Os postos de abastecimento de Gravataí e Cachoeirinha já estão mandando para casa seus frentistas, depois da intensa movimentação das últimas 24 horas com a corrida dos proprietários de automóveis em busca de gasolina. Hoje (24/5) pela manhã alguns estabelecimentos ainda dispunham do produto, mas os estoques já estavam no fim.
Como contou o gerente de pista do posto que fica na esquina das avenidas Teotônio Vilela com Dorival de Oliveira, altura da parada 62, Paulo Garcia. Segundo ele, a gasolina acabou ainda na noite de ontem e nesta quinta estava sendo abastecido apenas álcool combustível.
Mesmo assim, por volta das 11h as grades que normalmente protegem o posto após as 22h já podiam ser vistas no local, indicativo de que nem etanol havia mais para ser vendido. Em outro posto próximo, na parada 62, ainda havia gasolina mas a gerente de loja Andréia da Silva, não estava otimista.
— Já está acabando a gasolina. Desde ontem abastecemos uns cinco mil litros — disse, acrescentando que depois que fechar o posto, não sabe quando o estabelecimento vai ser reaberto já que a disponibilidade de combustível para os consumidores depende do fim da greve dos caminhoneiros, deflagrada em todo o Brasil na última segunda-feira.
Mais barato
Longas filas e até discussão sobre quem havia chegado primeiro ainda se formavam nesta manhã em um posto da avenida Brambilla, em Cachoeirinha, onde o litro de gasolina estava sendo vendido por R$ 4,59. A expectativa era de que também por volta do meio dia o estoque já tivesse acabado.
A frentista Viviane Santos disse, depois de gravar a entrevista para o Seguinte:, que “felizmente ainda não apanhamos”, referindo-se aos ânimos exaltados dos motoristas que ficam por longos períodos esperando para abastecer. No local não havia racionamento de combustível.
Nunca visto
O quadro que se estabeleceu no país com o fim dos combustíveis nos postos de abastecimento gera apreensão entre os proprietários de veículos e motoristas em geral. Como o motorista de aplicativo Maicon Silveira que admite a possibilidade de ter que parar de trabalhar por causa da situação.
A cabeleireira Tereza Barrim também se mostrou apreensiva, e disse que espera que a situação melhore e que a crise se resolva logo. Ela disse que nunca havia passado por situação semelhante e responsabilizou o governo pelas dificuldades econômicas que a população está enfrentando.
O taxista Felipe Ferreira, do ponto que fica no trevo da Dorival de Oliveira com a RS-020, também culpou o governo pela crise provocada depois dos sucessivos reajustes nos preços dos combustíveis. Ele utiliza gasolina e gás natural e espera ter condições de continuar trabalhando, “pelo menos enquanto tiver gás para vender”.
— A Petrobras estava quase quebrada e agora eles (governo e estatal) estão querendo recuperar (a empresa) aumentando os preços da gasolina e do diesel. E sobra prá quem? Prá gente, que sempre acaba pagando o pato — afirmou o profissional com 16 anos de trabalho como taxista.
: Filas para abastecer os veiculos começaram na tarde de ontem e continuaram hoje
Na crise
Segundo o ditado, é na crise que surgem as melhores oportunidades. Foi mais ou menos o que fez o empresário Fabrício Antuart Cunha dono de uma revenda de carros seminovos da avenida Dorival de Oliveira. Quem passava pela frente da loja na manhã desta quinta pode ler, no para-brisa dos carros à venda: “tanque cheio”.
A promoção é para atrair clientes e deve durar pelo menos até esta sexta-feira, de acordo com o dono da loja. E ele garantiu que vai entregar os carros da promoção com o tanque cheio, dizendo que a revenda possui um estoque de combustível suficiente para cumprir com o prometido.
Supermercados
O presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, divulgou nota tranquilizando a população. Segundo Longo, as redes de supermercados trabalham com estoque capaz de garantir o abastecimento por pelo menos duas semanas nos produtos não perecíveis.
Nesta categoria se enquadram itens de mercearia como massas, biscoitos, grãos, leite, açúcar, bebidas, farináceos, matinais, condimentos, doces e bomboniere, além de artigos de higiene e beleza, limpeza, bazar e não alimentos em geral.
— Com relação a estes produtos, não há risco de desabastecimento para o consumidor final em um curto prazo — destacou o presidente da Agas na nota encaminhada ao Seguinte:.
Mas podem faltar carnes e hortifrútis, entre outros. Para Antônio Cesa Longo a situação mais preocupante recai sobre os perecíveis, que não são estocados pelos supermercados por seu curto prazo de validade.
— A partir dos próximos dias, se a situação não se normalizar, poderá haver desabastecimento em itens de hortifrúti, carnes, frios e laticínios refrigerados, por exemplo — explica o presidente da Agas, explicando que os problemas vão aumentar gradativamente, à medida que os supermercadistas não conseguirem repor as mercadorias vendidas nas lojas do setor.
Transporte
Desde a manhã de hoje as empresas que atendem a região, Sogil (Gravataí) e Stadtbus e Vicasa (Cachoeirinha) estão operando em regime especial. A opção, autorizada pela Metroplan, que nas linhas municipais e intermunicipais seja adotado o esquema de horário dos sábados, com redução dos ônibus nas ruas e consequente economia de combustível.
Nos horários de pico, entre 5h30min e 8h30min, e das 16h30min às 19h30min, a orientação é para que sejam mantidos os horários normais dos dias de semana.
A direção da empresa não confirmou no e-mail encaminhado à reportagem do Seguinte:, mas informações não oficiais dão conta que o estaque de combustível da empresa dura somente até o próximo final de semana, no máximo até segunda-feira.
— Não é possível informar com precisão. Até sexta-feira (os ônibus circularão) com certeza — consta na nota da supervisora de comunicação, Cândia Maria Wilke Gomes Flores.
Igual situação é enfrentada na empresa Vicasa, que teria um estoque de diesel para abastecer os ônibus ainda menor.
— Não tem como fazer estoque de óleo (diesel). A empresa abastece umas três carretas (caminhões-tanque) por dia. Não tem como fazer um estoque deste tamanho — disse um ex-funcionário que pediu para não ser identificado.
Para saber
1
O litro MAIS CARO vendido do Brasil, nesta quinta-feira, foi encontrado em Recife, capital do Pernambuco, no Nordeste brasileiro: R$ 8,999.
2
Entre Gravataí e Cachoeirinha, o litro da gasolina MAIS BARATO encontrado pelo Seguinte: na manhã de hoje foi em um posto da avenida Brambilla: R$ 4,59.
3
Na BRIGADA MILITAR, que abastece suas viaturas nos postos de combustíveis da rede privada que são conveniados, ninguém falou sobre a possibilidade de faltar gasolina nas viaturas.
4
Outro setor público e da segurança pública que está ameaçada é a POLÍCIA CIVIL, INSTITUTO MÉDICO LEGAL e INSTITUTO GERAL DE PERÍCIAS. Todas as viaturas destes órgãos são abastecidos na rede privada, que já não tem, mais gasolina, salvo raras exceções.
5
Em CACHOEIRINHA os ônibus do transporte coletivo municipal, da empresa Stadtbus, passaram a cumprir seus roteiros de hora em hora, desde o meio-dia de hoje, em função da iminente falta de combustível.
6
Procon do Rio Grande do Sul alertou na manhã de hoje: ao abastecer o carro com preços acima dos que vinham sendo praticados normalmente ou julgando que os valores pagos são exorbitantes, o motorista deve exigir NOTA FISCAL para posterior encaminhamento ao órgão visando o devido ressarcimento.
7
A empresa Rio Grande Energia (RGE) que abastece com ENERGIA ELÉTRICA Gravataí e Cachoeirinha, divulgou nota hoje alertando que a crise dos combustíveis atinge a empresa e, por isso, serão mantidos apenas os serviços essenciais, de urgência e emergência.
Estão suspensos enquanto o desabastecimento persistir:
: Ligações novas
: Vistorias em unidades consumidoras
: Ligações provisórias
: Reformas de padrão de entrada
: Desligamento a pedido do consumidor
: Aferição de medidor
: Verificação de nível de tensão
8
A Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), responsável pelo abastecimento de ÁGUA POTÁVEL em 317 municípios do Rio Grande do Sul informou hoje que a falta de combustível pode comprometer o processo de tratamento da água entregue à população. Não há referência sobre suspensão no fornecimento.
9
O HOSPITAL DOM JOÃO BECKER informou há instantes que a crise no abastecimento de combustíveis já atinge setores e serviços, mas que os atendimentos ainda estão mantidos de forma normal. A direção está “adaptando as necessidades conforme a realidade, visando sempre a qualidade do serviço’, e admite a possibilidade de haver prejuízo se o movimento se estender devido à falta de materiais, medicamentos, alimentos e até transporte dos colaboradores.
Confira no vídeo abaixo, também com imagens cedidas pelo representante comercial Daniel de Almeida, a reportagem do Seguinte: sobre a crise dos combustíveis em Gravataí e Cachoeirinha.