Aqui estou eu, mais uma vez, em Quito, a bela capital do Equador, onde cheguei, em 1980, para fazer um estágio de dois anos na Embaixada do Brasil, sem suspeitar que aquele seria o início de uma longa permanência no País.
Ao voltar a Porto Alegre com meus filhos, em 1997, tampouco poderia imaginar que, anos depois, eles fariam o caminho inverso, optando por se estabelecer por aqui, onde os visito, pela segunda vez desde então, e os encontro felizes e realizados.
Foi deles a decisão, que não contestei, de que deveria vir a Quito para que comemorássemos juntos meu 67º aniversário.
Como sempre faço, nestas ocasiões, no momento em que a passagem chegou às minhas mãos, comecei a arrumar as malas. Mas, mesmo assim, passei a noite de sábado desperta, fazendo mil coisas dentro de casa, pois um táxi iria me buscar às 4h45min, para me levar ao aeroporto, e a excitação com a viagem era tão grande que nem pensei em me deitar.
Naturalmente, assim que me instalei no avião da Avianca, que não era nenhuma Brastemp (fiquei pensado em como fariam alguns amigos “pernudos” com tão pouco espaço entre as filas de assentos), cai no sono. Algum tempo depois, despertei morta de fome, justo na hora em que os comissários de bordo surgiam, na ponta do corredor com seus carrinhos.
Dali em diante, pus-me a admirar aquele colchão imenso de nuvens sobre o qual estávamos flutuando, e me dei conta do erro que tenho cometido, há décadas, em minhas viagens aéreas, ao escolher assentos que ficam junto ao corredor, para não incomodar os passageiros vizinhos caso tenha de ir ao banheiro. Por sorte, desta vez a Nanda fez o meu check-in pela Internet e escolheu o assento da janela.
Em pouco tempo, estávamos abaixo das nuvens, sobrevoando a Cordilheira dos Andes, em uma região do Peru tão inóspita quanto uma paisagem lunar.
Mas logo chegamos ao imenso aeroporto de Lima, onde faria a conexão para Quito, e, depois dos trâmites necessários ao meu embarque, tive tempo para apreciar a maravilha do artesanato peruano nas lojinhas do Duty Free
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Nunca entendi porque, no RS e em outros estados brasileiros, tirando os do Nordeste e Minas, não há um incentivo mais efetivo à produção artesanal. Esta é a maior fonte de renda para grande parte das famílias nos países andinos e em muitos outros.
Mais adiante, o cinza da paisagem foi ficando para trás, e me dei conta de que já estávamos no Equador quando avistei algumas montanhas cobertas por colchas de retalhos dos mais diversos tons de verde, como sempre me pareceram os cultivos dos indígenas.
E chegamos, afinal, ao novo aeroporto de Quito, construído em uma das gestões de Rafael Corrêa, que sim cometeu erros, mas deixou um legado importantíssimo ao país, sobretudo na área da infraestrutura,
Logo na entrada, um banner gigante anuncia: “Ecuador- República del Cacao” (quando vivia aqui, o País já era um grande exportador do produto in natura, mas agora exporta, também, chocolates finos, que não eram produzidos naquela época) e outro destaca os vários prêmios internacionais conquistados por aquele aeroporto.
Em poucos minutos, estava com meus filhos na autoestrada que liga o aeroporto à cidade, também construída nos tempos do Corrêa e, logo mais, no bairro Floresta, um simpático reduto boêmio onde eles vivem em uma casa grande cheia de cachorros e de vasos com flores, chás e temperos. Uma lindeza!
Depois de um delicioso almoço preparado pelo Bruno, jogamos muita conversa fora e, quando vimos, já era hora de sairmos para o teatro do Grupo Malayerba, para assistir ao espetáculo O fantástico passeio do Senhor Lucas, que estava comemorando 20 anos de sua primeira apresentação. No palco, os gêmeos Gerson e Glauber Guerra, filhos da minha amiga Tuca, e, na equipe técnica, dois de seus netos.
Eu adoro a efervescência cultural desta cidade!
: Sônia, recepção entre comes e bebes com filhos e amigos
: Gerson Guerra em uma cena do espetáculo O fantástico passeio do Senhor Lucas, a que eu já havia assistido, anos atrás, em Porto Alegre, no Festival Palco Giratório, do Sesc
: Casa Malayerba, em Quito
La Mitad del Mundo
De 1736 a 1742, a região conhecida, hoje, como Equador, ainda sob o domínio dos espanhóis, recebeu uma missão geodésica da Academia de Ciências Francesa, incumbida de comprovar teorias sobre o formato da Terra.
O grupo deixou, entre outros legados, o sistema métrico decimal, surgido das medições e cálculos astronômicos realizados para determinar o achatamento do globo terrestre, e a definição do local onde passaria a linha imaginária que separa o Hemisfério Sul do Hemisfério Norte, que acabou dando nome ao País.
Embora pesquisas realizadas com tecnologias modernas tenham apontado que, de fato, a linha equatorial fica a cerca de 240m ao Norte desse local, é ali, na Paróquia de San Antonio de Pichincha, a cerca de 30 Km do centro de Quito, que foi erigido o monumento que marca a latitude zero do globo terrestre e, mais tarde, criado o complexo turístico Ciudad Mitad de Mundo