Cerca de quatro metros de altura e aproximadamente 120 quilos de ferro. Movimentos e arabescos no estilo art noveau, de arquitetura e arte decorativa, surgidos da mais pura inspiração. Do nada. Apenas do pedido para que fosse produzida uma cruz que serviria de monumento para reconhecimento à importância e à presença dos índios guaranis nos primórdios do povoamento de Gravataí.
Dos tempos em que estas terras ainda eram chamadas de Aldeia de Nossa Senhora dos Anjos.
Foram os índios, praticamente expulsos das terras que habitavam na região dos Sete Povos das Missões, que chegaram à aldeia em meio às disputas entre espanhóis e portugueses por domínio territorial. Aqui fincaram raízes, geraram filhos, começaram a produzir telhas, tijolos e louças de barro…
Beneficiavam em moinhos o trigo cultivado na região.
Até serem expulsos pela ganância mercantilista dos nobres senhores portugueses que passaram a ocupar o que havia sido construído pelos índios Guaranis. Um processo que demandou pelo menos duas décadas e que, ao seu final, já no começo do século 19, fez com que por aqui não restassem mais do que 250 índios, ou cerca de 10%, apenas, da população de Guaranis que por aqui aportou e instituiu as bases do que, hoje, é o município de Gravataí.
Esta é, em síntese, a história contada na revista “Gravataí Missioneira – Origens”, lançada na manhã desta sexta-feira (12/4) enquanto se dava a solenidade de inauguração da cruz.
Mas uma cruz diferente.
Uma Cruz Missioneira, também chamada de Cruz de Lorena, ou ainda Cruz de Caravaca, de origem espanhola e trazida às américas pelos padres jesuítas.
E foi ela, a Cruz Missioneira, criada pelo artista Hermes José Vega Costa, o Ferreiro Vega, que o prefeito de Gravataí, Marco Alba (MDB), inaugurou na manhã de hoje ao lado de mais 11 prefeitos – quase todos vindos de municípios da Região das Missões – na entrada da cidade, trevo da RS-118 com a avenida Centenário.
— É de suma importância saber todo o conteúdo histórico, do início do povoamento da região, além da cronologia que nos trouxe até os dias de hoje, nesse município desenvolvido, próspero, mas que tem que resgatar sua história — disse o prefeito Alba.
A religiosidade
Mais do que o reconhecimento e à participação da comunidade indígena na formação de Gravataí, a inauguração da Cruz Missioneira teve motivações de cunho religioso e econômico. Para o padre Lucas Mendes, a cruz remete à ideia de que na cidade é valorizada a questão da religiosidade entre as pessoas.
— Ter na entrada da cidade o símbolo do Cristianismo significa que aqui se valoriza a real dimensão da fé. É demonstrar que a raiz da nossa cidade também é fundada sobre uma dimensão religiosa — disse o padre, após a bênção ao monumento e às pessoas que acompanharam a solenidade.
O prefeito Marco Alba deu a dimensão sob o aspecto econômico.
— A nossa identificação com a região missioneira pode nos trazer o desenvolvimento do turismo e essa é uma estratégia nova com uma visão diferente, já que somos um munícipio de pré-Serra porque aqui começam as mudanças no relevo do Sul, e temos esta questão cultural da história do Rio Grande e seu povoamento, da história do Sepé Tiarajú, dos índios guaranis, da vinda dos espanhóis e depois dos portugueses que ocuparam estas regiões — disse o prefeito.
Corredor turístico
O representante da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Gravataí, Iuri Camargo, reforçou o que disse o prefeito Alba sobre a estratégia de vincular, legitimamente, o município com a questão das missões e o movimento indigenista como forma de fomentar o turismo e o crescimento da economia por este viés.
— Estamos promovendo a ligação de um corredor turístico que tem no mínimo mil quilômetros e integra quatro países do Cone Sul, e Gravataí tem um potencial muito grande para fazer parte deste corredor. Cada cidade do estado tem na sua formação um pouco das Missões, um pouco dos Guaranis, mas Gravataí tem mais. O próprio nome é de origem Guarani, é Rio dos Gravatás — explicou.
Iuri também falou que o município está construindo um plano de turismo que classificou como “muito sólido” e que conta o orgulho da cidade e resgata a história do município.
— Nós temos esta vontade de transformar a cidade em um polo turístico, não só de passagem como é hoje mas em um real centro de atração turística. O que aconteceu aqui hoje, com a inauguração desse monumento que é a Cruz Missioneira, é o marco inicial desta proposta de nos ligarmos às missões — concluiu.
PARA SABER
1
O que diferencia a Cruz Missioneira daquela de Jesus Cristo é o segundo braço, menor, que representa a placa com a inscrição INRI, que vem do Latim e quer dizer Jesus Nazareno Rei dos Judeus.
2
O videodocumentário mandado produzir pela administração municipal, também resgatando o povoamento inicial de Gravataí por conta das Missões, pelos índios Guaranis, e que seria igualmente lançado nesta sexta, ainda está sendo finalizado.
3
Antes de ser postado no Canal YouTube, segundo informou a assessoria de comunicação do gabinete do prefeito Marco Alba, vai ser produzido um segundo vídeo, com menos tempo de duração, que será divulgado nas redes sociais e enviado via canais de conversação, chamando para o link do documentário.
4
Para fazer com que a Cruz Missioneira se consolide como ponto turístico do município, a Secretaria de Obras – em parceria com outras pastas como Mobilidade Urbana – já analisa abrir espaço nas imediações do monumento para o estacionamento de veículos.
5
A inauguração da Cruz Missioneira se dá na semana em que Gravataí comemora seus 256 anos desde os primeiros registros históricos do povoamento, que datam de 8 de abril de 1763.
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Cruz Missioneira resgata a importância dos guaranis na formação de Gravataí
OS MUNICÍPIOS
: Fazem parte da Região das Missões um total de 46 municípios.
: As Missões abrangem duas grandes rotas turísticas, que não coincidem com as microrregiões: Rota do Rio Uruguai e Rota Missões.
: É por isso que, dependendo do contexto, são considerados apenas os municípios da Rota Missões como missioneiros.
Rota das Missões
Rota do Rio Uruguai
Confira no video abaixo a reportagem do Seguinte: na inauguração da Cruz Missioneira.
Por que Missões
1 O nome deriva do fato de que nessa região foram edificadas, entre os séculos XVII e XVIII, as reduções jesuíticas dos Guarani, chamadas Missões. No lado brasileiro, foram criadas sete reduções, denominadas de Sete Povos das Missões.
2 Sete Povos das Missões é o nome que se deu ao conjunto de sete aldeamentos indígenas fundados pelos Jesuítas espanhóis na região do "Rio Grande de São Pedro", atual Rio Grande do Sul.
3 Fazem parte as reduções de São Francisco de Borja (São Borja), São Nicolau, São Miguel Arcanjo (São Miguel das Missões), São Lourenço Mártir (São Lourenço), São João Batista, São Luiz Gonzaga e Santo Ângelo Custódio (Santo Ângelo).
Em fotos:
: Cruz Missioneira fica no trevo da RS-118 com a avenida Centenário
: Prefeitos de Gravataí e mais 11 municípios descerraram a placa do monumento
: Padre Lucas Mendes, de Gravataí, deu a bênção ao monumento
: O que está escrito ao pé da Cruz Missioneira
: Ferreiro Vega, de Gravataí, fez a Cruz em 45 dias de trabalho
: Raul Selva, descendente de índios Guaranis, na inauguração da Cruz