a poesia do cidade

Diário do Isolamento #10

Abriram os shoppings. Logo abrirão os corpos dos passeadores

Disfarçados de compradores – Laranjas – Papai Comércio TE MANJA

Vamos nos amontoar e consumir uns a todos orando com a genitália esguichando de volúpia

Onde se compra se pode orar e ser visto orando a obra do Senhor desvalorizada numa sorveteria americana/um celular ungido para ligar para o céu

Um chapéu de caubói para um ciborgue verde e amarelo – um conselho é sempre uma reprimenda ou bajulação – fui ao médico achando estar infectado – fui cavalinho de cavalinho

Entre assassinos fui salvo – sete pessoas que no posto estavam comigo NÃO – doce pneumonia

Quem lê poesia na pandemia?

O amor como uma picada de vespa – pegue-me! Pegue-me! PAGA-ME! – montinhos de comprimidos coloridos para meus órgãos doloridos – o amor como uma serpentina – o amor como uma crina – o amor como a palavra divina – o amor como amor vesuviando ao teu comando

EXCELSIOR! – DOREI SUA DOR NA POLUIÇÃO VERBAL DA CIDADE QUE MATA SUAS MATAS

E pra esse mês já calculei suas metas: como sempre venda mais do que sempre

Quem lê poesia na pandemia?

“um jardim, viajante do tempo

No nosso presente seja prudente

Não separamos céu de inferno

Amor carnal de amor materno

E anseiam pela vida cutucando a morte

Viajante do tempo, está por sua sorte.”

 

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