Pensando em escrever a coluna de hoje, estanquei nessa palavra: coluna.
Então, trago um poema sobre uma coluna fraturada, sobre o assombro causado por um laudo médico, há muito tempo, e sobre a coragem admirável daqueles que fazem com as pessoas o que eu faço com as palavras.
Poema vertebrado
Um poema são
Palavras em coluna
Costuro ideias
Corto sentidos
Suprimo sílabas
Técnica métrica.
Por último,
anestesio.
Dormem os versos
não sentem dor.
Mas agora veio o doutor
dizer que vai fazer tudo isso
com os ossos da minha mãezinha.
Costurar, cortar, suprimir, anestesiar
Técnica médica.
– Com os ossinhos dela, doutor?
O mundo congelou
e eu olho para o doutor
de onde escorrega a palavra que
sai em direção aos meus ouvidos
mas se perde.
– O que o senhor disse?
ci-rur-gia
e eu olho para o doutor
de onde escorrega a palavra que
sai em direção aos meus ouvidos
mas se perde.
– Não entendi.
ci-rur-gia
e eu olho para o doutor
de onde escorrega a palavra que
sai em direção aos meus ouvidos
e espanca
sem nenhuma consoante oclusiva.
ci-rur-gia
– Costurar, cortar, suprimir, anestesiar
os ossos da minha mãezinha?
Uma gota rola do meu olho
e pinga no laudo de vértebra rota
fr
at
u
ra
o poema insano de palavras sem coluna.