O Beni passou a semana toda atacado da bronquiolite e todos os dias, as 9h e as 21h, precisamos fazer o ritual macabro: antibiótico e xarope na seringa + bombinha (uma para manhã outro para noite) + lavagem do nariz com soro na seringa e/ou nebulização, intercalado. Não é preciso dizer que a pobre criança odeia o rito de limpeza de cáca de nariz. O Beni chora o famoso choro que “parece que estamos matando”. Por sorte a vizinha é enfermeira e, embora nunca tenhamos conversado sobre isso, deve entender pela profissão, que criança chora mesmo, e chora pelos motivos mais bobos possíveis.
Por incrível que pareça o tema da coluna desta semana não é o choro infantil, mas sim como as pessoas agem quando vêem nossos filhos chorando. Essa semana, também, navegando pelo Facebook li o post de uma conhecida de faculdade, revoltadíssima porque os filhos da vizinha eram muito barulhentos. Oferecia ela, no alto de sua empatia, tão madura quanto um cacho de babanas verdes, a vizinha e seus quatro filhos para quem quisesse os levar para bem longe. O tom utilizado por essa menina ao falar dos filhos da vizinha me deixou um pouco triste e pensativo: afinal, será que são tão barulhentos assim ou são as pessoas que estão perdendo a paciência?
Depois que a gente vira pai meio que começa a tomar as dores pelos outros pais, como se todos fizéssemos parte de um clube de mosqueteiros: um por todos e todos por um. Às vezes estamos na fila do mercado, à paisana, sem nossos pequenos e ao menor sinal de choro de uma criança ecoando pelos corredores, sempre tem um impaciente que reclama: isso é falta de laço! Se você é este personagem chato saiba, meu amigo, que isso não é falta de educação da criança, é falta de empatia, da tua parte ainda por cima. Pasmem meus amigos, as crianças foram feitas para chorar, e elas choram, vou repetir, sem muito propósito. Está aí a grande diferença entre colocar uma criança no mundo e criá-lo. Criar é um eterno exercício de paciência, de empatia, de amor ao próximo.
A gente sabe que nossas crianças choram, que elas muitas vezes são inconvenientes e que elas podem não saber as regras de etiqueta, mas francamente, precisa reclamar tanto? Será que o choro de uma criança pode incomodar tanto assim? E o som alto do vizinho, não merece textão no Facebook? E seus cachorros que latem o tempo todo sem parar, até para a sombra, pode? É tão fácil colocar a culpa numa criança ou tentar deslegitimizar a capacidade de um pai em criar seu filho só porque ele chora.
Resolvi escrever a matéria depois de ver um post na página de uma rede de cinemas dizendo que a classificação etária do filme Deadpool 2 foi fixada em 18 anos. Nos comentários as pessoas comemoraram, argulemtnando que muitas crianças vão assistir este tipo de filme para fazer barulho e incomodar o filme alheio. Olha amigo, se você quer uma sessão madura, sem crianças ou adolescentes que vá assistir um filme cult no Cinebancários. Cinema de shopping é lugar de família e filme de super-herói É COISA DE CRIANÇA. Se você quer assistir aceite que terá que dividir o espaço com crianças, adolescentes e jovens geeks, público para qual estes filmes foram feitos. Outro dia li numa matéria de internet que muitos restaurantes em São Paulo estão proibindo crianças, para garantir o sossego de seus clientes.
É até engraçado falar isso, mas para algumas pessoas parece que crianças são tão inconvenientes e indigestas quanto permitir cães e cigarro no ambiente.
E assim, aos poucos, o mundo vai ficando sem empatia alguma. Criança chora, e se ela não estiver com dor, fome, cagada ou mijada não há motivo nenhum para cara feia ou proibição besta. Não gosta de criança? Não quer conviver com choro? Não quer barulho? A zona rural das cidades está aí para quem quiser morar. Sociedade é assim mesmo e embora o choro de adulto seja livre, é chato pra caramba.