… agradar as pessoas que gostam de mim.
— Então tu devia parar de fazer essas coisas.
Devia? E é justo eu ter que aturar o que os outros fazem e ficar calado?
— É só ignorar.
E dar a impressão de que eles podem me amedrontar e me intimidar, sem enfrentar nenhuma consequência? Eles têm liberdade para me agredir, e é errado eu me defender?
— Tu tá causando desconforto para as tuas pessoas próximas.
Ora, mas eu tô só falando o que eu penso. Eles não gostam disso? É tão bonito quando o outro fala o que ele pensa, mas se eu falo, é feio?
— Tu não pode te comparar com o outro.
Eu não tô me comparando. Eu tô comparando a atitude deles com o outro e a atitude deles comigo. Eu não me comparo com ninguém.
— Mas isso dá no mesmo, não dá? De qualquer forma, tu tá te comparando. Eu acho que não. O ponto aqui é, se eles gostam tanto assim do outro a ponto de tolerar o que ele diz, mas não têm a mínima vontade de entender o porquê das coisas que eu digo, então eles devem gostar mais dele do que de mim.
— Tu já falou com eles pra saber se é isso?
Por que é que eu é que tenho que falar? Por que eu é que tenho que correr atrás? Eles podem falar comigo também. Eles têm boca pra falar.
— Talvez eles te achem inacessível.
Mas o que eu faço, então? Devo me prostrar? Pedir desculpas por algo pelo qual eu não me arrependo? Devo deixar de ser legítimo pra agradar os outros?
— Tu sabe que as pessoas usam “legitimidade” como pretexto para grosserias. Mas eu não acho que eu fui grosseiro. Se eu devo ser condenado por ser grosseiro, por que então o outro eles não condenam?
— De novo tu tá te comparando.
Tá, azar, então, eu tô me comparando, mesmo. Eu me comparo porque eu tenho certeza que eu sou melhor que ele, e, sendo assim, eles deveriam dar mais ouvidos a mim do que a ele.
— Então por que isso não acontece?
Por que eu não digo o que eles querem ouvir, é isso. Pode crer que eles te elogiam e te aplaudem enquanto tu faz o que eles querem. No instante em que tu finca o pé e te defende, eles se esquecem de tudo, tudo.
— Será que é tanto assim?
Pra mim, sempre foi. Tu devia saber que, pra mim, a autodefesa sempre foi um direito negado.
— E agora tu quer te vingar disso?
Vingar? Eu quero mudar minha atitude, achar um equilíbrio, aprender a me defender sem me sentir culpado por isso.
— Mas a que custo?
Qual custo?
— Que as pessoas queridas se afastem de ti, por causa do que outros fazem.
Eu não quis afastar ninguém. Nesse caso, o que me resta é parar de fazer essas coisas, só pra agradar as pessoas que gostam de mim.
— Então tu devia parar de fazer essas coisas.
Devia? E é justo eu ter que aturar o que os outros me fazem e ficar calado?
— É só ignorar.
E dar a impressão de que eles podem me amedrontar e…