na acigra

É bem claro o que Eduardo Leite quer para o RS

Eduardo Leite com o presidente da Acigra Régis Marques

Num ambiente de afagos a Fernando Henrique Cardoso e Geraldo Alckmin, Eduardo Leite também levou seus elogios, ao apresentar como solução para um Rio Grande que despenca do mapa uma receita que o empresariado de Gravataí e do mundo gosta de ouvir: cortes nos gastos públicos e nas vantagens do funcionalismo, privatizações, parcerias público-privadas e desburocratização do estado.

– Vivemos uma crise de confiança – resumiu o ex-prefeito e candidato a governador pelo PSDB, que palestrou e respondeu a perguntas de um público restrito, porém influente, num café da manhã nesta terça com empresários ligados à direção da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Gravataí (Acigra).

Na comitiva política, chegou com o deputado estadual Adilson Troca e foi recebido pelo ex-vice-prefeito Francisco Pinho e os vereadores Neri Facin, Mario Peres e Bombeiro Batista – ausente apenas o tucano que hoje tem a maior plumagem na aldeia, Áureo Tedesco, prefeito em exercício nesta semana de folga de Marco Alba (PMDB).

– Foi-se se o tempo em que os empresários diziam que política era coisa dos políticos. Hoje o empresário participa como nunca, porque a política e os governos influenciam na economia – observou Régis Albino Marques Gomes, presidente da entidade que apresentou o advogado e mestrando em Gestão Pública pela Fundação Getúlio Vargas como um governante que encerrou o mandato em 2016 com 87% de aprovação.

 

: Ex-vice-prefeito e atual secretário de Serviços Urbanos Francisco Pinho foi o cicerone de Leite

 

Político, não outsider

 

– Sou contra reeleição – abriu a palestra de uma hora o jovem que aos 33 anos completos em março poderia ser filho de muitos dos representantes do PIB presente à sede da nonagenária entidade.

Como justificativa para não querer o que quase todo governante quer, não fez o discurso tão em moda: o de ódio à política. Prefeito por quatro anos, Leite não se coloca como os agora tão famosos ‘outsiders’. Ele reconhece a necessidade da vida real de compor com os partidos e negociar com a Assembleia Legislativa.

– O governador tem que ter um projeto claro e propor uma agenda para o legislativo e a sociedade. Não tenho problemas com isso, como demonstram algumas candidaturas que desprezam a política. Há pontos estratégicos e inegociáveis num governo, mas ninguém faz nada sozinho.

Obviamente uma referência à ‘brincadeira’ feita pelo vice-governador José Cairoli (PSD), que nesta segunda disse ter sugerido ao governador o ‘fechamento’ do parlamento para avançar nas privatizações da CEEE, Sulgás e CRM.

Usando expressões do cotidiano empresarial, como “planejamento estratégico”, “metas e resultados”, “eixos de gestão” e “indicadores”, Leite – mais uma vez sem citar nomes – demarcou diferenças com outra candidatura do mesmo campo ideológico, a de Mateus Bandeira, do Novo.

– Há candidaturas que se colocam como apolíticas, que dizem que o partido em que estão não tem problemas, mas criaram uma sigla ontem, para aproveitar o momento de descrédito na política. E também vendem a idéia de que é só entregar tudo para a economia que a coisa se resolve. Acho que a economia tem de ser livre, mas o estado precisa cuidar da área social, dos desprotegidos.

Sobrou também para os adversários mais à esquerda.

– Há candidaturas cujo programa não combina com o partido estatizante a que pertencem – disse, claramente se referindo a Jairo Jorge (PDT), cujo programa de governo preve, por exemplo, parcerias público-privadas.

Leite comparou a Canoas onde o adversário foi prefeito por oito anos com a Pelotas que governou. Tanto nos indicadores econômicos e sociais, como na política – Leite fez a sucessora, Jairo não:

– Comparo porque tem a mesma população – despistou.

– Mas Canoas é a terceira economia, Pelotas a nona. Canoas tem 2 bilhões de orçamento, Pelotas 1. Canoas é 17 vezes menor, o que nos faz ter 50 postos de saúde, Canoas 26. Lá temos 10 mil funcionários, Canoas seis mil. Com todas as dificuldades, conclui o mandato com um governo reconhecido pelas soluções, aprovado por quase nove em cada dez pessoas e tendo a saúde como principal marca na avaliação das pessoas. Minha sucessora foi eleita com 60% dos votos em primeiro turno, algo que nenhum governante conseguiu nas cidades com segundo turno.

Azarão com Miguel Rossetto na eleição estadual, o PT também ganhou comparativo:

– O governo de Tarso Genro foi o que mais aumentou o endividamento do estado. Usou recursos finitos, dos depósitos judiciais, para dar aumentos de salários que repercutem infinitamente na folha. A receita cresceu 8,6%, a despesa 25%. Foi um governo irresponsável, com uma política que considero equivocada de aumentar o gasto público sob a justificativa de aquecer a economia.

Leite também fez o balanço do GreNal político no corrupçômetro nacional.

– O PSDB modernizou o Brasil e, entre os grandes, tem a melhor agenda liberalizante, na economia e nos costumes. A Lava Jato apresentou problemas? Sim. Mas, pelas denúncias gravíssimas, ninguém em nosso partido está defendendo Aécio Neves, que foi presidente do partido e candidato à Presidência da República. Já nosso principal adversário tem sua principal estrela presa, mas com a candidatura ainda colocada.

Elogios, além de FHC, para sua professora Yeda Crusius, ex-governadora do 'déficit zero', a quem creditou o maior equilíbrio das contas nas últimas décadas.

 

 

Agenda liberal

 

Realista, mas sem perder a esperança.

Esse talvez seja um bom resumo para a forma como Eduardo Leite apresentou seu diagnóstico e as possíveis soluções para o desenvolvimento do RS.

Aliviando para o governo Sartori apenas ao apontar como agravante “a maior recessão da história nacional”, projetou lâminas mostrando que, entre 2002 e 2016 a receita gaúcha cresceu 3,3% frente aos 4,4% da média nacional e aos 4,6% de Paraná e Santa Catarina – estados que mais tem ‘roubado’ investimentos dos pampas.

E alertou para problemas fiscais que se agravarão pelo RS comprometer 30% da receita com a previdência (62% desse gasto com aposentados) e ser o estado brasileiro cuja população mais ‘envelhece’.

– Não podemos superestimar receitas, porque depois as despesas não cabem no orçamento. E precisamos cortar gastos, mexer em planos de carreira do funcionalismo, fazer parcerias público-privadas, privatizar e contratar organizações sociais para prestar serviços que o estado não tem o porquê, nem a especialização para, fazer. Concurso público não é garantia de experiência em nenhuma área. E meritocracia e privatização têm que deixar de soar como palavrões. É claro que não se pode entregar patrimônio sem critérios, trocar um monopólio público por um privado, e nem fechar parcerias sem estarem muito bem atreladas a resultados – disse, defendendo “um estado regulador, não necessariamente operador”.  

– Há interesse comercial em determinado serviço ou obra de infraestrutura? Privatiza ou faz concessão. Vai pagar pedágio? Sim, mas o custo para economia é menor do que uma estrada que não permite escoar a produção. Desestatizar ajuda a movimentar a economia e o retorno em impostos invariavelmente é maior que o lucro das estatais. Precisamos reduzir o ‘custo RS’.

O principal exemplo usado pelo candidato para ilustrar a vilanização das privatizações é a CEEE:

– Muitos não sabem, mas a CEEE não é dona da energia elétrica. É um serviço concedido pelo governo federal à estatal. Se o estado não aportar 2,6 bilhões para atingir as metas da Aneel, a CEEE perde a concessão.

Para Leite, o RS vive uma “crise de confiança”:

– Como não há um projeto claro e articulado de desenvolvimento, e nosso estado é pesado pelos impostos e a burocracia, os investidores não acreditam no RS. Precisamos devolver a confiança aos gaúchos e a quem quer investir aqui – disse, recitando o canto da sereia para o empresariado ao falar em redução da carga tributária.

– Pela situação terrível do estado, não é possível prometer nada abrupto. Mas é necessário. Os impostos na energia, nos combustíveis, são muito pesados.

 

: Leite é o primeiro a falar à Acigra que, conforme o presidente, está aberta a receber outros candidatos

 

Opinião

 

Apesar do jeitão de guri, Eduardo Leite mostra a experiência de políticos tarimbados ao não afastar os já tão desgastados políticos e ao prometer para “os primeiros seis meses de governo” a apresentação das principais reformas relativas ao funcionalismo, as privatizações e a desburocratização.

– É quando o governo tem o capital de apoio das urnas e antes das próximas eleições municipais que sempre mexem com os humores políticos.

Na verdade, como são medidas amargas e impopulares, verdadeiras ‘pautas-bomba’, é como em O Príncipe. Maquiavel puro:

Quando for praticar o mal, é fazê-lo de uma vez só.

Se o eleitor vai entender como um mal necessário, para não dizer urgente para um RS doente, as urnas dirão. Mas ninguém vai votar em Leite sem conhecer seu projeto. Goste-se ou não, suas ideias são muito claras. 

 

Assista entrevista que o Seguinte: fez com Eduardo Leite, onde ele responde até sobre MBL, e também com Régis Marques, presidente da Acigra

 

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