Nos cinco anos do impeachment da prefeita Rita Sanco (PT), o Seguinte: relembra histórias do lado B da trama, que nunca foram contadas.
No domingo, trouxemos com exclusividade a revelação do vice-prefeito Cristiano Kingeski, que diz ter recebido dos mentores da cassação a proposta de sacrificar Rita e assumir como prefeito.
Hoje, ouvimos Julio Lima, marido da ex-prefeita, que é apontado por Vail Correa como um dos responsáveis na decisão que teve de votar a favor do afastamento da prima do poder.
– Fui chamado de corrupto, insultado e ameaçado pelo Julio, que disse que eu ganharia dinheiro para cassar a Rita. Disse na frente da minha família e de um monte de gente. Ali falei à minha esposa: meu voto está decidido e é a favor da cassação – é a versão que o ex-vereador Vail Correa conta desde a época, sobre a rusga testemunhada por muitos em um jantar às vésperas da votação do impeachment, durante o Chef na Cozinha, uma promoção do Sindilojas realizada no Paladino Tênis Clube.
Para quem não lembra, Rita foi afastada por 10 votos a quatro. Se tivesse revertido um voto, teria livrado a cabeça da guilhotina política que lhe custou o poder sem ter até agora, 1825 dias depois, nenhuma denúncia feita pelo Ministério Público ou qualquer condenação pelo Judiciário – onde uma ação corre desde a época, no 1º grau, na Justiça de Gravataí, ainda sem sentença.
Julio não se arrepende do que fez.
– O cara quando quer arrumar uma desculpa para tentar convencer aos outros que não cometeu uma injustiça, diz qualquer coisa – argumenta o empresário do ramo imobiliário.
– Acho que ele repete isso em voz alta para convencer a si próprio.
Sempre Cláudio Ávila
Julio conta que, naquela noite, participava do evento quando Cláudio Ávila, mentor do impeachment, passou por ele e lhe deu um esbarrão.
– Nem lembro o que ele disse, fazem cinco anos. E é das coisas que procurei apagar da mente porque são lembranças que remetem a pessoas tóxicas, coisas que fazem mal para gente. Sei que ele não apenas debochou, tocou flauta sobre a inevitabilidade da cassação. Ele falou da minha família – rememora, lembrando que Raquel, advogada filha da prefeita e de Julio, também foi envolvida nas denúncias que embasavam a cassação por um suposto relacionamento e sociedade de seu escritório com o procurador-geral do município, Ataídes Lemos da Costa.
– O que vou te dizer… Fui atrás do Cláudio, ele estava na banca com o Vail, e aí sobrou para todos mesmo. Defendi minha família. Faria tudo outra vez. Não sou de briga, mas quem sabe hoje faria até pior.
Julio faz questão de tratar a polêmica de forma emocional, não política.
– Nunca me envolvi politicamente. Sempre apoiei a Rita, que era a política da casa. Mas nunca pedi emprego para amigo na Prefeitura ou envolvi meus negócios privados com o poder público. Quem nos conhece, sabe.
Cláudio Ávila já informou ao Seguinte: que não falará sobre episódios do impeachment.
O dia da caça
Hoje, é Julio quem encerra com uma flauta:
– É como diz aquele ditado: um dia é da caça, outro do caçador. Dos 10 vereadores que cassaram a Rita, só dois estão reeleitos para a próxima legislatura (Nadir Rocha, do PMDB e Roberto Andrade, do PP).
No caso, seriam cassadores e cassados, com S.
Professora cassada no Dia dos Professores
Para recordar a história, a cassação de Rita aconteceu em 15 de outubro de 2011. Por 10 votos a quatro, a professora foi cassada no Dia dos Professores.
Era o fim de uma dinastia do PT no poder, iniciada com o primeiro governo de seu maior líder, Daniel Bordignon, em 1997.
O presidente do legislativo Nadir Rocha (PMDB) assumiu interinamente a Prefeitura e, em 15 de novembro daquele ano, os mesmos dez vereadores escolheram o colega Acimar da Silva (PMDB) como prefeito tampão até 31 de outubro de 2012.
Nas eleições seguinte, Marco Alba (PMDB), o grande conselheiro no ano e meio em que o gabinete do prefeito teve as plaquinhas com os nomes de Nadir e Acimar, foi eleito prefeito com 51 mil votos e assumiu em 1º de janeiro de 2013.
Já Bordignon e Cláudio Ávila se uniram no PDT e venceram a eleição deste ano como prefeito e vice. Eles aguardam a validação dos votos pelo TSE, que se não ocorrer pode levar a uma nova eleição, ou à diplomação do segundo colocado, Marco.
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