RAFAEL MARTINELLI

#DasUrnas | O ‘segundo colocado’ na eleição de Gravataí tem 55.237 caras

No #DasUrnas, siga diariamente quem ganhou, quem perdeu, quem empatou e os números e análises da eleição de 2024.


Há um segundo colocado de muitas caras na eleição de Gravataí: o eleitorado que não foi às urnas. As abstenções, que com 55.237 eleitores ausentes, chegaram a 28,49% dos 193.867 aptos a votar em 6 de outubro. Para efeitos de comparação, a abstenção ficou a menos de 10 mil votos do vencedor, Luiz Zaffalon (PSDB), que recebeu 64.125 votos, e mais de 10 mil votos acima do segundo, Marco Alba (MDB), que recebeu 42.445 votos; Daniel Bordignon (PT), o terceiro, recebeu 18.739 votos.

Os votos nulos foram 5.810 (4,19%) e os brancos 7.511 (5,42%).

Dos 138.630 (71,51%) que foram às urnas, 118.687 (95,40%) votaram nominalmente em candidaturas à Câmara de Vereadores; 5.719 (4,60%) votaram em legendas paridárias.

Os votos nulos na eleição para o parlamento municipal foram 4.680 (3,38%) e os brancos 9.544 (6,88%).

A abstenção diminuiu um pouco em relação a eleição municipal de 2020, que transcorreu em meio à uma pandemia que custou a vida de mais de 700 mil brasileiros, mais de mil em Gravataí.

Na eleição anterior, dos 185.345 eleitores aptos a votar, 130.452 (70,38%) compareceram às urnas. Os eleitores ausentes foram 54.893 (29,62%).

Naquela eleição, Zaffa foi eleito com 57.659 votos. A abstenção venceu os demais prefeituráveis somados: Dimas Costa (35.623), Anabel Lorenzi (13.181), Tamires Paveglio (3.026), Jairo Carneiro (2.038) e Claiton Manfro (1.264).

Os votos nulos foram 9.227 e os brancos 8.434.

Para se ter a dimensão das ausências, na eleição municipal de 2016 a abstenção foi de apenas 17,39%.

Reputo o resultado mostra os efeitos da antipolítica, mesmo Gravataí apresentasse uma disputa entre três ‘prefeitos’, que tem ou tiveram seus momentos de popularidade.

E experimente um bom governo, como analisei em #DasUrnas | Zaffa foi reeleito porque faz um bom governo em Gravataí, e mais.

Uma abstenção semelhante à de Gravataí ‘venceu’ a eleição em Porto Alegre: enquanto Sebastião Melo (MDB) teve 345.420 votos, as ausências somaram 345.544, representando 31,51%. Em 2020, Melo já tinha sido eleito com menos votos do que a soma das abstenções e dos votos nulos e brancos.

Canoas, afogada pela enchente de maio, teve uma abstenção pouco maior que Gravataí, 31,83%: 82,6 mil não foram votar.

Associo-me a cientistas políticos ouvidos pelo Brasil de Fato para analisar o fenômeno na eleição na capital brasileira com maior número de abstenções no 1º turno das eleições, em Falta de identificação com projetos pode explicar alta de abstenções em Porto Alegre (RS), apontam especialistas.

O cientista político Rodrigo Stumpf Gonzalez aponta como uma das explicações do elevado índice de abstenções “a facilidade de justificativa do voto”.

– O voto hoje é virtualmente facultativo, já que as punições por não votar são pequenas e tende a haver anistia periódica. Hoje é mais fácil justificar o não comparecimento, inclusive com aplicativos, o que facilita o não comparecimento – constata, avançando para o que sustento o principal.

– Na última década se intensificou a apresentação da política como algo ruim e os políticos como corruptos, favorecendo candidaturas de outsiders. Os partidos perderam importância e não são mais capazes de mobilizar pessoas. Os próprios candidatos escondem o partido (cadê a estrela do PT ou a rosa do PDT?). Há um certo desencanto com a democracia, com a valorização de discursos autoritários e desvalorização do voto – analisa.

Também na reportagem de Fabiana Reinholz,

Marcelo Kunrath Silva, professor do Departamento de Sociologia da UFRGS, considera o “longo processo de conflitos e crises políticas que se estende há mais de uma década, tomando como marco inicial os protestos de 2013”.

– Nesse período, há uma forte deslegitimação do sistema político, fragilizando os partidos que eram estruturantes das disputas políticas nacionais desde os anos 1990: o PT e, especialmente, o PSDB – analisa.

Segue a reportagem: “Conforme destaca Marcelo, o impacto das acusações de corrupção generalizada nos governos petistas, que marcaram os noticiários nacionais por mais de uma década, afetou todo o sistema político, fortalecendo a desconfiança nos partidos e abrindo espaço para as opções políticas que mobilizam o discurso da ‘antipolítica’, como o bolsonarismo”.

– Em todas as eleições nos últimos anos, há uma parcela significativa do eleitorado, às vezes majoritária, que não se identifica com nenhuma das opções apresentadas nas eleições e que, por isso, se abstém ou vota em branco, ou nulo – analisa, pontuando que “a pandemia e, especialmente, as enchentes colocaram uma série de urgências relacionadas à vida e à sobrevivência cotidianas como preocupação central de significavas parcelas da população.

– Nesse contexto, as eleições perdem importância para populações que, na sua maioria, já não têm confiança ou expectativas positivas em relação aos partidos e à política – conclui.

Observe o gráfico, do Instituto Democracia, e abaixo concluo.


Ao fim, goste-se ou não da política, alguém sempre vai governar. E os ausentes restam mortos temporários, como dizia Millôr.

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