Na tarde de quarta-feira (30), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (republicano), 78 anos, assinou um decreto oficializando o tarifaço de 50% aos produtos exportados pelo Brasil para os americanos. Os danos causados na economia brasileira foram bem menores do que o imaginado pelos economistas, comerciantes e especialistas no assunto. Porque foram isentados da tarifa 694 produtos, entre eles peças de aviões, suco de laranja e minério de ferro. No entanto, ficaram fora da lista de exceções café, carne e calçados, importantes produtos da pauta de exportação do Rio Grande do Sul, de São Paulo e de Minas Gerais. O tarifaço estava previsto para entrar em vigor no dia 1º de agosto. Trump adiou para o dia 6, portanto os representantes dos setores que ficaram fora da lista de exceções têm mais uma semana para negociar com o governo americano. Os economistas ainda estão fazendo as contas dos prejuízos que o tarifaço espalhou pela economia brasileira. A grande imprensa está fazendo uma cobertura online muito completa do assunto.
Vamos lembrar como esta história começou. Em maio, o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), 70 anos, Eduardo, 41 anos, se licenciou do seu mandato de deputado federal por São Paulo e mudou-se para os Estados Unidos com a missão convencer o governo Trump a reivindicar a anistia para o seu pai e os seus seguidores que estão sendo processados pela formação de uma organização criminosa para dar um golpe de estado. O processo está na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) e o relator é o ministro Alexandre de Moraes, 56 anos. O lobby do deputado teve sucesso. Em 9 de julho, Trump comunicou pelas suas redes sociais o governo do Brasil que a partir de 1º de agosto os produtos exportados para os Estados Unidos seriam taxados em 50%. Até então, com algumas exceções, a tarifa era de 10%. O presidente americano abriu o seu comunicado exigindo que Bolsonaro e seus seguidores fossem anistiados. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 79 anos, adotou a seguinte estratégia para lidar com o problema. Separou os assuntos econômicos dos políticos. A questão econômica ficou com o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), 72 anos, e a política com o Ministério das Relações Exteriores, o Itamaraty. Em vários discursos Lula espalhou aos quatro ventos que não seria admitida a interferência de Trump nos problemas internos do Brasil. Considerou a exigência da anistia uma chantagem. Eduardo e seus aliados nos Estados Unidos voltaram a acionar os seus contatos na Casa Branca pedindo sanções ao relator do processo, o ministro Moraes. Mais uma vez o lobby teve sucesso. No dia 18 de julho, foram cancelados os vistos americanos de Moraes e outros sete ministros do STF, além do procurador-geral da República, Paulo Gonet, 63 anos. Na quarta-feira (30/7), Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA, comunicou a aplicação da Lei Magnitsky ao ministro Moraes. Alegou que o ministro “foi responsável por uma campanha opressiva de censura, detenções arbitrárias que violam os direitos humanos que prejudicam os interesses americanos e o ex-presidente Bolsonaro”. A lei é um dispositivo da legislação americana que permite que os Estados Unidos imponham sanções econômicas a acusados de corrupção ou graves violações dos direitos humanos – há uma abundância de reportagens sobre a legislação disponível na internet.
A decretação da Magnitsky contra o ministro Moraes é o ponto alto da atuação do lobby contra os interesses brasileiros junto ao governo americano. No decreto que assinou na quarta-feira (30) oficializando o tarifaço às exportações brasileiras para os Estados Unidos, Trump mencionou novamente o ex-presidente Bolsonaro. A pressão americana contra os ministros da Primeira Turma do STF alterou alguma coisa no andamento do processo contra o ex-presidente e seus seguidores? Não. Muito pelo contrário. Deu visibilidade mundial para a Justiça do Brasil. O julgamento do ex-presidente e seus seguidores continua e deve terminar até o final do ano. Trocando em miúdos. Além de não mudar um centímetro a situação do ex-presidente, a ação de Eduardo e seus aliados junto ao governo Trump dividiu os bolsonaristas por vários motivos. Vou citar dois que considero os mais importantes. Primeiro, o tarifaço causou prejuízos para dois segmentos importantes do agronegócio: café e carnes. Segundo, uniu o país ao redor de Lula, que estava com o seu prestígio político em baixa. Nos dias atuais, o presidente da República é um forte candidato à reeleição em 2026. Os analistas políticos acreditam que acontecerá um enxugamento no movimento bolsonarista com a saída da direita democrática das suas fileiras. Ficarão apenas os “bolsonaristas raiz”, que para se eleger terão que radicalizar ainda mais o seu discurso. E deverão defender o presidente Trump nos palanques eleitorais. Claro que correrão o risco de serem chamados de “traidores da pátria”. Lembro aqui que o ex-presidente está inelegível até 2030 e que o seu objetivo é fazer uma grande bancada na Câmara e no Senado. A ação do seu filho Eduardo nos Estados Unidos pode ter detonado este projeto. Sou um velho repórter estradeiro e aprendi que em assuntos eleitorais só saberemos o rumo certo na apuração dos votos. Até lá é tudo conversa. Mas precisamos ficar atentos ao destino da direita democrática que desembarcou do barco do bolsonarismo. Se conseguirem se organizar e lançar um candidato com chances nas eleições presidenciais de 2026 a teoria do esvaziamento do movimento bolsonarista se confirma.
A ficha número um para esta candidatura pela direita democrática é a do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD), 40 anos. Leite foi um apoiador discreto do ex-presidente. Ao contrário do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), 50 anos, que é ex-ministro de Bolsonaro e seu seguidor de “carteirinha”. E nos dias atuais está cotado para ser o candidato a presidente da República que irá substituir Bolsonaro. Para arrematar a nossa conversa. O tarifaço de 50% é na verdade de 40%, se descontados os 10% que já existiam. O que irá acontecer no futuro dependerá das negociações entre os exportadores brasileiros e os importadores americanos, que farão os seus lobbys junto ao governo Trump. É assim que funciona. A pergunta que fica é: Trump voltará a atentar contra a soberania brasileira insistindo com a anistia ao ex-presidente e aos seguidores que tentaram dar um golpe de estado em 2022? Digo o seguinte. O presidente americano é um homem “movido a manchetes de jornais”. Se sentir que o assunto o coloca nas capas dos jornais, ele irá agir novamente. Podem anotar.