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É bom ser menina na Salvador Canellas

Alunas dos 7º e 8º anos da manhã da escola Salvador Canellas participam das reuniões mensais

Resgatar a autoestima das meninas, orientá-las para a boa convivência social – na escola, na rua e entre familiares, mostrar os riscos da exposição desmedida nos meios sociais e, principalmente, dizer que é possível, sim, às mulheres, ocupar o espaço que desejarem, dizendo um sonoro e retumbante “não” ao preconceito de qualquer espécie e às agressões verbais e físicas.

Este é o propósito do projeto “É bom ser menina” desenvolvido desde no ano passado na Escola Estadual de Ensino Fundamental Salvador Canellas Sobrinho, que fica no bairro Castello Branco, em Gravataí. O educandário tem cerca de 670 estudantes e participam das atividades do programa – reuniões mensais – cerca de 70 alunas dos 7º e 8º anos.

“É bom ser menina” foi criado pelos professores da Salvador Canellas a partir de sugestão da professora de Sociologia, Rose Freitas, depois que ela constatou um elevado índice de violência na escola, a maioria dos casos com agressões físicas e cerca de 80% das trocas de sopapos protagonizada por meninas. Elas também eram maioria nos casos de maior gravidade, tanto dentro quanto fora da escola.

Rose, professora há 28 anos e que chegou a ser titular da 28ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) entre 2012 e 2014, voltou para a escola em 2015 quando observou um índice elevado de casos de agressividade e violência. No começo do ano passado, com o apoio dos colegas, o projeto foi colocado em prática pela primeira vez.

A ideia inicial é realizar encontros mensais, no turno da aula, com participação livre das alunas e com o conhecimento e autorização dos pais. Nos encontros mensais são convidadas palestrantes para falarem sobre temas específicos, com a finalidade de esclarecer dúvidas de toda ordem, desde as relações pessoais-sociais até aspectos que remetem às relações sexuais.

— Só participa quem manifesta interesse, é adesão espontânea. Não há qualquer tipo de pressão dos professores ou direção para que as meninas assistam e participem dos encontros — diz Rose.

 

: Professora Rose Freitas detectou índice elevado de violência e idealizou projeto com as meninas

 

: Jornalista Eliane Silveira participou do encontro de quinta nos turnos da manhã e tarde

 

Menos violência

 

A professora conta que desde o início do projeto, em março do ano passado, foi possível constatar uma sensível redução no número de casos envolvendo agressões verbais e violência física, especialmente entre as alunas. Aliás, do grupo que frenquenta as reuniões do projeto “É bom ser menina”, nem todas elas tiveram envolvimento com brigas ou xingamentos ou qualquer tipo de violência.

— Desde o ano passado não registramos mais casos de agressão física e violência verbal e moral teve uma redução muito grande, caíram consideravelmente pelo que os próprios professores dizem — relata Rose Freitas.

E o projeto “É bom ser menina” pulou, literalmente, os muros da Escola Salvador Canellas Sobrinho.

— Sabemos que tem uma outra escola avaliando a possibilidade de implantar, o Conselho Tutelar já tem conhecimento do que estamos fazendo e até o juizado da Infância e Juventude de Gravataí, pelo que nos foi informado, elogiaram nossa iniciativa — conta Rose.

 

Entrevista coletiva

 

Nesta quinta-feira (29/6) a palestrante foi a jornalista porto-alegrense Eliane Silveira,  formada em fevereiro de 1991 pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) e que chegou a trabalhar no Grupo CG, ocupando o posto de editora do Correio de Gravataí em 1993 quando o diretor era Roberto Gomes de Gomes, atualmente diretor do Seguinte:.

Eliane não fez exatamente uma palestra, mas submeteu-se a uma “entrevista coletiva” em que foi sabatinada pelas 33 alunas que estavam na sala sobre os mais diversos temas relacionados a sua atividade profissional. Por exemplo, se já produziu alguma matéria relacionada ao machismo.

A jornalista respondeu que sim e explicou que a violência praticada contra a mulher é uma escada que o agressor sobre degrau por degrau. Trata-se de uma situação que começa de forma sutil, com xingamentos disfarçados, passa ao uso de palavrões, quebra de objetos dentro de casa até chegar à agressão física propriamente dita.

— As mulheres precisam saber que podem e devem evitar estas situações que não são mais admissíveis. É preciso ter consciência que qualquer tipo de agressão, preconceito ou atitude que represente violência é crime, e isso deve ser ensinado dentro de casa aos pais, aos irmãos e a todas as pessoas da convivência de vocês.

 

EM VÍDEOS

 

A professora Rose Freitas explica o projeto

 

O QUE DIZEM AS ALUNAS

 

Rafaela Paim Fabrício – 7º ano

 

 

Sara Jhesse – 8º ano

 

 

Iasmim Bernardo – 8º ano

 

 

Júlia Morgenstern – 8º ano

 

 

Kelly Santos – 7º ano

 

 

Larissa Cristiane Santos – 7º ano

 

 

A jornalista Eliane Silveira fala sobre a importância do projeto

 

 

PARA SABER

 

1

Uma em cada três mulheres sofreram algum tipo de violência no último ano. Só de agressões físicas, o número é alarmante: 503 mulheres brasileiras vítimas a cada hora.

 

2

Os dados divulgados em 8 de março passado, no Dia Internacional da Mulher, mostram que 22% das brasileiras sofreram ofensa verbal no decorrer de 2016, um total de 12 milhões de mulheres.

 

3

Além disso, 10% das mulheres sofreram ameaça de violência física, 8% de ofensa sexual, 4% foram ameaçadas com faca ou arma de fogo e, ainda, 3% – ou 1,4 milhões de mulheres – sofreram espancamento ou tentativa de estrangulamento e 1% foi atingida com pelo menos um tiro.

 

4

Entre as mulheres que sofreram violência, 52% se calaram. Apenas 11% procuraram uma delegacia da mulher e 13% preferiram o auxílio da família.

 

5

E o agressor, na maior parte das vezes, é um conhecido (61% dos casos). Em 19% das vezes eram companheiros atuais das vítimas e em 16% eram ex-companheiros.

 

6

As agressões mais graves ocorreram dentro da casa das vítimas, em 43% dos casos, ante 39% nas ruas.

 

7

Cerca de 40% das mulheres acima de 16 anos sofreram algum tipo de assédio, o que inclui comentários desrespeitosos nas ruas (20,4 milhões de vítimas), assédio físico em transporte público (5,2 milhões) e ou ser beijada ou agarrada sem consentimento (2,2 milhões de mulheres).

 

8

Os assédios mais graves aconteceram entre adolescentes e jovens de 16 a 24 anos e entre mulheres negras. Só entre as vítimas de comentários desrespeitosos, 68% eram jovens e 42% mulheres negras. Já em assédio físico em transporte público, 17% eram jovens e 12% negras.

 

9

Cerca de 66% dos brasileiros presenciaram uma mulher sendo agredida fisicamente ou verbalmente em 2016. E, em vez de o cenário ter melhorado, a sensação da maioria dos brasileiros (73%) é de que a violência contra a mulher aumentou ainda mais na última década. A maior parte das mulheres (76%) acreditam no mesmo.

 

(Fonte: Revista Exame)

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