Ditaduras no mundo inteiro sempre promoveram eleições para se legitimar, inclusive a nossa. O Seguinte: recomenda e reproduz o artigo de Ricardo Kotscho publicado no Balaio do Kotscho
Salas de votação vazias guardadas por paramilitares fardados são o melhor retrato da farsa que foi a votação de domingo na Venezuela em que Nicolás Maduro foi “reeleito” por mais quatro anos.
Para quê, se o país está quebrado, dilacerado, sem comida, sem remédios e sem esperança?
Mais da metade dos eleitores não compareceu às urnas, a abstenção chegou a 54% dos inscritos.
Com o absoluto controle do Estado e os principais opositores presos ou impedidos de disputar a eleição, Maduro teve 5,8 milhões de votos (67% dos válidos), contra o principal adversário admitido nas urnas, Henri Falcón, que ficou bem distante, com 1,8 milhão de votos.
“O que a gente ganha não dá nem para comer. Quem vai se entusiasmar com essa eleição?”, perguntou o pintor de carros Jesus Pereira ao repórter Fabiano Maisonnave, da Folha.
“Todos estão saindo do país como os pássaros. Quem pode vai embora”, desabafou o eleitor, que compareceu à mesma seção em que votava Hugo Chávez, morto em 2013.
Chávez instalou o bolivarianismo em 1999 e desde então seu grupo foi implantando e ampliando uma ditadura, à medida em que perdia apoio popular e a economia venezuelana se esfacelava.
Maduro foi nomeado herdeiro político do chavismo e, desde que assumiu pela primeira vez, abriu guerra contra as empresas que estariam a serviço dos Estados Unidos.
A indústria nacional foi destruída, vários países importantes cortaram relações e começou a grande debandada de venezuelanos em busca de sobrevivência. Só no Brasil já são mais de 50 mil que entraram no país nos últimos anos.
Mesmo assim, Maduro encontrou motivos para comemorar a vitória em seu discurso no Palácio Miraflores:
“Obrigado por me fazer presidente da República Bolivariana da Venezuela para o período 2019 a 2025. Quanto me subestimaram, e aqui estou.”
Será que o país sobreviverá até lá? O pior é que não tem nada para colocar no lugar dos bolivarianistas.
É importante lembrar que o grande drama venezuelano não é provocado só pelo governo, na desatinada luta pela sobrevivência no poder, mas pelas elites locais, a começar pela mídia, a serviço dos interesses americanos.
Com a oposição dividida por interesses diversos e as instituições totalmente desacreditadas, a população não tem a quem recorrer.
Nós brasileiros deveríamos prestar mais atenção no que acontece por lá, para que a mesma tragédia não se repita aqui com as viúvas da ditadura dos generais, encantadas com a patética figura de Jair Bolsonaro, um ex-capitão, militar como foi Hugo Chávez, só que com os sinais trocados.
A diferença é que Chávez resolveu afrontar os Estados Unidos, enquanto Bolsonaro está pronto para prestar absoluta vassalagem ao grande irmão do norte.
Lá como cá, como sabemos, por trás de tudo está a disputa pelas reservas de petróleo.
Não podemos esquecer que brasileiros também já estão emigrando em massa, não só para Miami e Lisboa, mas também para o Paraguai.
Corremos o risco de virar não uma Grécia amanhã, mas uma Venezuela, se não tivermos juízo.
Vida que segue.