Gravataí voltou oficialmente ao posto de quarta maior economia do Rio Grande do Sul. Sem torcida ou secação: eu avisei. Ou, melhor, com torcida.
Com um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 15,55 bilhões em 2023, o município subiu duas posições no ranking estadual e confirmou o movimento que já vinha sendo antecipado — por números, por projeções e, sobretudo, pelos fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos.
Os dados foram divulgados na sexta-feira (19) pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE), ligado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG), em parceria com o IBGE. O levantamento consolida o desempenho econômico dos municípios gaúchos em 2023 e coloca Gravataí atrás apenas de Porto Alegre, Caxias do Sul e Canoas.
Para quem conhece minimamente como se comporta a economia local e a gaúcha, não houve surpresa.
A retomada da posição perdida durante a pandemia — quando a paralisação da General Motors derrubou o PIB e expôs a chamada “GMdependência” — já estava no radar. Como analisei ainda em dezembro de 2024, ao destrinchar o Orçamento de 2025, a volta à quarta posição era questão de tempo, não de aposta.
Está lá no artigo, de 27 de dezembro de 2024: R$ 1,3 bi, crescimento chinês e volta à quarta economia gaúcha: o que prevê o Orçamento de Gravataí para 2025; A ‘ideologia dos números’ – e do voto.
Os números agora só fecham a ‘conta de padeiro’.
Governo Zaffa comemora ranking de baixa carga tributária
O avanço de Gravataí no ranking ocorre em um contexto que o governo Luiz Zaffalon propagandeia: crescimento econômico sem aumento da carga tributária. Pelo contrário.
Segundo dados do Tesouro Nacional, o município hoje possui a menor carga de impostos entre as sete cidades mais populosas do Estado. Em 2024, cada gravataiense pagou, em média, R$ 898,47 em tributos, cerca de 40% abaixo da média de municípios de porte semelhante.
A engrenagem voltou a girar, principalmente, com a retomada da atividade industrial em 2022 e 2023. Nesse período, o valor adicionado do município mais do que dobrou, saltando de R$ 6,3 bilhões em 2021 para mais de R$ 13 bilhões em 2023 — movimento decisivo para a escalada no ranking estadual.
Outro motor importante foi a construção civil. Entre 2021 e 2025, Gravataí superou R$ 4 bilhões em investimentos no setor, envolvendo habitação, centros logísticos, empreendimentos industriais e grandes projetos imobiliários.
GM segue gigante — mas a economia se diversifica
A General Motors continua sendo um pilar: responde por cerca de 40% do PIB local e já tem confirmada a produção do novo Chevrolet Sonic na planta de Gravataí a partir de 2026.
Ao mesmo tempo, o município avança na diversificação da base econômica, com empresas tradicionais como Dana, Prometeon e TDK, novos gigantes como a Marquespan, e, principalmente, o novo polo logístico, com GLP e LOG.
Esse equilíbrio entre dependência histórica e diversificação crescente ajuda a explicar por que a retomada mostra sinais de sustentabilidade — apesar da necessidade de atenção eterna com a GM, que tem suspendido a produção pela crise dos semicondutores, fatores de mercado relacionados aos carros produzidos e o juro absurdo do Brasil.
Os efeitos sempre vem dois anos depois.
Tratei sobre isso a última vez (apesar de muitos comentaristas de rede antissocial só terem lido a manchete), em 27 de novembro, em GM corta contratos de 650 trabalhadores em Gravataí — e motivo pode ser bem maior do que queda nas vendas.
O secretário Davi não mentiu
Quando o Orçamento de 2025 foi aprovado, a análise já era de que Gravataí tinha retomado o caminho da quarta posição, mesmo antes da publicação oficial dos números do PIB.
À época, o secretário municipal da Fazenda, Davi Severgnini, disse ao Seguinte:: “Por esta variação proporcionada pela reação econômica pós-pandemia, já se dizia que Gravataí, a partir do PIB de 2022, deveria retomar a 4ª posição do Estado.”
Não mentiu. E permite projetar também algo maior: não se trata de um pico pontual, mas de um ciclo de crescimento sustentado, ancorado em atividade industrial, investimentos privados, recuperação do ICMS e expansão das receitas próprias.
Como define o prefeito Luiz Zaffalon, o resultado traduz confiança do setor produtivo.
– A combinação entre localização estratégica, infraestrutura, planejamento urbano, incentivos, baixa carga de impostos e segurança jurídica tem impulsionado os investimentos em Gravataí. Os números expressam a confiança do setor privado no município e se traduzem em mais serviços públicos e qualidade de vida – afirma.
A ‘ideologia dos números’
Ao fim, Gravataí foi o principal destaque do ranking, ao avançar da sexta para a quarta posição, com o segundo maior ganho de participação no Estado.
Em 2023, os dez maiores municípios responderam por 40,77% da economia gaúcha, mantendo a concentração observada nos últimos anos. Porto Alegre lidera com PIB de R$ 104,74 bilhões, seguida por Caxias do Sul e Canoas.
No fim das contas, o dado oficial apenas consolida o diagnóstico que já estava posto: Gravataí caiu quando a indústria parou; voltou a subir quando ela voltou a produzir. Simples assim. Sob a ‘ideologia dos números’ — e longe das narrativas.
(Mas, gravataienses, recomenda-se sempre um olho na GM).






