Ontem, foi dia de bater perna pelo bairro Floresta, aqui de Quito, onde vivem a Carla e a Fernanda, e o Bruno está passando um tempo entre suas viagens. Estou feliz de que ele tenha podido estar aqui nesta época. Estava morrendo de saudade dos meus filhos…
Depois de um big café da manhã, as gurias foram para seus computadores (a Carla trabalha à distância para uma empresa brasileira e a Nanda presta serviços para vários clientes daqui, na área da Comunicação Corporativa), e saí com o Bruno, lá pelas 11h, com previsão de voltarmos para o almoço, que, no Equador, nunca é servido antes das 13h.
A propósito, aqui não se fala 13h, mas 1PM, como nos Estados Unidos e, quando são 13h no Equador, são 10h no Brasil, no horário de verão, após o qual a diferença passa a ser de apenas duas horas.
Antes de sair, nos cobrimos de protetor solar, porque embora aqui raramente faça mais do que 27ºC, a sensação térmica é bem maior, em função da altitude (2.850m acima do nível do mar) e da incidência direta dos raios solares na faixa equatorial. Quito recebe níveis extremos de radiação solar, o que chega a atingir 24 UVI (Índice Ultra Violeta).
E, para evitar que eu tivesse um “soroche”, o mal da altura, em função da redução da pressão atmosférica e do oxigênio, à qual o organismo leva alguns dias para se adaptar quando chegamos de regiões mais baixas, tomei muita água antes de sair e no caminho, e andamos devagarinho pelas ruas.
Sem deixar de ser residencial, este bairro é um reduto boêmio e cultural simpaticíssimo, cheio de cafés, restaurantes, hostels, salas de cinema, teatros e ateliês de artistas. Além disto, como há várias universidades por aqui, os comerciantes costumam praticar preços inferiores aos de outros bairros da cidade. Encontram-se, por exemplo, almoços a U$2,50 (a economia está dolarizada), que incluem sopa, prato forte e suco de frutas.
Depois, seguimos até o bairro La Mariscal, onde está a maioria dos grandes hotéis e embaixadas, a Casa da Cultura Equatoriana, vários museus, lojas de artesanato e outros locais de visitação obrigatória para os turistas, além da Praça Foch, considerada o epicentro da diversão em Quito, com seus bares, restaurantes e discotecas.
No caminho, paramos para apreciar o grande mural que está sendo pintado em uma das laterais do Edifício El Girón para celebrar a biodiversidade e homenagear nove mulheres indígenas que se destacam pela defesa da água, da selva, da terra, das sementes e da cultura tradicional.
É fascinante o culto dos indígenas dos países andinos à Pachamama (Madre Terra) — uma divindade feminina não criadora, mas protetora e provedora, que possibilita a vida e favorece a fertilidade e a fecundidade—, à qual rogam que garanta seu sustento e pedem desculpas por falhas cometidas contra a Terra.
No bairro La Mariscal, fomos direto ao Mercado Artesanal, onde se encontra artesanato de todas as regiões do País, a preços justos: tapetes, cobertores e xales feitos em tear, bordados, instrumentos andinos, chapéus Panamá (que nunca foram produzidos no Panamá), joias de prata, bijuterias feitas com sementes da Amazônia equatoriana, etc.
Por lá, comprei algumas roupas de lã, pois, para não pagar excesso de bagagem, só trouxe a jaqueta que usei na viagem. Ocorre que a Avianca permite que despaches uma mala de 23Kg e que embarques com outra, de 10Kg, e minha bagagem já estava no limite, porque trouxe, além de minhas coisas, algumas dos meus filhos, que ainda estavam no Brasil, produtos de supermercado que não encontram aqui e guloseimas enviadas pela minha irmã.
Menos mal que o Bruno estava comigo, para negociar o preço do que comprei, pois o “regateo” (a pechincha) é algo tão forte no Equador que os vendedores aumentam o valor dos produtos, pois sabem que todos os compradores equatorianos pedem desconto.
Eu vivi 17 anos neste país e nunca aprendi a fazer isto. Quando algo me parecia caro, em um mercado, dava as costas e ia buscar outro posto e, invariavelmente, o vendedor gritava: “Espera! Não vais me fazer outra proposta? Posso baixar o preço!”, e me olhava como se fosse uma pessoa despreparada para fazer qualquer tipo de negócio. E era.
Na volta, pegamos um táxi até um supermercado próximo à casa, que custou apenas US$1,70 (a gasolina aqui é super barata) e fizemos algumas compras.
Fiquei encantada, por lá, com dois contêineres destinados à coleta de resíduos sólidos recicláveis. No primeiro, podes colocar, em compartimentos separados, caixas de leite, sacolas de plástico, papel e papelão ou garrafas PET, e cada um desses materiais é recolhido diretamente pela fábrica que o recicla.
E, no segundo, podes depositar resíduos domésticos especiais como lâmpadas, pilhas e baterias, tintas, remédios vencidos e pequenos aparelhos elétricos e eletrônicos. Cá entre nós, jamais entenderei porque o Brasil está tão atrasado nesta área…
De volta à casa, almoçamos um rico de um arroz com feijão (preparado sem carnes, pois as gurias são vegetarianas), com moranga caramelada e saladas. E, pela tarde, saí com a Carla e o Freddy, um dos cães da casa, que acaba de passar por um mês de internamento em uma escola, para superar algumas neuras. Um fingido esse Freddy: em casa é a criatura mais doce do mundo, mas basta sair à rua e faz a Carla voar para acompanhá-lo com a guia e puxa briga com todos os cachorros que encontra no seu caminho.
Aproveitamos para comprar “humitas” (pamonhas) para o jantar e depois ficamos por aqui, conversando à beira da lareira, pois fazia um frio danado.
E adivinhem quem me acordou no meio da noite? O tal “soroche”, o mal das alturas, que achei que não ia me pegar, desta vez, como havia feito na anterior, em 2016, quando meus filhos me levaram direto do aeroporto a uma feijoada, na casa da minha amiga Tuca, com direito à caipirinha, samba, etc.
Agora, fiz tudo direitinho, mas, mesmo assim, despertei às 3 de manhã com falta de ar e uma tremenda dor de cabeça, e o que me curou, de novo, foi o bendito chá de folhas de coca, uma bebida milenar consumida sobretudo nas regiões andinas do Peru e da Bolívia.
Decidi, então, pesquisar um pouco mais sobre o soroche e encontrei um conselho interessante: “Pare antes de cansar, coma antes de ter fome e beba antes de ter sede”. Então, resolvi tirar esta manhã para fazer manha.
De tarde, saio de novo, com destino ao fabuloso Mercado Santa Clara.
O álbum de fotos:
: Ateliê de arte no bairro Floresta
: Arte e leitura, também no bairro Floresta
: Café Botânica, no bairro Floresta
: Centro Cultural focado no cinema, atração no Bairro Floresta
: Contêineres para coleta de resíduos domésticos especiais
: Contêineres para coleta de resíduos sólidos recolhidos diretamente pelos fabricantes que os reciclam. Por exemplo, todas as garrafas pet são recolhidas exclusivamente pela Coca-Cola
: Livraria na Calle Veintimilla
: Loja de bordados produzidos no povoado de Zuleta
: Outro ângulo da loja de bordados de Zuleta
: Mercado artesanal do bairro La Mariscal
: Mural no edificio El Giron
: Oficina de bicicletas no bairro Floresta
: Outro ângulo da oficina de bicicletas no bairro Floresta