: Desenhos de Guillermo del Toro
& a vida é muito curta para que nela possa caber uma missão cumprida
& depois que a gente aprende a desligar a TV, começa o curso de aprender a não ligar de novo
& o corpo é o cafetão da mente, e bota a pobrezinha em cada roubada
& pra que tanto livro de colorir, se de acordo com a gramática eu não coloro
& a verdade é que tem certos autógrafos que a gente só pede para ser gentil
& o governo produz marginais para ter um pretexto para produzir mais polícia
& um dia de um velho vale um mês de um jovem
& a vida da gente deveria ser tão cheia de realizações que a morte fosse recebida com alívio
& o artista precisa ter em mente o tempo todo que está sendo observado por 10% de especialistas e 90% de leigos absolutos
& tudo que você escuta significa o mundo tentando lhe dizer alguma coisa
& a cidade vive cheia de luzes que só iluminam a si mesmas
& mais ensina uma queda do que dez conselhos
& a arte de bombardear cidades para reinar sobre ruínas
& o transatlântico afunda enquanto a tripulação se engalfinha e a primeira classe saracoteia no convés
& um planeta que tivesse várias luas desenvolveria facilmente esquemas complexos de presságios e superstições
& estou com uma casa pronta, mas só quero colocá-la num lugar que pareça um Cariri à beira-mar
& um vingador mascarado que executa banqueiros com uma bala de ouro
& o inferno dos tímidos é uma festa num apartamento pequeno cheio de gente desconhecida
& ela é daquele tipo de mulher que somente homem inteligente acha bonita
& palavras escritas servem para formatar a mente de quem as decifra e interpreta
& meus antepassados talvez se envergonhassem de mim, mas mesmo assim me orgulho deles
& em muitos guarda-bagagens deve haver malas não-reclamadas, contendo bombas que falharam sem explodir
& um sebo onde livros aleatórios estariam marcados: “este é de graça, pode levar ao caixa”
& romance qualquer um escreve, quero ver é inventar um provérbio que fique
& não há coisa mais patética do que um patife falando de ética
& todas as vezes que botei a mão no fogo por alguém nem o fogo escapou
& a melhor coisa da praia é olhar para ela de dentro do ar condicionado
& o Facebook é uma torre-de-marfim cheia de altofalantes
& um paraquedista caindo em parafuso e se encravando chão adentro
& toda xenofobia é seletiva
& um escritor cuida das palavras da língua do mesmo jeito que um caixa de banco cuida do dinheiro alheio
& estudos comprovam que o mundo está cheio de indivíduos que sobrevivem ao próprio caráter
& quando adormecemos a mente joga a âncora no fundo de si mesma e começa a captar tremores
Braulio Tavares vive no Rio. É escritor, tradutor e cientista. Publicou por 13 anos no Jornal da Paraíba (entre 23 de março de 2003 até 10 de abril de 2016), quando fechou a edição impressa. Para ler suas crônicas e artigos, acesse seu blog Mundo Fantasmo.