos.
O calendário mais provável para a retomada é recuperação do pátio da empresa, no Humaitá, e a extensão da linha humanitária até as estações Aeroporto e Farrapos — que é em linha elevada e sem danos nos trilhos.
Isso deve acontecer entre agosto e setembro, provavelmente.
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Até lá, Trensurb e Metroplan montaram um esquema especial de transporte para levar passageiros que utilizam o trem até o Centro de Porto Alegre. Por enquanto, o terminal da Mathias Velho terá uma integração entre ônibus e trens. Os passageiros pagarão apenas a tarifa especial do ônibus, já que os trens seguem de graça.
A tarifa é de R$ 6 e a linha será operada pela Transcal, identificada como Integração. Os ônibus partirão do Mathias de 25 em 25 minutos com destino ao Terminal Conceição, que fica embaixo do túnel no Centro de Porto Alegre, passando pelo corredor solidário da Castelo Branco.