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Conspiração do ’fogo amigo’ rejeita contas de Marco Alba; Com Jones & tudo

Sem uma explicação do presidente Neri Facin, Câmara realizou sua sessão mais importante do ano sem acesso do público ou transmissão pela internet

O vídeo que recebi, minutos após as contas de 2017 do prefeito terem sido rejeitadas, é menos fake news que a notícia de que Marco Alba (MDB) está inelegível por 8 anos, mas diz muito sobre os autores do crime político cometido na tarde desta terça, em Gravataí, onde em uma sessão da Câmara às escondidas, sem possibilidade de acesso do público ou transmissão online, foi aprovado parecer do Tribunal de Contas do Estado (TCE) que recomendava rejeição das contas de 2017 do governo municipal.

Na montagem que circula pelo WhatsApp, junto a trechos da Operação Solidária, da qual Marco Alba foi absolvido, minha voz, extraída de podcasts que publiquei, é sobreposta às manchetes do Seguinte: Marco Alba sob chantagem: fogo amigo ameaça contas de 2017 e A conspiração de Jones, Clebes, Nadir e Paulinho da Farmácia contra Marco Alba: o harakiri e o tiro pela culatra, reproduzindo fala do prefeito:

– Questionado, Marco Alba respondeu sobre como se comportaria caso fosse chantageado. Não há improbidade, dano ao erário, superfaturamento ou enriquecimento ilícito no parecer do Tribunal de Contas. Já aviso a quem vier com barganha: não tem negócio. Sou como minha mãe, desafio. Os que ameaçam e querem subjugar são vermes e covardes.

Nas imagens aparecem aqueles africanos que protagonizam funeral em Gana que viralizou nas redes sociais, ao som da música eletrônica Astreonomia 2K19, de Stephan F.. No frame final, o rosto dos carregadores de caixões contratados para fazer danças frenéticas em homenagens aos mortos é substituído pelas sorridentes feições de Jones Martins, Clebes Mendes, Nadir Rocha e Paulinho da Farmácia, todos do MDB.

É flauta, tipo GreNal!

Vieram do trio de vereadores do partido do prefeito, a mando do ex-deputado federal, os votos ‘anti-Marco Alba’, como em “O 18 de brumário de Luís Bonaparte”, de Marx, “a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”, retrocedendo Gravataí por um buraco de minhoca até 2011, quando a prefeita Rita Sanco e o vice Cristiano Kingeski – sem nenhuma condenação até hoje entre as 11 denúncias – foram cassados.

O mesmo aconteceu neste 13 de outubro para Marco Alba, que na época do golpeachment contra Rita e Cristiano estava na Disney com a família. Como tratei pela última vez hoje em Às escondidas, Câmara vota agora contas de Marco Alba; O Josef K. de Gravataí, e em uma série de artigos, a rejeição das contas se dá por frágeis apontamentos do Tribunal de Contas do Estado. O prefeito precisava de quórum qualificado, ou 14 em 21 vereadores, para reverter a decisão. Era o exato tamanho da base de governo. Foi traído pelos três vereadores do MDB, conforme antecipei desde sempre, que se abstiveram de votar.

Para além do vídeo-meme, apurei mais. Nadir mais uma vez chantageou politicamente Marco Alba, hoje mesmo, ao dizer que até o meio-dia queria uma reunião com o prefeito onde estivessem ele, Clebes, Paulinho e… Jones! – hoje um cidadão sem mandato e, institucionalmente, alheio à análise do parecer do TCE. Marco disse não. Perdeu a votação 3 horas depois sem nem ouvir o que proporiam a ele os que, para a satisfação que deveria dar à sociedade, covardemente se abstiveram, sabendo que a abstenção era um voto ‘anti-Marco’.

Certo ou errado, fãs ou haters do prefeito que julguem.

Mais. Há testemunha de que Jones tentou marcar reunião com empresário para apresentar seus candidatos à Prefeitura. Zaffa e Dr. Levi? Não, queria levar para o chope Dimas Costa (PSD) e Evandro Soares (DEM). É a evidência do golpe, não com o Supremo, mas “com Jones & tudo”!.

Até porque, do ponto de vista jurídico, Marco Alba não está inelegível. É fake news de desinformados ou informados do mal. Reputo, em grifos abaixo, que não vinga a inelegibilidade porque a ‘Lei da Ficha Limpa’ resguarda o prefeito. Na alínea g, do Artigo 1º da Lei Complementar 64, diz que “os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade administrativa, e por decisão irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciário, para as eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes, contados a partir da data da decisão, aplicando-se o disposto no inciso II do art. 71 da Constituição Federal, a todos os ordenadores de despesa, sem exclusão de mandatários que houverem agido nessa condição”.

Não há no parecer apontamento de irregularidade insanável, e nem danos aos cofres públicos, tanto que não é aplicada nenhuma multa ou pedido de devolução de dinheiro por Marco Alba, como acontece em decisões mais pesadas do TCE. Porém, é óbvio que, a cada eleição, adversários o desgastarão pedindo sua impugnação à Justiça Eleitoral, que é quem determina inelegibilidade, não as câmaras de vereadores.

Convenhamos. Na oposição é até compreensível a vendeta do PDT de Rosane Bordignon, que nas últimas décadas viu o marido, Daniel Bordignon, impugnado eleição após eleição por ações do MDB de Marco Alba, além de testemunhar sua prefeita e seu vice na época de PT, Rita e Cristiano, cassados injustamente. Isso além de, na estratégia eleitoral de 2020, seu partido tê-la como vice de Anabel Lorenzi na disputa com o candidato do governo Luiz Zaffalon, que por tabela sofre desgaste.

Inegável que estranho é, no mesmo campo, mas aí o que chamo neooposicionistas, Evandro Soares (DEM) e Jô da Farmácia (PSD), um vice, outro vereador apoiador do candidato a prefeito Dimas Costa, terem dado votos ‘anti-Marco’. A dupla participou ‘até ontem’ do governo e por oito anos nomearam CCs os quais não devem nem lembrar os nomes de alguns.

Para ilustrar a ingratidão, irmã siamesa da política, em 2016 foi Marco Alba quem articulou a coligação DEM e PP que permitiu a reeleição de Evandro, além de também coligar o MDB ao PTB, perdendo uma vaga de seu partido (Alison Silva fez mais votos) para garantir a eleição de Jô.

Por óbvio, foram enquadrados por Dimas, um dos favoritos na disputa com Zaffa.

Ao fim, como tratei no artigo Em Gravataí, se o povo gostar do político, políticos querem matar!; o ’Efeito Orloff’, a rejeição das contas por bobagens burocráticas é uma decisão com todo ruge da velha política. É uma sina da aldeia: se as pessoas gostam do prefeito ou do governo, forças ocultas, e também explícitas, sabotam.

Como já tratei em uma série de artigos anteriores sobre essa série tipo Netflix de intrigas e chantagens, Marco Alba é o Josef K. do dia. Como a personagem de O Processo, de Kafka, pode questionar “inocente de quê?”, frente ao veredito do TCE.

Ao fim, sem torcida ou secação, e independentemente do lado na ferradura ideológica, morro de tudo, menos de falta de coerência. Como condenei as tramas contra Bordignon e Rita, assim o faço em relação a Marco Alba. Tragédia ou farsa, a história política da aldeia é uma novela. Quase sempre com personagem avançado por detrás das telas e atacando a tesouradas, como Paula Thomaz sobre Daniela Peres.

 

OS VOTOS

Os 'anti-Marco Alba': Bombeiro Batista (PSD), Dilamar Soares (PDT), Dimas Costa (PSD), Evandro Soares (DEM), Jô da Farmácia (PSD), Rosane Bordignon (PDT) e Wagner Padilha (PDT) seguiram parecer do TCE que recomendava a rejeição das contas de 2017, e foram ajudados pelas abstenções de Clebes Mendes (MDB), Nadir Rocha (MDB) e Paulinho da Farmácia (MDB).

Os 'pró-Marco Alba': Airton Leal (MDB), Alex Peixe (PTB), Alex Tavares (MDB), Alan Vieira (MDB), Carlos Fonseca (PSB), Demétrio Tafras (PSDB), Fabio Ávila (Republicanos), Mário Peres (PSDB), Paulo Silveira (PSB), Roberto Andrade (PP) e Neri Facin (PSDB).

 

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