RAFAEL MARTINELLI

De Leon vice é uma escolha estratégica de Marco Alba em Gravataí

Marco Alba recebendo De Leon em casa, em vídeo de anúncio da chapa

Thiago De Leon (PDT) como pré-candidato a vice é uma escolha estratégica, como estratégico – e de um pragmatismo implacável – é Marco Alba (MDB). Por obvio, a chapa ‘MarxDonalds’ surpreendeu e agitou o cenário político de Gravataí. Como sempre, em política, o tamanho do movimento é diretamente proporcional às críticas.

Antecipei com exclusividade no tuíte abaixo.

Antes da análise, é preciso lembrar uma característica da personagem Marco Alba. Avesso a entrevistas e com uma obsessão por controlar as narrativas políticas em grandes questões que o envolvem, o ex-prefeito usa de um discurso sinuoso. É preciso saber, ou tentar ler nas entrelinhas.

Vou encarnar então Gay Talese, em Frank Sinatra Está Gripado. Sem conseguir uma entrevista, o jornalista seguiu-o e fez um relato de um dia do pop star em um pub, onde se divertia com amigos, observando-o, ao longe, e ouvindo o que podia.

Enfim, nada nesta análise foi Marco Alba que me disse, para além de “é uma parceria sem a lógica da velha política, do toma-lá-dá-cá”. Sigamos.

Começo pelo que reputo estratégico na escolha. Não tem a ver somente com o vereador de primeiro mandato ser bom de voto – em sua primeira eleição para deputado estadual, em 2022, recebeu 16.733 votos; leia em #DasUrnas | Thiago De Leon foi a grande surpresa da eleição em Gravataí; E em um partido em extinção. Como sempre insisto, política nunca é uma soma simples.

Fato é que, entre os vices das outras duas candidaturas, Dr. Levi Melo (Podemos) do prefeito Luiz Zaffalon (PSDB), e Diego da Veiga Lima (PSB) de Daniel Bordignon (PT), De Leon é aquele que potencialmente permite ampliar o espaço para a busca de votos.

Por que?

Parece-me obvio que os eleitores de Levi e Veiga Lima já seriam eleitores de Zaffa e Bordignon. Os de De Leon não.

Marco Alba parece fazer uma aposta de que, em uma eventual polarização com Zaffa, possa ser um ‘Eduardo Leite’ do segundo turno da última eleição estadual, recebendo o ‘voto útil’ da centro-esquerda que identifica no atual prefeito o ‘candidato bolsonarista’ – Zaffa recém recebeu apoio do PL, partido de Bolsonaro; leia em 72h após desistir de candidatura para apoiar Zaffa, Capaverde assume como secretário em Gravataí; O convite de honra de Bolsonaro, o atentado a Trump e o Pequeno Príncipe.

Por que polarização? Zaffa, com Marco como seu ‘Grande Eleitor’, recebeu 51,3% dos votos em 2020.

Mais: mesmo que não ocorra a polarização, Marco tem em seu vice um potencial buscador de votos no professorado e na comunidade escolar, eleitorado historicamente mais simpático a Bordignon e o PT. De Leon é conhecido como o vereador que, durante todo mandato, doou metade do salário para escolas; leia em Vereador de Gravataí doar salário é bom para escolas e ruim para política.

De Leon é, também, um potencial antídoto para o apoio praticamente certo de Dimas Costa (PSD) a Zaffa. O ex-vereador com histórico de centro-esquerda vai buscar votos para o prefeito entre canhotos da aldeia.

A escolha de Marco também é estratégica para a próxima eleição. Como assim? Vencendo a eleição, dificilmente seu vice deixará o cargo acéfalo para concorrer à Assembleia Legislativa, que tem hoje Patrícia Alba (MDB) como única representante de Gravataí. De adversário nas urnas, De Leon se torna um potencial apoiador da deputada em 2026.

Ou mesmo uma dobradinha de um futuro governo, De Leon a estadual, Patrícia a federal.

De Leon e Marco Alba


Vamos agora às explicações oficiais da chapa.

No vídeo de lançamento, de aparente inspiração em postagens de TikTok, ao estilo do jovem vereador e sociólogo de 29 anos, que entre os políticos da aldeia aparece sempre entre os melhores desempenhos nas redes sociais, Marco e De Leon apresentam como palavras chave “futuro” e “compromisso com a educação”.

Aí resta uma evidência do que analisei acima, o potencial de De Leon ampliar o eleitorado de Marco, mas também uma dúvida – que já motiva a crítica de adversários, que disparam desde ontem vídeos e memes com postagens antagônicas da chapa.

A qual “educação” Marco e De Leon se referem? Aguardemos o plano de governo a ser apresentado após a homologação das candidaturas. Se investiu nas escolas, uniformes, gradis e melhorou os indicadores, fato é que o modelo de educação dos governos de Marco, e parte do governo Zaffa, teve como base um plano pedagógico uniforme para as escolas, com a contratação do sistema Positivo e Moderna. De Leon criticava-os como uma ‘privatização’ da educação que custou à Prefeitura, até a suspensão neste ano, cerca de R$ 100 milhões.

Anabel Lorenzi, candidata a prefeita de De Leon na eleição de 2020, representava a principal crítica ao modelo. Como também antecipei ontem, a professora anunciou desfiliação do PDT após o anúncio da aliança com o MDB. Sob a gestão de Anabel, o PDT abriu processo de expulsão dos vereadores Dilamar Soares e Bino Lunardi por votarem a favor da reforma da previdência apresentada por Zaffa, que na época tinha Marco como articulador político.


Chegamos à famigerada ‘polarização nacional’, que quem me acompanha sabe não concordo com a definição, já que polarização exige dois extremos, e se Bolsonaro é um, ou outro não é Lula, que como já disse o poderoso chefão Zé Dirceu, faz um governo de “centro-direita”, corrigindo-se depois da repercussão para “centro-esquerda”.

Mas vamos lá. Ao Lula-Bolsonaro, inevitável, principalmente nos monólogos das redes antisociais.

De Leon é do PDT, partido que, a partir de ação no TSE, foi responsável por Bolsonaro ter sido condenado inelegível. Marco Alba, apesar de sempre evitar posicionamentos mais radicais, apoiou Bolsonaro no segundo turno de 2018 e 2022, além de ter aberto dissidência no partido para apoiar, em primeiro e segundo turno, Onyx Lorenzoni (PL) a governador.

As redes sociais de De Leon são repletas de críticas ao inelegível, assim como as fez também a Marco e Patrícia, e adversários correm para explorar. No País do LulaNaro, uma chapa que une centro-direita e centro-esquerda provoca inevitável alvoroço no Grande Tribunal das Redes Sociais.

De Leon foi apresentado ontem em reunião organizada pelo MDB no CTG Aldeia dos Anjos

Ao fim, é a Real Politik.

Marco apresenta De Leon como um “olhar para o futuro”, mas assenta-se em seu legado, cujo segundo governo encerrou com alta popularidade. Legado que, no vídeo-anúncio, é reconhecido pelo vereador que fazia oposição a seu grupo político – quando ainda era o ‘Grande Eleitor’ de Zaffa – e diz agora ser “uma grande honra de participar de um projeto que transformou Gravataí”; assim como, em abril, quando ainda era pré-candidato a prefeito, já tinha dito que “a gestão de Marco foi importante para o desenvolvimento da cidade”; leia em Thiago De Leon é o candidato a prefeito do ‘bom-mocismo’ em Gravataí; Leia entrevista.

Fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos: Marco Alba faz, até aqui, o maior movimento da eleição, ao sair do isolamento e apresentar um vice com potencial de ampliar seu espectro de votos. Unanimidade, nem Deus, já que alguns preferem o diabo, e outros não crêem em um ou outro.

Encerro com uma historinha, que mostra as voltas que a política dá. Na diplomação após a eleição de 2020, aproximei-me de Marco, que em frente à Câmara conversava com De Leon, O então prefeito disse, abraçando o recém eleito vereador pela oposição:

– Esse vai dar bom!


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