Além da falta de moradia, pessoas em situação de rua enfrentam outras perdas profundas: identidade, dignidade e vínculos familiares. Muitas vezes, acabam relegadas à invisibilidade pela sociedade. Para mudar essa realidade, a Secretaria Municipal de Cidadania e Assistência Social (SMCAS) de Cachoeirinha realiza ações permanentes de abordagem social, buscando recuperar vidas de quem aceita recomeçar.
Foi o que aconteceu com Ana Lúcia, de 42 anos, que por meses foi vista dormindo próximo ao prédio da Prefeitura, na avenida Flores da Cunha. Sem documentos, sem contato com familiares e sem conseguir se comunicar de forma clara, ela era uma incógnita para quem passava pelo local.
O primeiro contato
Equipes formadas por técnicos da assistência social, psicólogos, orientadores e educadores sociais realizam o Serviço de Abordagem Social de Rua, que identifica cada situação e, quando há concordância, encaminha a pessoa ao CREPop-Rua ou ao Albergue Municipal.
No caso de Ana Lúcia, havia uma barreira inicial: a dificuldade de comunicação. “Perguntamos nome, idade, CPF e nome da mãe, mas ela não conseguia passar as informações de forma coesa”, relata o coordenador do Albergue, André Rodrigues. A solução veio com apoio da Guarda Municipal, que utilizou impressões digitais para identificar a usuária por meio do Centro de Comando Integrado (CICC).
Primeiros cuidados
Convencida pela orientadora social Juliana dos Santos, Ana Lúcia aceitou deixar as ruas. Foi conduzida ao Albergue, onde recebeu banho, alimentação e pernoite. “Depende muito da vontade do indivíduo. Nosso papel é orientar e mostrar os direitos que continuam tendo, mesmo em situação de vulnerabilidade”, afirma Juliana.
No dia seguinte, para alívio da equipe, Ana Lúcia decidiu permanecer no atendimento, demonstrando desejo de continuar o processo de reinserção.
A partir de informações coletadas, a SMCAS buscou registros em outros municípios. Um cadastro no SUS revelou endereço em Viamão, onde havia registro de desaparecimento. A família confirmou que Ana Lúcia sofria de transtornos psíquicos e estava em tratamento. Assim, ela pôde finalmente reencontrar os entes queridos. “Reconduzir uma pessoa para os familiares é um momento de conquista”, reforça Rodrigues.
O olhar necessário
As abordagens costumam começar por solicitações da comunidade, via ligação ou WhatsApp, quando cidadãos informam sobre pessoas em situação de rua. Técnicos se deslocam até o local, se identificam como sendo do CREPop-Rua e apresentam as possibilidades de atendimento.
Para o secretário da SMCAS, Nérisson Oliveira, o trabalho exige sensibilidade: “É preciso olhar não com pena, mas com a missão de trazer essas pessoas de volta à sociedade. Muitas vezes enxugamos gelo, mas cada vida resgatada é uma vitória.”
Hoje, o CREPop-Rua mantém plantão todos os dias da semana, inclusive feriados, com estrutura reforçada, incluindo veículo novo para abordagens.
Albergue Municipal
O Albergue Municipal para a População Adulta de Rua funciona como espaço temporário, oferecendo condições básicas de abrigo, alimentação e higiene. Também garante acompanhamento de assistentes sociais para encaminhar os usuários a políticas públicas de inclusão social.
- Endereço: Rua Missões, 760 – Jardim Colinas
- Telefone: (51) 3074-5507
- E-mail: albergue@cachoeirinha.rs.gov.br
- Atendimento: todos os dias, das 19h às 7h