O procurador-geral de Justiça do Rio Grande do Sul cometeu desonestidade intelectual ao falar à RBS sobre as supostas provas de corrupção nas investigações que afastaram o prefeito de Cachoeirinha, Miki Breier (PSB).
Reputo Marcelo Dornelles usou o desconhecimento das pessoas sobre como funciona o sistema judicial para sustentar o que, até agora, o MP não comprovou, ao menos perante à 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça: os desvios, o ‘mesadão do lixo’ e as sacolas de dinheiro.
– A tônica dele é de que nós não provamos nada, o Ministério Público não provou. Mas como não provou? Ele tá cassado. Ele foi afastado e foi renovado o afastamento. Ele foi cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral. (A denúncia) foi apresentada, recebida. O que não aconteceu ainda foi a condenação definitiva, que não depende do Ministério Público – disse Dornelles.
Ora, procurador, o senhor sabe muito bem que uma coisa é a investigação criminal, das operações Proximidade e Ousadia, que afastaram Miki por 360 dias, e outra é a cassação eleitoral, pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), pelo suposto abuso de poder político e econômico durante a campanha pela reeleição em 2020.
Fato é que Miki não foi cassado devido às supostas provas levantadas pelo MP nas duas operações criminais.
Dornelles abusa do imaginário popular ao misturar as coisas, seja Miki culpado ou inocente.
O procurador chega a dizer que Miki “criou” as entrevistas – à RBS e à SEGUINTE TV , e você assiste clicando aqui – porque quer concorrer no novo pleito.
Miki não pode concorrer. Foi condenado, no caso eleitoral e não criminal, a 8 anos de inelegibilidade. Se o chefe do MP não sabe disso, talvez também tenha confiado nos seus investigadores, sem conhecer detalhes da investigação que transformou um cidadão que foi vereador, secretário municipal e estadual, deputado por três mandatos e prefeito de sua cidade em um Walking Dead da política.
À RBS, o procurador-geral ressaltou que “o MP tem, sim, como provar as denúncias contra Breier”:
– Dizer que não provamos nada é muito frágil, tem muita prova, tanto que ele não é mais prefeito – disse, aí usando uma meia verdade, que sempre tem uma parte próxima da mentira; Miki estava realmente afastado devido às operações Proximidade e Ousadia, mas só não é prefeito por consequência de uma condenação eleitoral.
Rosane Oliveira perguntou a Dornelles sobre os vídeos de Miki recebendo dinheiro, o que o político nega, e o chefe do MP explicou que “existem gravações” mostrando o antigo gestor “junto de empresários que tinham ganho licitações de forma direcionada”.
O procurador acrescenta que, na sequência, foi realizada uma operação na casa do prefeito e foi encontrado dinheiro em espécie, além de documentos e outras provas.
Só para efeitos de comparação, pelo que sei foram apreendidos R$ 40 mil. O orçamento de Cachoeirinha é de meio bilhão.
Ao fim, quando falha a técnica, o MP arrisca sua credibilidade. Essa instituição fundamental para a democracia, o ‘Ministério do Povo’, em um momento em que resta maculada por Batmans e Robins da República de Curitiba, não pode errar.
O MP pode ter provas de que Miki é corrupto. Veremos como o Judiciário as receberá.
Mas o chefe do MP dar uma entrevista desastrosa a um canhão da mídia, como é a RBS, cortando a conexão, misturando questões criminais com eleitorais, e aparentemente despreparado ao demonstrar desconhecimento sobre detalhes fundamentais de um caso que fez parar uma cidade de 130 mil habitantes, permite convicções de que promotores podem não respeitar Cachoeirinha como deveriam.
Isso aqui não é uma grota, senhor Marcelo Dornelles, chefe do meu ministério, o do povo, o Ministério Público.
Assista a entrevista de Miki à SEGUINTE TV nesta quarta-feira