RAFAEL MARTINELLI

‘Cui bono’: se o panfleto anônimo sobre assédio sexual fake é ruim para Cristian e Almansa em Cachoeirinha, a quem interessa?

Panfleto criminoso foi jogado em ruas de Cachoeirinha nesta madrugada

Ruas de Cachoeirinha amanheceram esta terça-feira cobertas por panfletos anônimos com a acusação de suposto assédio sexual cometido por secretário municipal de Cachoeirinha.

Reputo a origem do material, com uma montagem rudimentar para parecer uma reportagem de GZH, precisa ser investigada com urgência pela Justiça Eleitoral.

É gravíssimo – ainda mais pela forma aloprada com que o crime eleitoral, cível e criminal, está sendo tratado por alguns envolvidos na eleição.

“Cui Bono?”, a quem beneficia, é a primeira pergunta que se faz quando explodem baixarias anônimas em período eleitoral e escândalos – como na campanha de Gravataí, onde conversas entre Daniel Bordignon (PT) e ex-aluna adolescente, ocorridas em 2018, foram denunciadas como assédio sexual em reportagens a partir do primeiro dia da campanha de 2024.

A resposta fácil, e irresponsável, é, em uma eleição de apenas dois candidatos, na qual o governo é o aparente alvo do crime eleitoral, acusar a oposição. No caso, David Almansa (PT) – o que, é preciso registrar, Cristian Wasem (MDB) não o fez –, que nega (veja nota neste artigo).

O “cui Bono?” me parece uma questão longe de restar respondida. Acometem-me as mais variadas perguntas.

Por que a campanha de Almansa criaria uma fake news – o secretário municipal nega envolvimento em qualquer denúncia e não responde investigação sobre assédio – se há vasto material de denúncias contra o governo que poderiam ser divulgadas sem precisar de anonimato?

E, é fato, denúncias realmente publicadas pela RBS, como o suposto superfaturamento de cestas básicas e lousas digitais, com operações policiais na Prefeitura e até na casa do prefeito Cristian Wasem (MDB).

Por que o material apócrifo inclui fotos do secretário ao lado de Marco Alba e Patrícia Alba? O ex-prefeito é candidato à Prefeitura de Gravataí.

Mais: se trata de um secretário importante, que é hoje responsável pela relação de Cachoeirinha com o investimento de R$ 2,9 bilhões do PAC do Lula para obras de diques e barragens contra cheias e estiagens na Bacia do Rio Gravataí, quase R$ 70 milhões apenas para o dique e corredores de ônibus no município.

Não teria alguém interesse em sua demissão, ou em enfraquecê-lo, mesmo que com uma fake news, no momento em que está ligado a obras que correspondem a um investimento maior do que aquele feito pela Prefeitura nos últimos cinco anos?

O secretário é também um político influente em sua terra natal no interior gaúcho.

O secretário não retornou contato do Seguinte: até o fechamento deste artigo. A mídia “Gravataí da Região” publicou no Instagram que “contatado sobre o conteúdo, o secretário (…) está perplexo, pois não responde nenhum processo sobre o que foi divulgado, e o mesmo afirmou que irá entrar na justiça para tentar identificar os responsáveis que espalharam o material fake”.

O coordenador geral da campanha pela reeleição e assessor especial do prefeito, André Lima, também não retornou contato.

A coordenação de campanha de Almansa enviou nota, onde entendo resta um possível caminho para desvendar os autores do crime eleitoral. Reproduzo na íntegra e, abaixo, sigo.

(…)

Hoje, 10 de setembro, em vários pontos da cidade foram lançados às ruas panfleto apócrifo. Diante disso, a coordenação da campanha Por Amor a Cachoeirinha vem a público repudiar a distribuição deste e de quaisquer outros panfletos apócrifos.

A veiculação de panfletos de autoria desconhecida perturba o processo eleitoral, envenena e obscurece a necessária discussão sobre os problemas de nossa comunidade.

Por fim, nos causa estranheza que as páginas Alô Cachoeirinha e Acontecimentos Cachoeirinha, conhecida por criar e compartilhar fake news, lancem a suspeição de ser a oposição ao atual governo a responsabilidade pela publicação e distribuição de tal material.

Nosso posicionamento de oposição e combate à corrupção é claro e público, jamais nos esconderemos para denunciar todo e qualquer mal feito. Portanto, repudiamos e jamais utilizaremos práticas da velha política tradicional na tentativa de criar cortina de fumaça e desviar o foco daquilo que, realmente, importante, o debate sobre quais propostas fará de Cachoeirinha uma cidade melhor, desenvolvida e sem corrupção.

A cidade tem mecanismos para a rápida identificação dos suspeitos como a identificação de carros por meio das câmeras de monitoramento, que é o que solicitamos imediatamente às autoridades.

Esperamos e tomaremos as medidas cabíveis, para que os responsáveis, neste ato sórdido, sejam logo identificados e devidamente responsabilizados.

(…)

Sigo eu, grifando o trecho “(…) a cidade tem mecanismos para a rápida identificação dos suspeitos como a identificação de carros por meio das câmeras de monitoramento, que é o que solicitamos imediatamente às autoridades (…)”.

É isso. Mas vou além.

Considero que a gravidade do caso – e o efeito didático de coibir a prática criminosa a menos de um mês da eleição – impõe ao Ministério Público Eleitoral agir de ofício, abrindo investigação mesmo que não seja instado por nenhuma das campanhas.

Ao fim, é inegável que o dano primordial provocado pelos panfletos atinge Cristian. Mas a culpa recair sobre Almansa também resta em incontestável prejuízo. Aí, se é ruim para um e outro, insisto: “cui bono”?

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