Bem falante. Despojado no vestir – calça de brim e camisa polo – e de sorriso fácil. Foi como Sérgio Tadeu Pereira recebeu a reportagem do Seguinte: para falar um pouco sobre muitas coisas e, principalmente, sobre como se tornou o maior empresário do Sul do Brasil no ramo do transporte de passageiros.
Para quem ainda não sabe: Sérgio é um dos donos – junto com José de Jesus Teiga Júnior – da Sociedade de Ônibus Gigante Ltda, a Sogil, que tem na garagem nada menos que 300 ônibus, além de pelo menos mais 10 veículos de apoio, e aproximadamente 900 colaboradores diretos.
Além disso, é sócio da própria Sogil na empresa Navegantes, em Porto Alegre, é dono da Viação Santa Tereza (Visate) de Caxias do Sul e da empresa de Santo Anjo, de Florianópolis. No total, Sérgio Pereira calcula que tenha sob sua administração quase 1.000 ônibus e veículos de apoio, e cerca de 3.000 funcionários.
Só no whats
O pai da Letícia (33 anos), Carlos Henrique (35), Cristina (37) e Carlos Eduardo (40), casado e natural de Gravataí mesmo – “ali da Morungava, com muito orgulho”, faz questão de dizer – é avesso a tecnologia embora tenha diante dele um moderno computador na sala que ocupa. Administrar mesmo, de modo direto, não mais.
Agora Sérgio é do Conselho de Administração da Sogil. Assim como seu sócio, Teiga Júnior. A direção geral da Sogil, por exemplo, entregou ao genro Fabiano Rocha Izabel. Ainda sobre modernismos: O todo-poderoso da Sogil só faz uso mesmo da ferramenta WhatsApp, que é para facilitar a comunicação com familiares e diretores e gerentes das empresas que tem sob sua tutela.
Pelo pátio
Sérgio Pereira ingressou na Sogil como frentista do posto de gasolina em que eram abastecidos os ônibus e veículos particulares na antiga garagem, que ficava no Parque dos Anjos. Há cerca de 30 anos está na sede atual, na RS-030. Antes dele, seu pai, José Alves Pereira, era sócio na empresa com o pai de Júnior, José de Jesus Teiga, que foi o fundador da Sogil.
— Hoje estou afastado da administração. As coisas estão muito bem encaminhadas, tudo delegado aos diretores e gerentes. Temos um quadro diretivo muito bom — afirma.
Mesmo assim, sempre que chega a uma das empresas dá uma volta, no próprio carro, pelo pátio das garagens. Outro dia viu três funcionários do setor de lavagem sentados, parados, e carros esperando pela higienização. Via celular acionou o gerente do setor e, recebidas as devidas explicações, pediu para que providências fossem adotadas para evitar o ócio.
Na estrada, outro dia, viajando pela Freeway rumo ao litoral, viu-se atrás de um de seus ônibus, da Santo Anjo. O motorista estava com pé pesado e acima da velocidade limite. Imediatamente acionou o filho Carlos Eduardo que está na direção da empresa em Santa Catarina, diretores, gerentes, chefes de mecânica.
O motivo justificava a velocidade já que o carro estava vazio e em teste depois de passar pela substituição de peças do motor visando a redução do consumo de combustível.
Integração
Mesmo que as quatro empresas de transporte de passageiros tenham razão social e nomes fantasias distintos, diretores independentes, a gestão é feita de forma integrada. Ou seja, todos da Sogil sabem o que acontece na Visate, na Navegantes e na Santo Anjo. Assim como em Santa Catarina a direção sabe o que se passa nas três empresas gaúchas.
— Está tudo no computador e a direção tem acesso a todos os dados. É uma forma de um alertar os outros, por exemplo, para uma maneira nova de economizar independente do setor — explica o empresário.
— Essa administração integrada é full time e em tempo real. O que está acontecendo em qualquer uma das empresas pode ser acessada na outra pelo computador — completa.
A tomada de decisão, hoje, não é mais uma incumbência ou missão de Pereira ou de Teiga Júnior. Como conselheiros, eles têm uma reunião trimestral com os administradores das quatro empresas. Mesmo sendo sócio na Sogil e ter uma participação menor na sociedade da Navegantes, Teiga Júnior está sempre informado sobre o que se passa na Visate e Santo Anjo.
E a crise no setor do transporte público pegou. Obriga à realização de gestões eficientes, com enxugamento de custos cada vez mais radical. Desde o final de 2014 e início de 2015, conforme Sérgio Pereira, a redução na ocupação dos ônibus chegou a 18%. Culpa, também, segundo ele, do serviço de transporte por aplicativos.
: O empresário Sérgio Pereira recebeu o Seguinte: na sede da Sogil
Hábitos simples
E como é Sérgio Pereira no dia a dia? Ele conta que leva uma vida de hábitos simples, que gosta de terno e gravata embora não se vista assim com frequência, dorme tarde e acorda não muito cedo, e que gosta de um bom vinho. Tinto. Seco. Servido à temperatura de 14 graus centígrados.
Sérgio gosta de viajar. Já foi a muitos países a convite das fábricas de motores, especialmente estas, e está programando uma volta à Europa no final de julho que vem. Vai fazer turismo pela Inglaterra. Mais próximo, dá preferência ao Uruguai, para onde vai com bastante frequência.
— Eu faço uma viagem ou duas, no máximo, por ano. Mas vou mais mesmo é para o Uruguai. Aliás, sou cidadão uruguaio, residente legal e habilitado — conta o colorado (daqueles que vai a campo mesmo mas não é associado do clube), mostrando os documentos de identidade e para dirigir, emitidos pelo país vizinho.
AS EMPRESAS
Sogil: Foi fundada em 25 de maio de 1954 por um grupo formado por 16 visionários empreendedores. De apenas um ônibus, lá no começo, expandiu-se e hoje tem uma frota de quase 300 veículos e quatro garagens. A sede administrativa fica na RS-030. É responsável pelo transporte urbano em Gravataí e Glorinha, intermunicipal entre Gravataí e Porto Alegre, e na área de fretamento faz transporte de funcionários para empresas ou para grupos em viagens de turismo
Santo Anjo: Fundada em 24 de fevereiro de 1947, em Imbituba, Santa Catarina. Foi adquirida por Sérgio Pereira em 2014 e no ano seguinte mudou sua sede para Florianópolis. Realiza o transporte urbano em Imbituba e tem linhas intermunicipais e interestaduais, principalmente para o Rio Grande do Sul e Paraná. Também faz fretamento de turismo.
Navegantes: Adquirida há oito anos pela Sogil e Sérgio Pereira, é responsável por parte do transporte coletivo urbano na capital Porto Alegre. Tem sua sede no bairro Humaitá.
Visate: Empresa criada há 32 anos por Sergio Pereira é responsável pelo transporte coletivo urbano em Caxias do Sul, na Serra Gaúcha.
: Sérgio Pereira e minuaturas de ônibus das suas empresas.
Sérgio por Sérgio
— Normalmente eu vou dormir por volta da meia noite. Não acordo muito cedo, geralmente por volta das 7h30min ou 8h, depende dos compromissos do dia.
— Tenho casa em Gravataí, no condomínio Paragem Verdes Campos, e apartamento em Porto Alegre. Estou sempre lá e cá. Agora mesmo estou passando mais tempo em Gravataí.
— Ah, eu faço academia sim, Três vezes por semana a partir das 8h30min. Não é que eu seja vaidoso mas é bom para manter a forma principalmente depois que a gente tem uma certa idade. Faço esteira e um pouco de musculação.
— Sou um apreciador dos vinhos da Serra Gaúcha. Tem muito vinho produzido aqui no estado que é bem melhor que outros, importados. Ó único problema é que o que é nosso não é valorizado.
— Nesse tempo todo no ramo do transporte pude acompanhar um salto tecnológico maravilhoso. Hoje todos os nossos sistemas de gestão estão integrados. E há um monitoramento nos urbanos de Gravataí que permite a nós e à Prefeitura acompanhar tudo que acontece nos ônibus em tempo real. Isso é fabuloso.
— Sou natural de Gravataí mesmo. Ali da Morungava, com muito orgulho!
— Eu entrei na Sogil em 1963, como frentista no posto de gasolina quando a empresa ainda era no Parque dos Anjos. Eu abastecia os ônibus e os carros particulares.
Confira no video abaixo a entrevista de Sérgio Pereira para o Seguinte:.
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