meio ambiente

Cervo sobrevive à extinção no Banhado Grande

Espécie símbolo das nascente do Rio Gravataí é mais numerosa do que se pensava | Imagem: ANDRÉ OSÓRIO

A área de 2,5 mil hectares do Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos, em meio aos banhados formadores do Rio Gravataí, guarda um verdadeiro tesouro da preservação da fauna e da flora nativa em plena Região Metropolitana. Disso, desde a criação da unidade de conservação, em 2002, nunca houve dúvida. Desde a sua origem, o refúgio teve como principal bandeira de proteção o cervo-do-pantanal. Espécie que tem seus últimos indivíduos no Rio Grande do Sul, justamente no refúgio. O que não se sabia naquela época era, afinal, qual o tamanho desta causa? Alguns especialistas davam até mesmo o cervo como extinto. Realidade mudada nos últimos nove anos graças a um precioso levantamento de imagens de campo.

— Em 2009, por iniciativa própria, decidi instalar armadilhas fotográficas pelos três ambientes naturais que temos dentro do refúgio. Confesso que os resultados depois destes nove anos me surpreendem toda a vez que analiso as imagens. Mais reforçou, para mim, a necessidade de termos uma unidade de conservação como esta — diz o gestor do refúgio, o biólogo André Osório.

A estimativa, hoje, é de que pelo menos entre 30 e 40 cervos-do-pantanal habitem o refúgio. É o triplo do que o único estudo até então — desenvolvido nos anos 1980 — apontava, e que serviu de base para a criação do refúgio. Mais do que estimar o tamanho da população deste mamífero, a iniciativa de registrar a vida animal no Banhado dos Pachecos está permitindo aos biólogos conhecerem as particularidades do cervo em terras tão pressionadas pela presença humana.

— Eles se adaptaram a hábitos bem distintos do que se conhece no Pantanal, por exemplo. Lá, são animais diurnos, aqui, eles circulam e buscam alimentos, geralmente, à noite — conta Osório.

 

 

Adaptados ao ambiente

 

No Refúgio Banhado dos Pachecos, já se sabe, os filhotes do cervo nascem no período entre a primavera e o verão. A partir desta informação, por exemplo, foi possível determinar a época em que os cuidados precisam sr reforçados na região. Até a alimentação dos cervos que habitam o refúgio é bem diferente dos parentes do Centro-Oeste. Enquanto lá, um cervo procura os aguapés como alimenbtos, aqui, o maricá virou prato principal. E, por consequência, uma das missões de preservação a ser multiplicada na vizinhança da unidade de conservação.

Por tratar-se de um arbusto espinhoso, não ser esteticamente dos mais apreciados, típico do solo úmido junto aos banhados, geralmente o maricá é a primeira “vítima” na hora de abrir campos nestas regiões.

— O conhecimento que estamos acumulando tem sido fundamental para trabalharmos com educação ambiental em toda a região vizinha ao refúgio. É uma área cercada pelos agricultores do assentamento e por pelo menos outras duas propriedades rurais com plantio de arroz. Nosso trabalho tem focado, principalmente, as crianças desta região. Elas levam este novo conhecimento aos pais. A intenção é termos uma cultura de preservação permanente. O benefício será de todos — acredita o biólogo.

 

Espécie precisa de espaço

 

A unidade de conservação está no início da criação de um plano de manejo, que estabelecerá metas e ações imediatas de recuperação da fcauna e flora locais. Entre os 2,5 ml hectares, há ambientes de banhado, campo e restinga. Os cervos, são mamíferos típicos da área de banhado, e o espaço da reserva já peocupa os especialistas. É que o macho desta espécie é um territorialista. Estudos realizados na região do Pantanal apontam que um macho defende em torno de 200 hectares. Significa que uma população de 20 machos, esgota a atual reserva.

Por isso, a próxima boa batalha na proteção dos cervos será a concretização do projeto que pretende estimular pequenos produtores a recuperar matas ciliares ao longo das nascentes do Rio Gravataí em troca do pagamento por serviços ambientais. A ONG Instituto Etnia Ecológica está em fase inicial do projeto que tem investimento de quase R$ 3 milhões do Ministério do Meio Ambiente para quatro anos de estudos.

 

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Quase R$ 3 milhões para recuperar o Rio Gravataí

 

A recuperação destes espaços de mata nativa criará os chamados corredores ecológicos. Na prática, aumentará o território para o cervo-do-pantanal.

Não bastasse a limitação territorial, os inimigos criados pela pressão humana no entorno do refúgio alertam quem pensa em proteger os cervos. Os maiores “predadores” dos cervos no refúgio, hoje, são os cães domésticos. Soltos, eles formam matilhas dentro o refúgio e já foram vistos caçando o mamífero símbolo da reserva.

 

As descobertas do Refúgio

 

Mas nem só do cervo vive a preservação do Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos. As armadilhas fotográficas permitem a pesquisadores conhecerem exatamente os hábitos das espécies — prinipalmente aves — nos três habitats diferentes da região protegida.

Na área de campo, por exemplo, foram feitos registros do tuco-tuco, um pequeno roedor que é endêmico (só existe em uma região) à Coxilha das Lombas, uma das formações do refúgio, e tem quase toda a sua vida debaixo da terra, em túneis que servem como tocas. E o que dizer do tamanduá-mirim?

— Era uma especie que tinha relatos antigos, mas que não era vista há muito tempo. Acreditava-se que nem existia mais nesta região. Agora sabemos que eles estão aqui — aponta André Osório.

A lista de espécies inclui ainda o maracajá (gato do mato), o bugio ruivo, o mão-pelada, o graxaim do mato — estes os mais curiosos em relação às câmeras espalhadas pelo refúgio — e as mais frequentes na região, as capivaras.

 

Sobre o Refúgio

: O Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos conta com 20 armadilhas fotográficas ao longo dos seus 2,5 mil hectares. São equipamentos fotográficos acionados pelo movimento, instalados em pontos estratégicos em meio à vegetação.

: A unidade de conservação será beneficiada com 0,6% dos investimentos da alemã Fraport, nas obras de ampliação da pista do aeroporto Salgado Filho. Além deste recurso, a região será beneficiada com o projeto de R$ 2,9 milhões do Ministério do Meio Ambiente para recuperação da vegetação em torno das nascentes do Rio Gravataí.

: O refúgio, criado em 2002, fica em Viamão, e conta com dois guadas-parque, uma técnica ambiental, que ficará dedicada a projetos de educação ambiental e gestão participativa da área, e com o gestor da unidade de conservação. O Plano de Manejo permitirá conhecer por completo a realidade do terreno, com o zoneamento de áreas prioritárias e, aí sim, poderá permitir visitações públicas, hoje limitadas a funções acadêmicas.

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