Nada será como antes. Esta tem sido a frase que mais ouvi desde o início da pandemia no Brasil. Quase sempre vem acompanhada da recomendação de que precisamos nos adaptar aos tempos de distanciamento social, ao novo normal. Na semana passada, em uma das raras saídas do meu regime de trabalho em home office, vi uma cena que esperava não mais ver nas ruas de Gravataí. Três garotos puxavam carrinhos carregados de materiais recicláveis em uma das principais avenidas da cidade. O trabalho é digno como qualquer outro, mas eles não tinham mais que dez anos de idade e mal podiam com o peso da carga. Deveriam estar na escola, aquela que ainda está na fase online e fora do alcance da maioria dos filhos das famílias de baixa renda. A pandemia está no pico em nossa região, está longe de passar e já nos defrontamos com “novos velhos” desafios.
Pais perderam empregos, porque se esgotaram os recursos das empresas para mantê-los diante da baixa atividade econômica. Não tem caixa que resista quando cessam os lucros. Podem faltar meios até para manter a chamada responsabilidade social, caso não se consiga reativar logo a economia. Esta expressão surgida nos meios empresariais dos Estados Unidos e de países europeus em meados do século 20, com mais ênfase nas décadas de 1950 e 1960, tem potencial para ajudar a sociedade nesta retomada. Será a fórmula da iniciativa privada para apoiar as ações do setor público na mesma direção. Medidas efetivas que provoquem geração de emprego e recuperação de renda precisam da união de todos, como a que foi demonstrada esta semana nas reuniões de Brasília. Inacreditável que para isso acontecer foram necessárias mais de 300 mil mortes por Covid19. Enfim, antes tarde do que nunca.
É certo que todos queremos trabalhar com tranquilidade, sem receio do contágio e da morte que podemos trazer para casa, para nossa família. Por isso torcemos pela celeridade da campanha nacional de vacinação. Sem problemas ter que usar máscara ainda por um tempo, continuar usando álcool gel e mantendo o distanciamento até que a vacina chegue a todos. Com trabalho se vence a crise, se devolve emprego para os pais e mães que primeiro perderam o sono, depois a esperança. Trabalhando podemos tirar as crianças do lixo das ruas e devolvê-las à escola, onde terão chances de se saírem melhor do que nos saímos até agora, em nossas batalhas para vencer desafios antigos como as melhorias na educação, saúde, segurança e saneamento. Que possamos sair dessa mais solidários, mais maduros e mais unidos para construir uma sociedade com menos injustiça social. Isso só se consegue com mais autossuficiência, essa capacidade de estender as oportunidades que temos para quem não tem a capacidade de chegar lá sozinho.