A Polícia Civil do Rio Grande do Sul deflagrou nesta quarta-feira a Operação Krypteia, uma ação inédita do recém-criado Departamento Estadual de Repressão a Crimes Cibernéticos (DERCC), para desarticular uma organização criminosa especializada em estelionatos, clonagem de veículos, falsificação de documentos e lavagem de dinheiro.
A operação, que mobilizou 120 policiais, resultou em 17 prisões e cumpriu 22 mandados de prisão preventiva e 25 de busca e apreensão em seis estados, incluindo Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Rio de Janeiro. O caso teve origem em uma denúncia registrada em Gravataí, onde uma vítima comprou um veículo clonado anunciado no Facebook.
A investigação começou em 2024, após um morador de Gravataí relatar à polícia ter adquirido um Volkswagen T-Cross por R$ 80 mil através de um anúncio online. A vítima recebeu uma Autorização para Transferência de Propriedade (ATPV-e), mas, ao tentar regularizar o veículo no DETRAN, descobriu que o carro era produto de roubo. O modelo original havia sido furtado dias antes no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre. A partir desse registro, as autoridades identificaram uma sofisticada rede que atuava em múltiplos estados.
Modus operandi: clonagem, invasão de sistemas e lavagem
Segundo a Polícia Civil, o grupo era liderado por um homem preso em uma penitenciária gaúcha, condenado a mais de 70 anos por crimes anteriores. Ele coordenava a aquisição de veículos roubados, que eram clonados por uma célula especializada em falsificar placas e documentos. Um estudante de programação de 24 anos, do Rio de Janeiro, invadia contas do Gov.br para acessar dados dos proprietários legítimos e transferir a documentação para as vítimas dos golpes.
Os carros eram anunciados em plataformas como Facebook Marketplace por preços abaixo do mercado. Após o pagamento, os criminosos usavam os dados hackeados para simular a transferência legal, deixando o comprador com um veículo ilegítimo. O dinheiro era lavado por empresas de fachada em Santa Catarina antes de ser distribuído entre os integrantes.
As buscas e prisões ocorreram em 10 cidades, incluindo Porto Alegre, Florianópolis e Rio de Janeiro. Entre os alvos estavam o líder presidiário, familiares, operadores financeiros e o hacker responsável pelas invasões. Foram apreendidos celulares, documentos e equipamentos eletrônicos que serão analisados para vincular os suspeitos aos crimes. A ação contou com apoio das polícias civis do RJ, SC e da Polícia Penal do RS.
Primeiro grande teste do DERCC
A Krypteia é a primeira operação de grande escala do Departamento Estadual de Repressão a Crimes Cibernéticos, criado em abril de 2025 para combater delitos digitais. Em nota, a delegacia destacou que a investigação expôs “a complexidade dos crimes modernos, que exigem expertise técnica e colaboração entre agências”.
As prisões temporárias serão convertidas em preventivas, e os investigados responderão por formação de quadrilha, estelionato, falsificação e lavagem de dinheiro. As perdas financeiras das vítimas ainda estão sendo calculadas, mas estimativas preliminares apontam prejuízos superiores a R$ 5 milhões.
A polícia alerta para a importância de verificar a procedência de veículos em plataformas online e evitar transações sem confirmação presencial de documentos. Casos suspeitos podem ser denunciados às delegacias especializadas em crimes cibernéticos.