RAFAEL MARTINELLI

“Cidade de faroeste”: Almansa critica sistema, mas diz não à cassação do prefeito em Cachoeirinha; a entrevista-bomba

David Almansa é hoje diretor de direitos na rede e educação midiática da Presidência da República, em Brasília

A crise permanente em Cachoeirinha ganhou um carregamento de pólvora política após David Almansa, candidato derrotado na eleição de 2024, divulgar nota pública [leia ao fim do artigo] negando autoria de uma carta que circulou nas redes sociais e atribuía a ele críticas internas ao PT por uma suposta predisposição a cassar o prefeito Cristian Wasem (MDB) e o vice Delegado João Paulo Martins (PP).

O partido deu dois votos que garantiram a admissibilidade dos processos do Impeachment 1.0 e o Impeachment 2.0.

Mas se David — candidato derrotado na eleição de 2024 e hoje diretor de direitos na rede e educação midiática da Presidência da República, em Brasília — desmente a carta, ele não desmente a polêmica.

Procurado pelo Seguinte:, falou — e falou muito. Uma entrevista explosiva. Num momento em que o PT é fiador da crise e também a única ponte possível para tirar Cristian do cadafalso, Almansa fez o que muitos petistas ainda evitam (no caso dos vereadores, por serem ‘magistrados’ na votação de impeachments): assumiu posição. E posição contra a cassação.

Onde está a pólvora política? Sua opinião é tudo, menos irrelevante.

O PT tem dois votos na Câmara — exatamente o número que pode garantir que Cristian e João Paulo sejam cassados. Dois votos que valem uma Prefeitura. Um deles é o do próprio irmão de David, o vereador Gustavo Almansa.

Dá para entender o estrondo.

“Minha posição pessoal é que o PT não deveria colocar fogo nesta crise institucional”

David abriu a entrevista lembrando que jamais poupou Cristian:

“Cristian não é um governo santo. Fiz denúncias ao MP, ao MPC, houve operações da PF na Prefeitura e até na casa do prefeito. E fui vítima de campanha criminosa de milícias digitais na eleição”.

O resumo de Almansa é simples:

O governo é ruim? Sim.

Houve irregularidades? Sim.

Mas impeachment agora? Não.

“Minha posição pessoal é que o PT não deveria colocar fogo nesta crise institucional. Não deveria assumir a responsabilidade de salvar um lado, ou dar um presente a outro”.

David aponta o que chama de hipocrisia do jogo político:

“Os mesmos que querem cassar debochavam e perseguiam quando fiz as denúncias. E se beneficiaram dessas mesmas irregularidades em suas campanhas”.

A tese Almansa: impeachment virou arma política — e arma de grosso calibre

A crítica central do petista é ao Decreto-Lei 201/67, marco legal dos impeachments municipais.

“É decreto da época da ditadura. Sempre são usados de forma antidemocrática. Foi assim na cassação de Rita Sanco em Gravataí, e também na da presidente Dilma. Não vivemos o parlamentarismo. É balela que cassação resolve corrupção”.

A referência ao impeachment de Dilma tem potencial para criar ressonância automática dentro do PT. E dentro da Câmara.

“Não há cidade que sobreviva com crise institucional permanente. Seriam dois prefeitos cassados em três anos, quatro eleições em cinco anos”.

Ele desafia:

“Por que começar pela guilhotina e não por CPIs? Por que não aguardar a Justiça Eleitoral?”

Cachoeirinha 2050 — e o faroeste 2024

Almansa atira politicamente no governo e em vereadores:

“É uma cidade de faroeste. Cachoeirinha está seqüestrada. O Legislativo sempre foi uma extensão do Executivo. Interesses pessoais, não interesse público. Vereadores não leem projetos”.

Cristian, para Almansa, é fruto e vítima do sistema:

“Esse colapso que criou Cristian agora quer destruí-lo”.

E avalia:

“O maior exemplo é ainda não ter feito nada para proteger a cidade das enchentes. Só propaganda do Cachoeirinha 2050”.

PT e a bola 8

Os dois votos do PT são descritos por Almansa como uma “sinuca de bico”:

“Os dois vereadores do PT são os mais qualificados. Democratas pagam o preço da coerência. O PT terá que escolher o caminho menos ruim”.

E, pela primeira vez, diz explicitamente:

“Pessoalmente, sou contra a cassação. Somos o fiel da balança. E acredito que preservar o resultado das urnas é o caminho menos ruim”.

No plenário, suspense e cadeira vazia: PT ausente, crise presente

Na sessão que arquivou a parte referente ao vice no Impeachment 1.0 — mas manteve vivas as acusações contra o prefeito — os dois petistas não estavam presentes.

Leo da Costa, na COP30. Gustavo Almansa faltou à sessão.

Estranho, no mínimo, como escrevi em “É uma batalha espiritual”: Após absolvição pela Justiça Eleitoral, Cristian alerta para risco de Cachoeirinha perder investimentos em caso de cassação pela Câmara; leia todas as versões e Câmara de Cachoeirinha aprova arquivamento das denúncias contra vice-prefeito, mas Impeachment 1.0 do prefeito continua — e vice segue alvo do Impeachment 2.0; entenda — lembrando que Cristian talvez recorra a uma súplica política, que apelidei de “oração a São PT”.

Se o prefeito precisa exatamente dois votos, e o PT tem exatamente dois votos, a reza tem endereço.

Não há, porém, repudio de Almansa ao que chamei de a ‘prece dos homens’ — que é a possibilidade de os favoráveis ao impeachment oferecerem a presidência da Câmara ao PT em troca dos votos.

“Seria uma correção da falta de respeito à proporcionalidade das bancadas”.

O próprio Almansa confirma que mantém o nome à disposição do partido para concorrer a prefeito em uma eventual eleição suplementar.

Entre a ‘oração a São PT’ e a ‘prece dos homens’: Impeachment 1.0 segue. Impeachment 2.0 também

Com a comissão processante decidindo pelo prosseguimento das denúncias contra Cristian — e eliminando João Paulo das acusações no primeiro processo —, Cachoeirinha entra no roteiro já conhecido: Cristian pode cair sozinho, deixando João Paulo como prefeito; ou João Paulo também pode cair no Impeachment 2.0, repetindo o enredo Miki–Maurício de 2022, quando a Câmara derrubou os dois e a cidade voltou às urnas.

As duas votações podem ocorrer ainda este ano, o que transformaria a presidente da Câmara Jussara Caçapava (Avante) em prefeita interina até o TRE marcar — em até 180 dias — uma eleição suplementar.

Ao fim, no centro do bangue-bangue político, permanece o mesmo suspense: o que fará o PT?

Com a entrevista, David Almansa já antecipou seu spoiler. Resta saber se a bancada petista seguirá a mesma linha. Entre a ‘oração a São PT’ e a ‘prece dos homens’.

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NOTA PÚBLICA

Sobre a circulação de uma carta que está sendo indevidamente atribuída ao meu nome, venho a público esclarecer:

1. É absolutamente falsa a autoria do texto que está sendo divulgado em aplicativos de mensagem e redes sociais. Jamais escrevi ou autorizei qualquer conteúdo com aquelas afirmações, que não correspondem aos fatos e não refletem minha posição política, minha conduta ou minha relação com o Partido dos Trabalhadores.

2. Trata-se de uma tentativa evidente de manipular o debate político local, atribuindo a mim opiniões que não expressei e buscando comprometer a posição do PT em um momento delicado da conjuntura municipal. O Partido dos Trabalhadores tem instâncias legítimas, método e tradição democrática para formular suas posições — e seguirá utilizando esses instrumentos.

3. O conteúdo da carta também procura desqualificar lideranças fundamentais e aliados históricos do PT na região, como o vereador Gustavo Almansa , a deputada estadual Laura Sito, além de mim, pessoas com as quais mantenho relação política de respeito, construindo coletivamente a defesa dos interesses do povo de Cachoeirinha e de toda a região metropolitana.

4. A direção estadual do PT-RS, conforme deliberado em sua última reunião de executiva, designou uma comissão política para acompanhar a bancada e o processo em curso. É esta comissão — e não mensagens falsas ou disputas externas ao partido — que orientará uma posição coerente com a nossa história, com a defesa da democracia e com o compromisso permanente do PT com o povo de Cachoeirinha.

Reitero que sigo contribuindo com o debate político de forma leal, responsável e coletiva, como sempre fiz. Não participo nem participarei de ataques pessoais, operações subterrâneas ou tentativas de ruptura artificial que apenas fragilizam o campo democrático e prejudicam nossa relação com a população trabalhadora.

Por fim, faço um chamado para que todas e todos mantenham serenidade e tratem o debate interno do PT com o respeito que nossa militância e nossa história merecem. Seguimos firmes na defesa da democracia, da verdade e de um futuro melhor para Cachoeirinha.

David Almansa


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