A assinatura do aguardado decreto presidencial que flexibilizou a posse de armas, na última semana, já tem reflexos em Gravataí. A procura por informações para a compra de armas e também sobre os trâmites a serem seguidos para conseguir um registro disparou. Na loja Caça e Pesca, que já atua há 30 anos na cidade, a estimativa é de que aumentou em 50% e 80% a procura de clientes interessados em ter uma arma.
— Na verdade, é a continuidade do que já vínhamos notando desde o final do ano passado. Em torno de 30 pessoas por semana vêm à loja informar-se sobre a documentação necessária e outras informações. Aqui na loja, além da venda de armamentos, nós prestamos toda a assistência para que a pessoa possa fazer o registro — explica o proprietário, Jonatas Machado Fraga.
Para que se tenha uma ideia, somente no último ano, houve um crescimento de mais de 40% no número de clubes de tiro registrados no Rio Grande do Sul. O ano de 2018 fechou com 80 locais adequados para o treinamento de tiro no Estado.
Segundo Fraga, a expectativa para 2019 é aumentar a média de armas vendidas por mês. Até 2018, a loja vendia, em média, sete armas a cada mês. Fraga acredita que chegará a 10 armamentos vendidos, em média, por mês.
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E se na ponta do sistema a procura aumentou, no meio da cadeia para ter a qualificação, o registro e a posse de armas explodiu. De acordo com o despachante de armas, Alex Souza, que tem escritório há dois anos em Gravataí, o telefone não parou desde a assinatura do decreto.
— Eu diria que aumentou uns 200% a procura por informações, mesmo que o decreto, na prática, não tenha mudado nada no Rio Grande do Sul em relação à possibilidade de se ter uma arma. O que aumentou foi a informação do público. Os civis, que antes achavam que não poderiam ter uma arma em hipótese alguma, agora foram informados de que sempre puderam, desde que qualificados — diz.
E esta é a ressalva que Souza, especialista em armamentos, com 15 anos de experiência, faz ao avaliar o aumento do interesse da população em ter uma arma para defesa pessoal.
— O primeiro conselho que eu sempre dou é buscar profissionais qualificados para todos os trâmites. Desde a questão de documentos até o treinamento. Não é só comprar uma arma e ter em casa. A pessoa precisa saber usar, manter o treinamento e ser acompanhada nessa qualificação por especialistas — recomenda.
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Responsável pela empresa SDA Despachante de Armas, Souza relata em seu site que, nos últimos dez anos, retirou 330 portes de armas em toda a Região Sul do país. E é com este conhecimento que ele acredita que o decreto de Jair Bolsonaro (PSL) não vai alterar o funcionamento das liberações de armas no Estado.
— Aqui no Rio Grande do Sul, a Polícia Federal costuma avaliar tão somente os critérios técnicos, de treinamento e documentação do interessado. É de Santa Catarina para cima que, muitas vezes, a liberação ficava sujeita ao critério discricionário do delegado. Isso ficou bastante reduzido com o decreto — aponta.
Sobre um dos pontos polêmicos da medida assinada semana passada, que abre a possibilidade de se manter, em casa ou no local de trabalho, até quatro armas registradas, Alex Souza rebate:
— Até dois meses atrás, era possível ter até seis armas, dependendo da circunstância. Então o decreto reduziu o número. Mas eu acredito que o número de armas não faz diferença. Tudo depende da qualificação do atirador e do uso que esse armamento terá. Se for para a defesa pessoal, em ambiente menor, uma pistola está ok, mas e se for um sítio na zona rural, provavelmente uma arma longa, calibre 12, seja a mais adequada. Tudo, sempre, com o treinamento ideal para a defesa.
Conforme o último Atlas Brasileiro da Violência, o Rio Grande do Sul bateu recordes de registros de armas nos últimos anos. Entre 2016 e 2017, foram 10,7 mil novas armas liberadas no Estado. A preocupação de estudiosos no tema da violência está em outra estatística preocupantes deste mesmo documento. No mesmo período, o Rio Grande do Sul foi o segundo estado brasileiro que mais entregou armas legalmente registradas nas mãos da criminalidade. Foram 2,5 mil roubos, furtos ou perdas de armas.