Se não é apenas satisfação aos insatisfeitos que estão perdendo dinheiro, deu a louca em Eduardo Leite! O governador apresentou a prefeitos uma sugestão de cronograma de volta das aulas presenciais em todos os níveis de ensino, de forma escalonada, já entre o fim de agosto e até a metade de outubro. Só nos primeiros dois dias, com a volta das crianças de zero a cinco anos, a rede de contatos poderia atingir mais da metade da população de Gravataí e Cachoeirinha.
Fosse hoje, Gravataí, Cachoeirinha e Glorinha estariam fora da ‘graduação do contágio’, já que o ‘total descontrol’ do Distanciamento Controlado do Governo do RS só valeria para bandeiras laranja e amarela. A Região Porto Alegre está em bandeira vermelha, de alto risco, como tratei ontem em Gravataí e Cachoeirinha sob bandeira rosa; Leite socializa o ’total descontrol’, ou ’cada um por si e um leito para todos’.
Conforme o cronograma, as aulas começariam pela Educação Infantil, tanto privada quanto pública, a partir de 31 de agosto. A partir de 14 de setembro estariam autorizados a voltar às salas de aula os estudantes e professores de todas as redes de Ensino Superior. Os ensinos Médio e Técnico retornariam em 21 de setembro. A partir de 28 de setembro, os anos finais do Ensino Fundamental. Os anos iniciais do Ensino Fundamental seriam os últimos a serem retomados, a partir de 8 de outubro.
– Nosso comitê técnico está avaliando, mas sob bandeira vermelha as aulas não voltam – disse ao Seguinte: o prefeito de Gravataí Marco Alba, que nesta tarde tem a primeira videoconferência com os prefeitos de Cachoeirinha, Glorinha, Viamão, Alvorada e da Capital, que formam a Região 10 Porto Alegre.
A amigos o prefeito já manifestou preocupação com a volta das aulas presenciais em meio à pandemia.
– Alguns defendem o não retorno das aulas presenciais em 2020. Papel dos governantes é garantir segurança às famílias e, se possível, preparar o retorno. Se não for possível, precisamos avaliar como tratar este ano da pandemia – tuitou Miki Breier, prefeito de Cachoeirinha.
Fato é que é preciso pensar além do “primeiro dia”. Modelo matemático produzido por grupo de especialistas em planejamento da Universidade de Granada alerta que colocar 20 crianças numa sala de aula implica em 808 contatos cruzados em dois dias. Na Espanha, não no Rincão da Madalena ou na Anair. Fosse em Gravataí, seriam 161 mil pessoas na rede de contatos. Em Cachoeirinha, 80 mil.
O modelo apresentado em reportagem do EL País projeta que “supondo uma família espanhola média, composta por dois adultos e 1,5 filhos menores (dado usado nas operações matemáticas, assumindo que há 10 alunos com um irmão na sala de aula e outros 10 são filhos únicos), no primeiro dia de aula cada aluno será exposto a 74 pessoas. Isso ocorrerá exclusivamente se não houver contato com alguém fora da sala de aula e da casa da família.
No segundo dia a interação chegaria a 808 pessoas, considerando exclusivamente as relações sem distanciamento nem máscara da própria classe e as das classes de irmãos e irmãs. A projeção excede 15.000 contatos em três dias.
Se o número de crianças na sala de aula subir para 25, como muitos estados espanhóis anunciaram, porque se trata da proporção habitual, o número de pessoas envolvidas aumentaria para 91 no primeiro dia e 1.228 no segundo. O contágio de uma pessoa desse grupo acarreta um risco automático para todo o grupo, portanto, espera-se que qualquer situação de alerta leve ao fechamento da sala ou mesmo de toda a escola, se houver espaços ou professores em comum”.
Alberto Aragón, coordenador do projeto, lança questionamentos óbvios: O que deve ser feito se uma criança tossir? Quando os professores serão submetidos a um teste? Todos os dias? Às vezes? Se adoecem?
– É necessário ir além desse primeiro dia de retorno às aulas e é preciso pensar no segundo e nos dias seguintes – diz o especialista, que se preocupa com uma possível suspensão das aulas logo após a abertura, como aconteceu em Israel, que registrou o fechamento de 100 escolas nos primeiros três dias, “mais por prevenção por causa de tosses ou febres do que por confirmação da doença”.
Ao fim, o exemplo mais bem sucedido é a Dinamarca, onde as aulas retornaram em classes com 10 alunos, equipadas e higienizadas, que saem de cinco em cinco para o recreio e com uma organização temporal e espacial que minimiza os contatos. Sabemos todos, Marco Alba e Miki, e Leite também, que a distância é maior que os 11147 km de vôo. É o oceano da desigualdade social.
Printe & Arquive na Nuvem: se as aulas voltarem antes do contágio estar sob controle, professores e trabalhadores em educação entrarão em greve. Gravataí, com incidência de contágio igual a Porto Alegre, e Cachoeirinha, com incidência duas vezes maior que a Capital, tem recorde de mortes em agosto. É a ‘ideologia dos números’, que contrasta com a falta de ar de CNPJs, principalmente de escolas infantis particulares que pressionam prefeitos.
A discussão de fundo é essa, não o ano letivo perdido pelos alunos.
Nem covidiotas tem segurança de mandar filhos e netos para a sala de aula no Brasil das 103.421 vidas perdidas às 16h de hoje.
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