O smartphone em que você está lendo essa matéria, tem.
O refrigerador que mantém o suco geladinho para você saborear nestes dias de calorão danado, tem.
A lâmpada que ilumina a sua sala, claro que tem.
O televisor em que você assiste ao noticiário sobre o que se passa por aí, tem também.
O carro que está na sua garagem e com o qual você leva os filhos à escola e, depois, vai para o trabalho, com toda certeza tem.
Centenas de equipamentos que fazem parte do seu dia a dia possuem dispositivos produzidos por uma empresa japonesa, com ramificações globais. Grande parte desses dispositivos – e você nem sabia disso! – saem da Estrada da Cavalhada, como a Rua Bernardo Joaquim Ferreira, no Parque dos Anjos, é popularmente conhecida.
A empresa é a TDK. A partir desta semana, não mais Epcos TDK, mas só TDK do Brasil, padronização que está sendo adotada pela TDK Eletronics para todas as suas unidades espalhadas pelo planeta.
Sobre o dispositivo…
São os capacitores, de alumínio e plásticos, produzidos em diversos tamanhos e com múltiplas funcionalidades. Estão, geralmente, em placas eletrônicas de acionamento, por exemplo, dos airbags dos automóveis, ou do controle das máquinas de lavar, nas portas dos aviões, e em muitos outros.
Antiga Icotron
A TDK chegou à Gravataí em 1962, vinda de Porto Alegre e ainda com o nome Icotron, onde foi fundada em 10 de março de 1954. Por alteração da composição acionária, já ostentou outras denominações como Siemens, depois Siemens-Matsushita, Epcos, Epcos-TDK e, agora, só TDK.
A empresa de três letras foi fundada por Kenzo Saito, no Japão, há 83 anos, em 7 de dezembro de 1935, apenas cinco anos depois de ter sido manipulado e produzido pela primeira vez um material que recebeu o nome de ferrite, na Tokyo Institute of Technology – Instituto de Tecnologia de Tóquio.
O ferrite é popularmente conhecido como uma peça com propriedades magnéticas e encontrado facilmente nos equipamentos de som. É o “imã” das caixas de som. São compostos de ferro oxidado e outros metais em um estado cerâmico quebradiço, policristalinos, o que significa que são compostos de grandes quantidades de cristais.
Kenzo Saito popularizou o ferrite e sua comercialização, derivando mais tarde para a produção e comercialização global de inúmeros produtos, especialmente as conhecidíssimas (por quem tem acima dos 40 anos, por aí!) fitas cassete TDK, nas quais eram armazenadas em torno de 20 músicas, dependendo da duração de cada uma.
Mercado automotivo
Na aldeia dos anjos, a TDK é a segunda empresa mais antiga em atividade no parque industrial de Gravataí, tendo recebido homenagem por isso, neste ano, na Câmara de Vereadores, durante a Semana da Indústria promovida pela Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Gravataí (Acigra).
Tem hoje, de acordo com o diretor superintentdente e diretor executivo e financeiro, Reni Basei, em torno de 1.700 funcionários em uma planta de 48 mil metros quadrados de área construída em um terreno de 450 mil metros quadrados. Embora a TDK seja uma empresa com vasto portfólio, em Gravataí são produzidos apenas capacitores. Cerca de 70% para a produção de veículos automotivos.
— A principal aplicação dos nossos produtos, os capacitores que saem daqui (Gravataí), é no setor automotivo. São componentes empregados no sistema de freios ABS, na transmissão automática e airbags, dispositivos que têm que explodir em milésimos de segundo quando isso é necessário por causa de um acidente — conta o diretor, marido de Linda Basei e pai da dentista pediátrica Caroline, que tem clínica aqui mesmo na aldeia dos anjos.
A CIFRA
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A TDK do Brasil, unidade de Gravataí, faturou em 2017 algo em torno de 150 milhões de dólares, segundo o diretor Reni Basei.
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Ao câmbio desta sexta-feira (14/12, 18h38min) com o dólar cotado a R$ 3,92, isso significa aproximadamente R$ 588 milhões.
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Para 2018 a expectativa da direção é chegar em 31 de dezembro próximo com crescimento de, pelo menos, 4% a 5%.
Para exportação
No total, são cerca de 8 mil diferentes tipos de capacitores que se destinam à milhares de funções. Todos produzidos em Gravataí, e 87% deles exportados para outros países. O maior volume vai para a Europa, depois para a Ásia e o Nafta, bloco econômico formado pelos Estados Unidos da América, Canadá e México. O restante fica por aqui mesmo, no Brasil e outros países da América do Sul.
Os principais clientes são, justamente, empresas multinacionais que estão espalhadas pelo mundo e produzem componentes para a indústria automotiva, principalmente de automóveis. Entre elas estão a Delphi, Nexteer, Continental e Bosch. Pelo menos 70% dos capacitores ficam neste segmento industrial. O restante é empregado, entre outras áreas, na produção de equipamentos da linha branca.
— Nós fabricamos capacitores que são menores do que um botão de camisa, bem menores mesmo, e outros que são do tamanho de uma garrafa térmica — conta Candido Dall’Agnol, o gerente de Comunicação Corporativa da TDK da al,deia dos anjos.
Os dois, embora as dimensões e destinação diferentes têm a mesma tecnologia construtiva. Entretanto, os menores são para aplicação em circuitos eletrônicos que demandam quantidade reduzida de energia e os maiores são utilizados geralmente em quadros de comando para correção de potência, inclusive entre os equipamentos das torres de geração de energia eólica.
PARA SABER
: A empresa TDK do Brasil localizada em Gravataí importa cerca de 65% da matéria prima que emprega na produção de capacitores.
: A exportação da empresa chega a 87%, quase a metade disso (40%) apenas para os países europeus e 27% para os países asiáticos.
: São cerca de 250 mil quilos por mês de produtos enviados para outros países, por via aérea, a partir de Gravataí.
: A empresa, dentro do grupo, coloca a cidade de Gravataí como centro mundial de desenvolvimento de capacitores, especialmente os automotivos.
: A TDK gravataiense possui um centro de pesquisa com mais de 60 pessoas – engenheiros eletrônicos e mecânicos, químicos e físicos – para desenvolvimento de produtos.
: Outros países, como China e Coreia do Sul, são grandes produtores de capacitores e concorrentes diretos da TDK. O que diferencia o produto da aldeia é a alta performance.
: Os capacitores daqui são aprovados em testes de resistência à trepidação (caso dos veículos off road, por exemplo) e temperatura extremas, de 120 graus positivos ou o inverso, 50 graus negativos.
Trinômio
Os capacitores da TDK Gravataí são mundialmente reconhecidos, de acordo com Reni Basei, por observarem três requisitos básicos para sua produção: confiabilidade, qualidade e segurança.
IMPORTANTE
O desenvolvimento do produto inicia quando determinada empresa projeta um novo equipamento ou componente com alguma destinação específica. Já nesta fase os engenheiros responsáveis por materializar a ideia demandam a área técnica, no caso, da TDK, com a finalidade de estabelecer os parâmetros do que vai ser produzido conforme a necessidade que o equipamento-componente vai demandar.
É quando entram em campo os engenheiros eletrônicos e mecânicos da TDK, com apoio de físicos e químicos que, além do desenho, dimensões, especificam o material, forma e quantidade de material que será empregado.
Os capacitores mais complexos e sofisticados, de acordo com o diretor executivo e financeiro da TDK, podem demorar mais de um ano para serem colocados no mercado desde a sua concepção inicial. As primeiras unidades são produzidas para fins de testes de todos os tipos, desde qualidade, segurança, resistência, entre outros. Os mais simples podem entrar em comercialização em cerca de seis meses.
Bate-papo
Seguinte: – Qual a participação da TDK no mercado global de capacitores?
Reni Basei – Se somarmos os dois, capacitores de plástico e alumínio, dá para estimar a nossa participação em algo como 35% a 40%…
Seguinte: – Esse índice significa liderança no mercado?
Reni Basei – É liderança, sim. Em determinados segmentos, principalmente o automotivo, somos líderes do mercado com folga.
Seguinte: – E da TDK do Brasil, daqui de Gravataí, qual a participação?
Reni Basei – No mercado interno, do Brasil, até porque somos a única empresa que produz esse tipo capacitores, principalmente os automotivos, somos líderes disparados.
Seguinte: – Isso dá quando em percentuais?
Reni Basei – Nós dominamos entre 65% e 70% do mercado nacional. Os demais são importados. Nossos grandes concorrentes, em determinados segmentos, são de fora (do Brasil).
A reportagem no vídeo:
CEO e CFO
Quem é o diretor executivo e financeiro da TDK do Brasil em Gravataí?
: Reni Basei, natural de São Francisco de Paula, tem formação na área de economia, é Contador.
: Iniciou como estagiário na Siemens do Brasil, em São Paulo, onde ficou por dois anos. Ainda pela Siemens foi para a Alemanha onde ficou outros dois anos especializando-se em Administração.
: É um dos poucos – e acredita que é o primeiro – CEO da empresa que não tem formação na área da Engenharia.
: Reni começou na TDK em 1977, e antes de ser diretor executivo já era CFO da empresa. Ele sucedeu no comando da unidade o então diretor Adão Haas, hoje aposentado.
Traduzindo
CEO – Chief Executive Officer (Diretor executivo, livre tradução)
CFO – Chief Financial Officer (Diretor financeiro, livre tradução)
Em imagens:
: TDK é a segunda empresa mais antiga do Distrito Industrial de Gravataí
: Site da TDK tem 48 mil metros de área construída em terreno de 450 mil metros quadrados
: Na fábrica: uma das linhas de produção dos capacitores eletrolíticos
: Reni Basei, diretor executivo e financeiro, tem 41 anos de empresa