RAFAEL MARTINELLI

Com estátua de 5 metros, Gravataí terá o maior santuário dedicado a Lúcifer no Brasil; Os limites da polêmica

Imagem enviada pelo Mestre Lukas de Bará da Rua, que serve de modelo para estátua de Gravataí

Com uma estátua de cinco metros do “anjo caído”, Gravataí terá o maior santuário dedicado a Lúcifer no Brasil. A notícia, publicada pelo Correio Braziliense e repercutida pelo Amo Gravataí, motivou uma horda de comentários nas redes antisociais. Até a Prefeitura publicou nota oficial, com trecho que reputo desnecessário.

Vamos à polêmica – e seus limites.

A inauguração da imagem da “Nova Ordem de Lúcifer na Terra” será dia 13, em sítio de cinco hectares pertencente à instituição que promove rituais de “demonolatria”, prática voltada para alta magia negra.

“Diante da grande repercussão nas redes sociais e questionamentos à prefeitura, a administração municipal informa que não tinha conhecimento até o momento sobre a criação de um santuário dedicado a Lúcifer na cidade. Não há qualquer vínculo ou recurso público da prefeitura no empreendimento”, diz nota oficial publicada pela Prefeitura, nesta quinta-feira.

– Lúcifer, na nossa visão, representa a luz do autoconhecimento. Não existe a ‘queda de Lúcifer’. Na verdade, temos uma interpretação diferente sobre as energias que equilibram o Universo – explica o Mestre Lukas de Bará da Rua.

Morador de Gravataí e um dos fundadores da organização religiosa que tem 20 templos entre Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, o religioso disse ao Seguinte: estar preparado para intolerância religiosa.

– O Supremo nos garante liberdade de culto e para sacralização – observa, sobre decisão de 2019 do Supremo Tribunal Federal (STF) que negou recurso interposto pelo Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul e validou lei estadual que entende que o sacrifício ritual de animais não se enquadra como maus tratos.

A garantia de liberdade religiosa também é garantida pela Constituição Federal, que diz que “(…)É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e às suas liturgias(…)”.

Uma lei sancionada em 2022, que equipara o crime de injuria racial ao crime de racismo, também protege a liberdade religiosa. 

A legislação agora prevê pena de 2 a 5 anos para quem obstar, impedir ou empregar violência contra quaisquer manifestações ou práticas religiosas.

A pena será aumentada a metade se o crime for cometido por duas ou mais pessoas, além de pagamento de multa. Antes, a lei previa pena de 1 a 3 anos de reclusão.

Esse arcabouço legal me faz apontar como desnecessário trecho da nota oficial divulgada pela Prefeitura que diz que “a administração municipal informa que não tinha conhecimento até o momento sobre a criação de um santuário dedicado a Lúcifer na cidade”.

Salvo melhor juízo, parece um pedido de desculpas.

Entendo bastaria o trecho de esclarecimento “não há qualquer vínculo ou recurso público da prefeitura no empreendimento”.

Ué, o jornalista não vai condenar o sacrifício de animais?, leitores que sabem que sou ativista da causa animal podem estar se perguntando.

Sigo crítico à sacralização em rituais (assim como exploração em rodeios ou outras atividades, e inclusive para alimentação humana), mas o fato é que a liberdade religiosa, inclusive usando animais, resta um direito garantido.

Goste-se ou não, a tolerância é uma exigência, sob pena da lei. Inclusive fui um dos jornalistas mais incisivos a cobrar provas quando da prisão de bruxo gravataiense sob suspeita de rituais envolvendo crianças, no caso que considero o maior mico da história da Polícia Civil gaúcha.

É a dos Lei dos Homens, a qual como agnóstico me submeto. Até que o Zeitgeist, o ‘espírito do tempo’, o conjunto de ideias e crenças que definem uma época, mude culturas. Nisto não há crime em crer.

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Uma resposta

  1. As pessoas tem o livre arbítrio de praticar qualquer culto ou religião, os recursos para a estátua não são públicos então o contribuinte não é prejudicado e tem que tolerar e respeitar os símbolos e as crenças religiosas de todos os seres humanos, um ateu empresário, ele não crê, mas libera seus empregados nos feriados religiosos, porque ele respeita a fé de seus funcionários, embora houve a muito tempo a separação entre igreja e estado, somos um país laico, mas mesmo assim temos feriados religiosos, então o Brasil mesmo sendo um país laico, tolera feriados da igreja católica porque somos um país de maioria católica, já um país com outras crenças majoritárias mesmo sendo laico, vai respeitar os feriados religiosos daquela crença majoritária

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