Mais do que uma “cachaçaria”, estabelecimento que apenas comercializa a cachaça, o Alambique de Pedra é literalmente um alambique, local em que se produz a cachaça, bem como é o empreendimento de Gravataí, instalado em um pacato loteamento – Cadiz – de Morungava.
O Seguinte: foi conhecer o local idealizado e projetado por Sidinei Roberto Silva da Silva, que foi metalúrgico por 23 anos e, agora, está aposentado. Com a esposa Cláudia, o filho Filipe e a nora Nathalia ele toca um alambique em franco crescimento. Quando se aposentou, Sidinei, o Palito, como é conhecido, já tinha um terreno no loteamento, adquirido em 1992.
Foi comprando mais um e mais um e mais um e hoje tem o equivalente a um hectare, onde tem sua moradia, o alambique, um campinho de futebol e de vôlei na grama para amigos e familiares em momentos de confraternização, uma área onde cultiva cana-de-açúcar e o alambique. Tudo guarnecido por uma matilha das raças Dog Alemão e Labrador.
A ideia de produzir cachaça surgiu como hobby e a primeira ‘partida’, de cerca de 300 litros, aconteceu há 10 anos, lá em 2007. Desde então o maquinário, que é como Palito chama as peças que compõem o alambique, ganharam uma proporção mais de 10 vezes maior, em tamanho e, óbvio, capacidade de produção.
Em 2013 ele ainda produzia cerca de 300 litros por ano, mas já no ano seguinte, com a inauguração do complexo atual, já passou para 1 mil litros, mesmo volume colocado na rua em 2015. Em 2016 aconteceu o primeiro salto, para aproximadamente 3 mil litros. E a meta para este 2017 é superar a marca dos 5 mil litros.
Veja no vídeo o que Palito fala sobre o seu Alambique de Pedra.
O local
O nome Alambique de Pedra tem razão de ser. A estrutura toda foi construída em pedra gres, abundante na região de Morungava e imediações. Palito fez o esboço, o lay-out da construção, aproveitando o declive do terreno. Os tanques e os alambiques propriamente dito (em cobre), vieram quase todos de um fornecedor de Minas Gerais.
Um investimento feito aos poucos, hoje na ordem de uns R$ 500 mil.
Por dentro, muita madeira – pinho, rústico – e bom gosto! Um bar para atender aos grupos que procuram o Alambique de Pedra (sempre com datas e horários previamente agendados) para encontros de confraternização, festas de aniversário, formaturas ou simplesmente um happy hour de colegas de empresa – até 50 pessoas.
Até um casamento já aconteceu no local. Os noivos, de Porto Alegre, escolheram o Alambique de Pedra pela beleza do lugar, interna e externamente, depois de indicação de amigos.
Em breve Palito vai transformar uma sala onde mantém equipamentos e serve de escritório em um ambiente com churrasqueira.
— É para ter algo a mais para oferecer a quem quiser fazer uma festinha aqui — diz Palito, de forma modesta, mostrando a “casa”.
Gravidade
Na parte mais alta do terreno ele planta cana. Quando colhe, a palha fica na lavoura. Quando prensa a cana para extrair a garapa – caldo de cana – manda o bagaço para decompor na área de cultivo. Para completar a adubação usa esterco de galinhas que compra de São Sebastião do Caí.
A cana é prensada na parte mais alta do prédio do alambique. Uma espécie de mezanino. Depois, por gravidade, o caldo de cana escoa para os locais nos quais acontece o processo de filtragem, a decantação, fermentação e destilação. A parte inicial da cachaça, chamada de “cabeça”, é descartada por conter as impurezas.
O restante se destina à produção da cachaça branca ou envelhecida, além dos licores de diversos sabores – excelentes, diga-se de passagem! – que também levam a marca Palitu’s – em inglês, do Palito – impressa em serigrafia em garrafas especiais. A arte das garrafas, a logotipia da marca e o site também foram uma concepção familiar.
: Sidinei, o Palito (esquerda), com o filho Filipe, tem planos para profissionalizar e expandir os negócios
Clube da cachaça
A produção do Alambique de Pedra, atualmente, é comercializada quase toda na própria casa, nos eventos que acontecem, ou nas feiras das quais participa, como a recente Feira Agrorrural de Gravataí, a Fearg, em Morungava mesmo. Quem vai ao alambique do Palito dificilmente sai com mãos abanando.
Os compradores da cachaça Palitu’s são pessoas que têm poder aquisitivo um pouco mais elevado – cada garrafa de um litro custa R$ 20,00 – e apreciadores de um produto com qualidade. Boa parte compra pela apresentação – garrafa, impressão da marca e embalagem – para presentear amigos.
E há, ainda, os cachaceiros (no bom sentido, claro!) que vão visitar o alambique ou adquirem uma garrafa durante algum evento e não a levam. Preferem deixá-la, com seu nome, em prateleiras onde estão as garrafas do chamado Clube da Cachaça. Ali tem nomes de pessoas da Alemanha, da China, Nova Zelândia, de vários outros países e diversos estados brasileiros.
— Eles tomaram um pouco e deixaram aqui, e aqui vai ficar até eles voltarem. Se não voltarem, as garrafas vão ficar ali, com os nomes deles, para sempre — garante Palito, informando que o Clube da Cachaça surgiu em 2015 por sugestão de um funcionário do Ministério da Educação, o gaúcho Leonel Cunha, depois que foi conhecer o alambique.
Os 20 graus
Ladeado pelo filho Filipe, um técnico em Logística que hoje se dedica a ajudar o pai, Palito conta que num espaço que chama de porão mantém 12 barris de carvalho para envelhecimento da cachaça. A temperatura é mantida em 20 graus, e a umidade que brota da parede de pedra gres erguida na encosta do barranco escavado é uma necessidade para a preservação dos barris.
Palito, o Sidinei Roberto, se diz um curioso na produção da cachaça artesanal. Mas é um curioso bem profissional se forem considerados os três cursos que fez na Universidade On-line de Viçosa, de Minas Gerais. Um para a produção e cultivo da cana-de-açúcar. Outro, para produzir cachaça orgânica e o último para fabricação de cachaça artesanal.
E ele fala com desenvoltura sobre todo o processo, graduação alcoólica, temperatura ambiente, harmonização de sabores, diferença entre cachaçaria e alambique, ou cachaça e água ardente. E garante que, embora não tenha sequer funcionário no alambique, quer expandir o negócio e, a curto-médio prazo ter representante para colocar sua cachaça pelo Rio Grande do Sul afora.
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