RAFAEL MARTINELLI

Crise se agrava em Cachoeirinha: prefeito reage ao impeachment com demissões políticas e provoca debandada de aliados

Vereadores e CCs na Prefeitura, nesta tarde, em foto de grupo de WhatsApp

A crise política em Cachoeirinha se agravou nesta sexta-feira (24). Como primeira resposta à abertura do processo de impeachment, o prefeito Cristian Wasem (MDB) determinou a demissão do secretário de Cultura, Ildo Júnior, e de outros cargos de confiança ligados à presidente da Câmara, Jussara Caçapava (Avante), e aos vereadores Zeca dos Transportes e Otoniel Gomes — ambos de seu partido, o MDB —, além de Gilson Stuart (Republicanos).

As exonerações, noticiadas com exclusividade por O Repórter, tiveram imediato efeito político: pelo que o Seguinte: apurou até o momento, em reação, cerca de 100 cargos comissionados (CCs) ligados aos dez vereadores da base que votaram pela abertura do impeachment compareceram à Prefeitura para entregar seus pedidos de demissão.

– Os vereadores não aceitam a interferência do Executivo em um procedimento do Legislativo – afirmou uma das lideranças do grupo, ouvida pelo Seguinte:.

A entrega conjunta dos cargos teria sido acompanhada por parte dos próprios parlamentares, que decidiram romper politicamente com o governo após o gesto do prefeito.

Os três vereadores de oposição que aprovaram a admissibilidade do impeachment — Gustavo Almansa (PT), Leo da Costa (PT) e Mano do Parque (PL) — não tem indicações na Prefeitura.

A presidente da Câmara, Jussara Caçapava, é apontada nos bastidores do governo como principal articuladora do impeachment, embora negue a acusação. O grupo do prefeito avalia que ela teria interesse direto no desfecho do processo, já que assumiria a Prefeitura em caso de cassação de Cristian e do vice, Delegado João Paulo Martins (PP) — hipótese considerada viável ainda neste ano, diante do placar de 13 votos que aprovou a admissibilidade do impeachment, um a mais do necessário para cassação.

A decisão do prefeito de afastar servidores ligados a Jussara e a vereadores da base que apoiaram o processo é interpretada como uma tentativa de retomar o controle político da máquina administrativa.

A resposta foi rápida e coordenada. Em menos de duas horas após as demissões, dezenas de comissionados ligados a parlamentares — inclusive ao próprio MDB e ao Republicanos — protocolaram pedidos de exoneração voluntária.

– Foi um ato midiático – minimizou o assessor especial do Gabinete do Prefeito, André Lima, questionado pelo Seguinte:.

– Mas os contratados são pessoas físicas e, por decorrência, na forma da lei, em caso de eventual insatisfação devem apresentar formalmente os pedidos de demissão – afirmou.

Mesmo que as indicações sejam políticas, a livre nomeação e exoneração é prerrogativa do prefeito.

Impeachment e AIJE: riscos paralelos

A decisão de Cristian de retaliar politicamente os vereadores ocorre apenas três dias após a Câmara aprovar, por 13 votos a 4, a abertura do processo de impeachment contra ele e o vice.

A Comissão Processante, formada por Zeca dos Transportes (MDB), Mano do Parque (PL) e Gilson Stuart (Republicanos), tem 90 dias para concluir o relatório.

O processo é baseado em denúncias de abuso de poder político e econômico, repasse irregular de R$ 2,7 milhões durante as enchentes de 2024 e suposto superfaturamento na compra de telas interativas. As mesmas acusações são analisadas em ação judicial (AIJE) que tramita na 143ª Zona Eleitoral e pode levar à cassação dos mandatos e inelegibilidade por oito anos.

Desde a abertura do processo, o prefeito tenta demonstrar normalidade administrativa e confiança no desfecho judicial. Em vídeo publicado no dia 22, Cristian afirmou ter sido “surpreendido por vereadores amigos, parceiros, do partido e da igreja”, e disse confiar que será absolvido por falta de provas — na justiça eleitoral e no processo de impeachment.

O processo político na Câmara e o julgamento eleitoral na Justiça caminham em paralelo.

A expectativa é de que a sentença da AIJE, que apura o uso eleitoral da máquina pública e repasses irregulares, seja publicada no início de novembro.

Uma eventual condenação judicial fortaleceria o discurso político pela cassação e aceleraria a queda do governo.

Ao fim, é preciso aguardar os efeitos dessa medida de forças — na relação com o processamento político do impeachment e com o risco de paralisação em setores da Prefeitura.

Inegável é que o gesto coletivo dos vereadores e seus CCs, somado ao placar de 13 votos pela abertura do impeachment, reforça a ameaça concreta de cassação de prefeito e vice. Cristian e João Paulo podem restar reféns não mais de sua base, mas da oposição.


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