A política da que chamo ‘Pobre Cachoeirinha!’ resta mais uma vez confundida com as páginas policiais. No caso, com vídeos policiais.
O mais novo escândalo – que ganhou longos minutos na Record na noite desta segunda-feira – é Street Fighter, briga tipo de rua, mas ocorrida na última quinta-feira dentro de prédio da Prefeitura, envolvendo o presidente da Câmara, Paulinho da Farmácia (PDT), e o diretor da Prefeitura Carlos Dias, filho da vereadora Jussara Caçapava (Avante).
Na versão ainda não divulgada, que trago neste artigo, há denúncia feita pelo chefe do legislativo e terceiro na linha de sucessão municipal de suspeitas de irregularidades em contrato de tapa-buraco – sanada pelo prefeito Cristian Wasem, mas que teria, nas palavras de Paulinho, “causado desconforto” na Secretaria – e de perseguição política; apesar de todos os envolvidos integrarem a base governista.
Antes de analisar, vamos às informações.
São três vídeos do sistema de monitoramento de câmeras do município, que constroem – e confundem – as diferentes narrativas; dois não divulgados na TV, mas aos quais o Seguinte: teve acesso e reproduz.
Sigamos na cronologia.
Durante o fim de semana o vídeo a seguir circulou por grupos de WhatsApp, mostrando a briga, na Secretaria de Infraestrutura. Assista na SEGUINTE TV e, abaixo, sigo.
Nesta segunda, deu na tv.
O presidente falou com a reportagem, mas não gravou vídeo. Conforme a Record, disse que foi “uma discussão de trabalho” pela “cobrança de um serviço solicitado”.
O diretor Carlos Dias deu entrevista para o Cidade Alerta, onde relatou ter, ao se dirigir para sua sala, recebido uma cabeçada do presidente da Câmara, que o cobrava por serviço que justificou estar atrasado devido ao ciclone.
O CC, que é filho da vereadora, também informou ter registrado ocorrência policial, onde representa criminalmente contra o presidente ao denunciar a agressão.
A Prefeitura divulgou nota oficial. Reproduzo e, abaixo, sigo com o dia de hoje.
“(…)
A Prefeitura de Cachoeirinha, por meio de sua Diretoria de Comunicação, vem a público informar sobre o incidente ocorrido nas dependências da Secretaria de Infraestrutura e Serviços Urbanos, na última quinta-feira, dia 22 de junho de 2023, envolvendo os servidores Leonardo Woll Oliveira e Carlos Roberto Dias, entre outros servidores que estavam presentes.
A administração municipal está ciente do ocorrido e considera o incidente de extrema gravidade. Diante disso, será aberto um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) para averiguar detalhadamente os fatos e aprofundar a investigação sobre o envolvimento dos servidores.
O PAD tem como objetivo principal analisar de forma imparcial as circunstâncias em que ocorreu o desentendimento entre os servidores e determinar a responsabilidade de cada um dos envolvidos. A prefeitura se compromete a conduzir o processo com rigor e transparência, assegurando os direitos de defesa dos servidores.
Caso seja comprovada a culpabilidade dos envolvidos, a prefeitura tomará as medidas cabíveis para garantir a adequada penalização, que pode incluir o afastamento dos servidores das suas funções, conforme previsto na legislação vigente e nas normas internas do município.
A administração municipal reforça seu compromisso com a ética, o respeito, a integridade e a excelência no serviço público. Repudiamos veementemente qualquer forma de violência ou desrespeito no ambiente de trabalho e ressaltamos que episódios como este não condizem com os valores e princípios que regem a nossa instituição.
A prefeitura reafirma seu comprometimento em zelar pela qualidade do ambiente de trabalho, buscando sempre promover a harmonia, o diálogo e o respeito entre todos os seus servidores. Ações de sensibilização e treinamentos serão realizados para reforçar a importância da convivência pacífica e da resolução adequada de conflitos.
A Prefeitura de Cachoeirinha assegura que manterá a população informada sobre o andamento do processo, garantindo a transparência e a prestação de contas aos cidadãos.
Diretoria de Comunicação Prefeitura de Cachoeirinha
(…)”
Sigo eu.
Paulinho da Farmácia atendeu ao Seguinte: nesta manhã, logo após falar ao SBT. O presidente da Câmara enviou dois vídeos, que disse ter recebido pelo WhatsApp, que em sua versão demonstrariam que só fez menção de dar a cabeçada e foi agredido pelo diretor no corredor e, depois, perseguido até fora do prédio da Prefeitura e ameaçado.
Assista aos 2 vídeos na SEGUINTE TV e, abaixo, sigo com a versão de Paulinho.
O presidente alega que, no ano passado, após verificar irregularidades nas medições de asfalto comprado pela Prefeitura fez a denúncia a Cristian Wasem na casa do prefeito:
– O contrato não foi renovado e isso causou desconforto na Secretaria – disse, sem citar nomes, mesmo perguntado pelo Seguinte:.
Paulinho relata que, na quinta, após cobrar, nas escadas, obra na rua João Oscar de Oliveira que estaria atrasada três meses, foi perseguido por Carlos Dias até a porta da sala da diretoria de saneamento.
– É mentira que era a sala dele. Veio brabo, por trás de mim, e disse: “tu vem colher coisas aqui, tem que apanhar na cara”. É só ver o vídeo: não dou cabeçada, só o afasto de perto de mim. Ele vem para cima, meu filho entra na frente e é derrubado por ele. Tento separar e ele dá um soco no meu braço, enquanto tentam apartar – narra.
O presidente diz que, enquanto tentava ligar para a Guarda Municipal, o diretor o ameaçou:
– Ele disse: “reza para não acontecer nada contigo”. E, quando já estávamos do lado de fora, no carro, disse “abre teu olho”.
Conforme o presidente, o prefeito ligou no mesmo dia sugerindo “resolverem internamente” a crise. Ontem, após a reportagem da Record, ligou novamente “pedindo calma”, já que a vereadora Jussara Caçapava está em viagem oficial em Brasília.
– Faço cobranças como vereador. É minha função. Mas nunca faltei com respeito. Estou no segundo mandato e sei da reponsabilidade de ser presidente da Câmara de Cachoeirinha. Mas estou sendo alvo de perseguição política, pelo destaque ao meu trabalho, recuperando a independência e a estrutura de um legislativo destruído, além de minha reeleição, sem familiares ou padrinhos políticos, com 400 votos apesar de quase ter morrido de covid, mas principalmente por ter ido a Brasília com o vereador David Almansa (PT) – argumenta, sobre a viagem ao lado do oposicionista para articular junto ao governo Lula a atração de um instituto federal para Cachoeirinha; leia em A hora da grandeza pelo Instituto Federal em Cachoeirinha; Dois, três, quatro ou 132.144 pais preocupados com a criança é melhor que um, ou nenhum, não é, prefeito Cristian e vereador Almansa?.
– Viajei representando a Câmara institucionalmente para uma pauta nobre. Não é um ano eleitoral. Integro a base de governo. Mas não deixo de cobrar e prestar contas ao povo que me elege – acrescentou.
Paulinho, que disse aguardar ser chamado para dar sua versão na polícia, não teme ser alvo de denúncia da Comissão de Ética da Câmara, cujas penas previstas pelo Regimento Interno preveem até cassação de mandato por quebra de decoro parlamentar.
– Os vídeos são esclarecedores. A única coisa que alertei meu filho é que, se algo acontecer comigo, tem endereço – conclui.
Ao fim, encerro como abro este artigo: “a política da que chamo ‘Pobre Cachoeirinha!’ resta mais uma vez confundida com as páginas policiais”.
Aguardemos as investigações.
Lembra-me – com preocupação – Dom Casmurro, de Machado de Assis: “Aos quinze anos, há até certa graça em ameaçar muito e não executar nada”. Acontece que nenhum dos envolvidos é debutante na vida e na política. Que coloquem a cabeça no lugar.