Após apenas quatro meses, Clebes Mendes entregou a liderança do governo ao prefeito Marco Alba numa reunião a portas fechadas com os outros quatro vereadores do PMDB, a presidente Sônia Oliveira e o vice, Paulão Martins.
A permanência estava insustentável após as críticas feitas ao vivo pelo ‘Bolsonaro da Aldeia’ ao secretário da Família e Assistência Social, Tanrac Saldanha, convocado para explicar na Câmara a redistribuição de conselheiros tutelares após uma polêmica que envolve denúncias, sindicância, afastamento e uma decisão judicial de reintegração.
– Em seis horas afastaram um conselheiro após decisão de sindicância. Mas em 30 dias ainda não cumpriram uma ordem judicial de reintegração. Injustiça eu não tolero – argumenta Clebes, ligado ao conselheiro afastado em sindicância aberta e concluída no governo interino de Nadir Rocha (PMDB).
– A justiça apontou perseguição política, por ter sido uma denúncia de colegas, sem nenhuma testemunha e determinou a troca de Conselho. Cobrei a operacionalidade da Secretaria. Por que o afastamento foi em tempo recorde e há tanta demora para cumprir uma ordem judicial? – disse há pouco ao Seguinte: o temperamental vereador, dando uma contemporizada na explosão que teve durante a sessão de terça, onde acusou o secretário de se “acovardar” e denunciou “forças políticas” operando pela derrubada do conselheiro.
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Tanrac: sem política
Tanrac Saldanha explica que o processo de troca de conselheiros tramita normalmente na Secretaria. Após a ordem judicial de reintegração, houve um sorteio e uma ordem de serviço está sendo publicada nesta sexta-feira redefinindo a formação dos conselhos tutelares Leste e Oeste.
– Mais não me cabe opinar. Como secretário, não me meto em política – resume o ex-vereador, que na eleição de 2016 foi candidato a vice de Marco, em 2017 cedeu o lugar ao eleito Áureo Tedesco e é apontado como um dos interlocutores do governo com o povo evangélico.
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A liderança em disputa
Antes, durante e depois da sessão de terça, por trás dos microfones, nos elevadores e nos corredores da Câmara estalava mais que o piso uma suposta crise entre Clebes e Alan Vieira – que por ser ligado a suplentes que poderiam substituir o conselheiro inicialmente afastado estaria entre os ‘suspeitos’ de acelerar a substituição.
– O Alan não tem a ver com isso. Mas muita gente jogou contra o time – despista Clebes, sempre sem dar marcha ré na coragem, referindo-se a todos os envolvidos nas intrigas terem algum tipo de ligação com o PMDB.
Presidente da Comissão da Criança e do Adolescente da Câmara, Alan diz ter evitado tratar da questão até uma decisão da justiça.
– Arrisquei perder amigas – confidencia, admitindo a ligação com conselheiras suplentes, mas negando qualquer influência no vai-e-vem de conselheiros.
– Acho inclusive que esse caso envolvendo conselheiros tutelares não é assunto para o parlamento – opina, minimizando a suposta crise entre ele e o colega de partido:
– Minha relação com Clebes é maravilhosa. É o político que, nestes cinco anos de parlamento, mais me aproximei em minha vida particular. Ele tem temperamento forte, eu sou calmo. Isso nos ajuda a superar crises em nome da amizade, da parceria e lealdade ao governo e ao partido.
Outro vereador da base do governo, que pede para ficar no anonimato, conta que o estresse entre os dois tinha como pano de fundo um disputa silenciosa pela liderança do governo na Câmara.
– O governo está deixando a choradeira no passado e apresentando pautas positivas. Antes ninguém queria, agora todo mundo quer a liderança do governo.
Prefeito decide
O Seguinte: ouviu todos os vereadores do PMDB, exceto Nadir Rocha, que por ser presidente da Câmara não ocupará o cargo. Ninguém tinha recebido convite ainda. Cuidadosos e sabedores que Marco Alba não gosta de ser pressionado, nenhum arrisca palpite.
– É o prefeito quem decide – diz Alan.
– Não sei, é com o prefeito – escapa Alex Tavares.
– É com o prefeito – despista um sorridente Paulinho da Farmácia, que se não for ele, pode ter sido o primeiro a saber, já que há pouco almoçava com Marco e o deputado federal Jones Martins na casa de Sérgio Zambiasi, de quem é o ‘cara’ em Gravataí.
O prefeito não respondeu o contato da reportagem sobre a liderança do governo.