Quando se fala em mercado imobiliário e sua expansão, em Gravataí e Cachoeirinha, nas últimas cinco décadas, aproximadamente, o nome de um empresário quase ‘salta’ à memória da grande maioria das pessoas: Romeu Pessato, o fundador da – hoje! – Pessato Negócio Imobiliários, dona de uma carteira com mais de 15 mil clientes e que presta serviços de intermediação (compra e venda), locação de imóveis e administração de condomínios.
Agora mais afastado das atividades administrativas – que entregou à filha Luciane Pessato – o “gringo” de Nova Prata, descendente de italianos da região do Vêneto, mais precisamente da cidade de Vicenza, vive em um confortável apartamento meio na divisa entre os sossegados bairros Rio Branco e Bela Vista, em Porto Alegre. Ao seu lado, dona Maria José Villas Bôas Pessato, de descendência espanhola-portuguesa, a esposa com quem vai festejar dia 23 de julho nada menos que 58 anos de casamento. Bodas de vidro!
Da união nasceram três filhos. Luciane, no lugar do pai à frente dos negócios; Fernando, já falecido; e Cristiane, cirurgiã-dentista que mora na Austrália. Romeu, na realidade um economista por formação acadêmica, canudo que botou sob o braço no final dos anos 50 na Pontifícia Universidade Católica (PUC), sempre trabalhou com imóveis.
Desde quando assessorava o pai, Atilio Giacomo Pessato, à época sócio do empreendedor e visionário Fidel Zanchetta. De Porto Alegre, onde sempre residiu, acompanhou os dois quando começaram a realizar os primeiros loteamentos na região onde atualmente é Cachoeirinha. E Romeu Pessato é grato ao que aprendeu, principalmente com Zanchetta, negociador que, para fazer ‘pegar preço’ nos terrenos, não hesitava realizar concessões.
Doou por exemplo o terreno para construção de uma escola que leva seu nome em Cachoeirinha, na Vila Fátima. À volta do educandário, ele e Atilio venderam vários terrenos. Doou também a área onde se instalou a Icotron, hoje empresa TDK-Epcos do Brasil, na Estrada da Cavalhada, Gravataí, bem como para a instalação de um posto de combustíveis na antiga RS-030, de chão batido, que ligava a capital dos gaúchos ao Litoral Norte.
Foi o estopim para a urbanização do que é atualmente o Parque dos Anjos.
— A Icotron precisava expandir, e estava procurando um terreno maior. O Fidel Zanchetta tinha comprado uma área grande e ficou sabendo que a Icotron queria mudar. Ele foi lá e disse “eu tenho uma área para vocês, e não custa nada”. Ele era um esteio, ele sabia fazer negócios — destaca Pessato.
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Bom para os dois
A esposa, Maria José, lembrou durante a conversa que ambos mantiveram com a reportagem do Seguinte:, que o marido Romeu sempre seguiu a máxima popular segundo a qual “um negócio tem que ser bom para os dois”. Ou seja, as duas partes têm que ficar satisfeitas, tanto quem vendeu quando quem comprou. Isso, em razão da ênfase com que Romeu Pessato fala do seu passado como corretor imobiliário.
— Sempre fui honesto nos negócios. Ninguém, nunca, bateu na minha porta para reclamar que não conseguiu fazer a transferência ou a escritura. Todos os negócios que fiz sempre foram legalizados, bem documentados — destaca, afirmando que no mercado de hoje “tem muito picareta, gente que compra um pedaço de terra e depois vende sem dar escritura”.
Primeiro carro
Dona Maria José também recorda de um negócio que lhe rendeu, como contrapartida pelo companheirismo de sempre, o primeiro carro. Foi quando a Icotron se instalou na Estrada da Cavalhada e necessitava do que seria uma “barreira”, ou seja, uma faixa de terra que distanciasse as instalações da empresa de qualquer movimentação de veículos evitando que a poeira das vias de chão batido chegasse à asséptica linha de produção.
Romeu Pessato havia adquirido, então, uma área junto à propriedade antes comprada por Fidel Zancheta. Parte desse imóvel foi adquirido pela direção da Icotron para isolar a empresa do pó que poderia prejudicar a produção de seus eletrônicos. Com parte do dinheiro da venda dona Maria José ganhou seu primeiro automóvel. Um Volkswagen, modelo Fusca. Azul, como gremista que o casal é!
— Era um fusquinha, azulzinho bem clarinho. Claro que sou gremista, certamente, então tinha que ser azul — sentencia.
E é ela quem garante: o marido Romeu Pessato é uma pessoa de hábitos simples, bastante caseiro nas últimas semanas embora necessitasse realizar caminhadas. Ele gosta de receber amigos em casa, alguns para jantares regados a vinho tinto, seco, os preferidos dele. Sozinho, gosta de assistir televisão, especialmente ver filmes e jogos de futebol.
Fora isso, Romeu Pessato e sua Maria José com frequência viajam. Foram várias vezes à Europa, para a Serra Gaúcha, onde possuem propriedade na qual aproveitam para conviver com familiares. Ou Rio de Janeiro, onde têm apartamento a poucos passos do calçadão – e da praia! – de Copacabana. Aliás, onde ambos se encontram atualmente, fugindo do rigoroso frio dos últimos dias.
Bradesco e Pirelli
Romeu Pessato mais jovem era um exímio apreciador de perdizes com polenta. E um excelente cozinheiro.
— Meu Deus do céu! — exclama, quando provocado sobre o assunto.
Daqueles que saía à campo para buscar as perdizes que iram mais tarde para a panela.
— Meu Deus do céu! — Volta a exclamar. E completa que ainda tem guardadas as armas que utilizava nas caçadas.
Aliás, foi uma destas ‘perdizadas’ com polenta e vinho de garrafão que contribuíram, pelo menos em parte, para que a Fundação Bradesco optasse por instalar em Gravataí uma de suas unidades educacionais. Lógico, no Parque dos Anjos. Ele, convidado por um dos diretores da empresa Cervieri Engenharia, preparou uma ‘perdizada’ para o alto escalão do Bradesco que estaria em Porto Alegre.
— O pessoal do Bradesco, de São Paulo, entre eles o presidente, vinha ao estado para uma exposição de animais. Nem conheciam Gravataí. O Romeu foi chamado para fazer a ‘perdizada’ lá na Cervieri, e o pessoal todo ficou encantado. Foi quando surgiu a possibilidade de colocar a Fundação em Gravataí, o que acabou acontecendo — contou a esposa, sempre atenta.
E o sucesso foi tão grande que Romeu Pessato foi convidado a cozinhar – perdizes, claro! – em São Paulo, para toda a diretoria do Bradesco. Teria sido a primeira vez que todos os 11 diretores da época, do Bradesco, se reuniram ao mesmo tempo na capital paulista. Por causa da ‘perdizada’ do intrépido Romeu. Claro que, depois, outras reuniões aconteceram com convites ao empresário e, nestas ocasiões, com a presença das esposas.
Uma outra ‘perdizada’ importante aconteceu antes, e envolveu a direção da Pirelli quando a empresa ainda estava se instalando em Gravataí. Romeu Pessato conta que “não tinha uma casa bonita para receber gente tão importante”, e o jantar também regado a vinho da colônia aconteceu na casa do seu pai, e quem preparou as perdizes foi sua mãe.
O velho Atilio tinha por hábito recepcionar convidados ao melhor estilo italiano. Inclusive colocava em prática o costume de encerrar as noitadas distribuindo charutos aos convivas, ao mesmo tempo em que um fino licor (Cointreau) era servido como digestivo. Ambos – charuto e licor – eram a senha para que os visitantes se despedissem.
— Mas o pessoal estava tão animado que não queria ir embora. Foi a um ponto que meu pai ficou irritado, pegou os charutos que tinha dado para eles, molhou no licor e enfiou na boca de cada um para que fumassem e fossem embora. Eu morri de vergonha — contou Romeu.
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Muitas amizades
Mesmo sem ter estado em Gravataí com a frequência de antes, quando percorria o trecho Porto Alegre-Imobiliária Pessato diariamente, o veterano empresário garante que tem muitas amizades na aldeia dos anjos. Aqueles que o veem, ainda que esporadicamente, segundo conta, reclamam da ausência de Romeu na cidade na qual também teve intenso envolvimento social como membro do Rotary Clube e do Paladino Tênis Clube, entre outras entidades.
Confira, abaixo, o vídeo com o bate-papo que o Seguinte: teve com o empresário Romeu Pessato na semana que passou.